SALVADOR E O “DÉLCIO”

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A“Délcio” era o apelido do Décio, filho do Seu Nadir que morava ali na Rua Olegário Maciel onde hoje é a CRESA. Sempre de fala mansa e cara boa, mas produzir grana, cash, bufunfa nunca foi o seu forte, gostava mesmo era do rolo (vou conjugar o verbo no passado porque há muito tempo não o vejo e às vezes ele consertou). Numa certa oportunidade o nosso herói procurou o grande amigo nosso, o Salvador Beluco, mais conhecido como Dodô pra lhe relatar suas dificuldades e onde ele, Dodô poderia lhe ajudar. Aliás o Dodô tem uma característica engraçada: sua idade é a mesma desde que eu o conheço, 33 anos. Toda vez que vejo ou escuto este número me lembro dele.

Mas certa oportunidade, o nosso herói da vez, o Délcio conseguiu com um parente uma casa em um local afastado e com uma área muito grande de lote, aí ele pensou em plantar alguma coisa. E um dia bem no Bar Brasil, de saudosa memória, se encontrou com o Dodô e comentou com ele da enorme área desocupada que havia na casa dele e ele havia pensado em plantar feijão, se o Dodô não podia lhe arrumar um pouco de feijão para que ele plantasse. E Dodô que sempre foi muito caridoso se dispôs a ajudar o Décio.

– Vai lá no Patureba que eu tenho um feijão lá que é pra dar pros meus amigos mais necessitados, mesmo. Vai lá que eu te arrumo um pouco dele.

E o nosso amigo Décio se despediu do amigo feliz da vida, conseguiu o feijão para plantar e pelo menos aquilo ele teria pra comer durante o ano inteiro. Quem sabe com um pouco de sorte ele ainda venderia a sobra e ganharia um dinheiro. Antes de sair do Bar Brasil, ele fez uma rifa de uma leitoinha que havia levado e arrumado não se sabe de onde.

Naquela época, os gaúchos que aqui em Patos já haviam chegado e muito dinheiro com lavoura estavam ganhando, mas os mesmos não negociavam com a Patureba e não se sabia por quê. Zé Ribeiro preocupado com aquela situação, propôs uma reunião ao Manezinho, ao tio Hélio, ao Marrom, ao Vicente que era o Contador e naturalmente ao Salvador Beluco. Quando os funcionários viram todo o clero reunido ficaram preocupados, pois sabiam que a situação não estava boa. A secretária-recepcionista, que havia sido contratada há pouco na firma logo já estava ciente do problema e rezava todo dia para alguma coisa acontecer e principalmente pra gauchada voltar os olhos praquela firma em que ela trabalhava. E começou a pensar o que ela poderia fazer. Mas como fazer se ela não passava de uma funcionária e não conhecia nenhum dos gaúchos e nem mesmo algum amigo deles.

Eis que justamente no dia e na hora da reunião, a secretária-recepcionista na sala de recepção da Patureba rezando e “cortando prego”, me aparece o Décio pra buscar o feijão e a citada, gentilmente o recebe:

– Pois não!

E o Décio naquela fala mansa dele, brancão e da cara boa, solta a voz:

– Fala com o Salvador Beluco que o Décio esta aqui. É só falar assim que ele sabe quem é!

E ela não acreditava que suas preces já estavam sendo atendidas, mas como não conhecia o nosso amigo gaúcho Décio Bruxel ainda tentou escapar da “má-nota”:

– Você pode me adiantar o assunto?

E o nosso acompanhado com aquele ar de quem sabe o que quer:

– É a respeito de um feijão que eu estou querendo.

A infeliz foi as alturas, mas não é que é mesmo o gaúcho? Mas Deus é bom demais pra mim, o cara já veio comprar feijão, putzgrila, que alegria!

E não se contendo entrou na sala de reunião sem bater (já pensando no que fazer com o 13º), e viu aquele clima pesado, muito cigarro e caras ruins, preocupações aos montes. E ela toda sorridente e toda fagueira já foi falando:

– O Décio Bruxel está aí fora e veio comprar feijão!

A reunião acabou na hora, o sorriso substituiu o cigarro em todos os lábios e lá foram eles recepcionar o salvador da pátria (porque o Beluco já estava dentro), Décio Bruxel. Mas quando chegaram lá, qual não foi a decepção, quem lá estava era o “Délcio”, mais do que conhecido e manjado, e que foi falando:

– E aí Dodô, cadê aquele feijãozinho “esperto” dos amigos?

* Fonte: Crônicas de Família, Amigos e Agregados (Por Favor: Não Me Deixem Rir Sozinho), de M. Debrot.

* Foto: Euamodesenho10.blogspot.com.

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