REFORMA DA RUA MAJOR GOTE EM 1983

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A1Em 1983, na administração do Prefeito Arlindo Porto Neto, a Rua Major Gote, compreendendo o trecho situado entre as Ruas Rui Barbosa e Teófilo Otoni, passou por uma ampla reforma. Como é de praxe em obras de grande porte, houve prós e contras. Na oportunidade, duas matérias com opiniões de Dirceu Deocleciano Pacheco e Oswaldo Amorim foram publicadas na revista A Debulha.

A “NOVA” MAJOR GOTE-EDITORIAL DA REVISTA A DEBULHA / DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO – 17/08/1983

Participei na semana passada de uma reunião para a qual fui gentilmente convidado pelo Prefeito Arlindo Porto Neto, onde ele expôs o plano que se deliberou chamar A “Nova” Major Gote.

Antes da exposição o Prefeito apresentou um ligeiro relatório dos seus primeiros seis meses de governo e não posso deixar de registrar aqui os meus cumprimentos, aplaudindo o nosso Prefeito e a sua operosa equipe, que em tão curto espaço de tempo, conseguiu sanear as finanças do município, colocando todos os seus pagamentos em dia, realizando um número considerável de obras nos vários setores e tendo até, uma pequena soma em caixa.

Ouvi a seguir, com atenção e até extasiado, a exposição que se resume mais ou menos no seguinte: existe um projeto desde a Administração anterior, que visa modificar a Rua Major Gote, aumentando-se em um metro a largura de suas calçadas de ambos os lados, plantando-se árvores à margem dos meios-fios, transformando-a em via de trânsito de um único sentido (Km 0 – centro da cidade) com três faixas na pista de rolamento e estacionamento em ambos os lados, para automóveis, motos e bicicletas, e isto não poderia ser realizado tão cedo, pela óbvia falta de recursos financeiros.

Acontece que a COPASA irá abrir uma valeta naquela rua, desde o seu início até o Caiçaras, para levar água tratada à Vila Garcia e outras partes altas da cidade, assumindo a referida empresa, a responsabilidade de recuperação do asfalto. Ao mesmo tempo, a CEMIG irá modificar a locação dos postes em grande parte da rua, por questões técnicas e de segurança e consequentemente, a CTBC, que utiliza os mesmos postes para a sua rede telefônica, terá que modificá-la também.

Foi então, uma questão de visão e de bom-senso da Administração Municipal, que negociou com as três empresas, no sentido de que a rede de água seja colocada à margem das atuais calçadas e de que os postes ao serem removidos, sejam recolocados com o avanço de um metro do atual alinhamento, sem que para isto haja nenhum ônus para a Prefeitura.

Assim, amanhã inicia-se este trabalho, que por certo trará muitos transtornos, muita poeira e muito barulho, durante quarenta e cinco dias, como propõem as empreiteiras ou sessenta, como prefere supor a Prefeitura.

E eu, ali, a antever a beleza de nossa principal via pública, quando surge um senão. E que senão…

Ouço que os melhoramentos somente serão feitos do Patos Tênis Clube até o antigo Hospital São Lucas, para não se tocar nos trechos onde existem canteiros centrais, pelo menos no momento, o que significa dizer que as duas primeiras quadras, a partir do KM 0 até a Rua Piauí e também daí até a Rua Rui Barbosa (onde existem os canteiros) somando quatro quadras e mais a seguinte, sem os mesmos, permanecerão como estão.

A partir daí, modifica-se a fisionomia da rua ao longo de onze quarteirões, voltando-se a conservá-la no estado atual nas três quadras seguintes, com os canteiros e também nas duas restantes até a Praça Champagnat.

Imaginando já, a rua cheia de aleijões, indaguei do Prefeito qual a razão desse procedimento e ele respondeu ser por medida de economia que se faria na recomposição do asfalto, nos trechos onde existem os canteiros e esta resposta não me convenceu e daí em diante, nem à maioria dos presentes e o Prefeito mostrou-se satisfeito, dizendo querer ver exatamente aquele apoio da comunidade que ali era manifesto.

Após a reunião, pudemos perceber também a existência de um certo receio em se eliminarem dezoito árvores existentes no primeiro trecho e treze paineiras no segundo, algumas já destruídas por um ato que o Prefeito denunciou como sabotagem.

Ora, novas árvores serão imediatamente plantadas junto ao meio-fio, de um lado e de outro, ao longo da rua? Então, que importância há em que se substituam as atuais árvores por outras? Não será apenas uma questão de tempo? E a paisagem não será muito mais bela? E não haverá uma grande melhoria e segurança para o trânsito?

Então, mãos à obra e ao machado e daqui a três ou quatro anos, novas e frondosas árvores lá estarão. Uma obra de tão grande porte, importância e beleza, não poderá deixar de ser completada por causa de duas ou três dúzias de árvores, que não serão eliminadas, mas sim substituídas. E se não for possível fazer-se o recapeamento de todo o trecho dos atuais canteiros agora, que seja apenas pavimentada a área a eles referente.

Que se execute o trabalho em toda a extensão da rua, de uma só vez. Não podemos perder esta oportunidade.

ACONSIDERAÇÃO EM TORNO DA NOVA MAJOR GOTE-REVISTA A DEBULHA / OSWALDO AMORIM – 15/09/1983

As modificações em curso num trecho da Rua Major Gote são boas ou ruins para a cidade? Coerente com minha maneira abrangente de analisar as coisas, respondo que são boas e ruins – ao mesmo tempo.

Boas, porque darão mais beleza, iluminação e árvores ao trecho, onde os pedestres e os motoristas terão mais conforto, graças ao alargamento das calçadas e criação de áreas de estacionamento – inclusive para ciclistas e motociclistas. A mão única, ponto mais polêmico das mudanças em que pese suas desvantagens (que alinharei depois), levará mais movimento às ruas Dr. Marcolino, Tiradentes e transversais, estimulando a construção de prédios nestas vias e, por conseguinte, a expansão de nosso centro comercial. No trecho modificado da Major Gote, da Rua Teófilo Otoni à Rua Rui Barbosa, o alargamento das calçadas deverá incentivar o surgimento de novos bares e a expansão dos atuais, pela possibilidade de colocação de mesas no passeio – pelo menos à noite.

Mas, principalmente pelos transtornos provocados pela mão única. E aqui é preciso considerar que a chave de tudo é exatamente a mão única, pois só ela justifica o estreitamento das pistas de rolamento, incompatível com a manutenção da mão dupla.

Por exemplo, para se ir do início da Major Gote ao fim da rua, depois de concluída a alteração, será necessária uma enorme volta, através da Avenida Paracatu, e Ruas Tiradentes e Dr. Marcolino, para citar apenas as vias que melhor se articulam para formar outra grande longitudinal, no sentido norte-sul. Hoje, para se ir de carro, por exemplo, do Bar Tabu ao Hospital Regional, basta andar pouco mais de dois quarteirões. Depois de implantada a mão única, o motorista terá que avançar até a Rua Agenor Maciel, seguir por ela até a Praça Abner Afonso, descer até a Rua José de Santana, seguir por ela até a Prefeitura, tomar a Avenida Getúlio Vargas, percorrê-la até a Avenida Brasil, seguir por esta até a Major Gote e daí ao Hospital – num percurso de mais ou menos dez quarteirões. Certamente, inúmeros outros exemplos desse tipo podem ser alinhados, para demonstrar o grande aumento do percurso provocados pela mão única. Afinal, como lembrou o popular Tio Anávio, a geometria ensina que a distância mais curta entre dois pontos é a linha reta. E a vantagem dessa linha reta chamada Major Gote fica anulada, na direção sul, pela mão única.

Naturalmente, em caso de comprovada necessidade, como a saturação do tráfego na rua, todos esses transtornos teriam de ser aceitos. Mas este não é o caso, pois a Major Gote suporta um tráfego de mão dupla ainda por longo tempo. Logo, a obra também não é prioritária.

Entretanto, mesmo não sendo prioritária, ela pode ser oportuna, em função de algum fato especial. É, exatamente, o que a Prefeitura alega, apoiando-se nas obras da Copasa para levar água tratada, através de uma nova canalização, à Vila Garcia, ao longo da Rua Major Gote, que será rasgada de fora a fora para este fim. Como a Copasa arcará com a reposição do asfalto, a Prefeitura está aproveitando o embalo para realizar aquele plano, a custo mais baixo e encaixando aí, sem despesas adicionais, o remanejamento dos postes de iluminação pública, que a Cemig iria fazer de qualquer maneira, por razões técnicas.

Muito bem: Se é para aproveitar o embalo das obras da Copasa, por que a Prefeitura não agarra esta magnífica oportunidade de substituir a velha e cada vez mais insuficiente rede de esgotos da Rua Major Gote? (pelo menos num grande trecho). Se ela não fizer isso, estará amesquinhando o próprio argumento de que se valeu para justificar as outras obras. E se arriscando a um grande vexame, se daqui a pouco a rua tiver de ser novamente esburacada para a substituição da atual rede de esgotos. Já que a Prefeitura está com a mão na massa, trate de executar também este serviço – que se não aparece quando funciona, vira escândalo quando funciona mal.

Outro problema que me preocupa agudamente é do tráfego das bicicletas, que é o transporte do operário e do estudante. Ótimo que a Prefeitura crie estacionamento específico para elas. Mas, muito mais importante do que isso, seria a criação de uma faixa para ciclistas, na nova Major Gote, na qual pudessem circular nos dois sentidos. Se para um motorista a multiplicação do percurso aborrece, para o ciclista ela é simplesmente intolerável, induzindo-o a desobediência sistemática. O que, por sua vez, acabaria por transformá-lo num marginal do trânsito.

Por último, mas não em último lugar, gostaria de destacar um ponto positivo do plano da Nova Major Gote: A decisão de limitar a mudança aos onze quarteirões situados entre as ruas Teófilo Otoni e Rui Barbosa, para não destruir a arborização existente, a partir das duas pontas – no sentido do início e do fim da rua, de um lado e outro. (no primeiro caso, talvez fosse mais correto dizer arborização sobrevivente, pelas mutilações infelizmente ali perpetradas).

Creio que este é um gesto de grande sensibilidade do Prefeito Arlindo Porto Neto que, por isso mesmo não hesito em exaltar.

NOTA: Neste projeto de reformulação da Rua Major Gote, não citado pelos missivistas, foi implantada na calçada de ambos os lados um trabalho artístico de Arminda Gomes de Carvalho com pedras portuguesas: Por meio de desenhos estilizados, parte do processo histórico de formação do município de Patos de Minas, bem como do aspecto tradicional de sua cultura econômica, a saber, o milho. A calçada mostra a ramagem do milho, ilustrado em grande parte da extensão da rua, particularmente no centro. Em suas esquinas também é possível identificar desenhos de patos, bandeirantes, tropeiros… enfim, os precursores da ocupação branca de nossa região. Este trabalho faz parte do Patrimônio Cultural de Patos de Minas. Leia mais sobre este assunto no texto “Calçada da Rua Major Gote: Patrimônio Cultural”).

* Edição do Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fontes: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto 1: Exemplo de como era a calçada antes da implantação da reforma em frente ao Hotel da Luz. A foto é de 1976, do livro Patos de Minas Centenária, de Oliveira Mello.

* Foto 2: Uma pequena mostra do trabalho de Arminda Gomes de Carvalho na esquina com a Rua Rui Barbosa. Foto de Eitel Teixeira Dannemann (15/10/2014).

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