EDITH E A VILA ROSA DE 1972 A 2001

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digitalizar0004Na vida nada surge por um acaso. A gente, parando um pouco para analisar os fatos corriqueiros do dia-a-dia, vamos sempre encontrar Deus em tudo. O que acontece é que, muitas vezes, não queremos ver nem escutar a voz de Deus dentro de nós, por nos faltar o silêncio interior. Nossa voz sempre é mais alta, abafando a voz de Deus que por ser o verdadeiro Amor é suave e até suplicante. Assim aconteceu na construção da Vila Rosa, Recanto dos Idosos.

Acabando, eu e minhas companheiras de luta, a construção da Casa das Meninas (de 1960 a 1965), continuei ajudando as Servas do Espírito Santo na sua administração até à sua saída de Patos de Minas, em 1971. Com a chegada das Discípulas de Jesus Eucarístico continuei ainda arrecadando as mensalidades junto ao povo para a manutenção das crianças.

Um dia, fui à Prefeitura de Patos de Minas para resolver um determinado problema, referente ainda à Casa das Meninas. Lá chegando, procurei o Sr. Manoel, topógrafo de uma das repartições municipais. Conversamos sobre o problema que me levava até lá e, conversa vai, conversa vem, lhe disse que aliado ao meu ideal de amparar crianças abandonadas tinha também o de construir um abrigo para idosos, porque são sempre carentes, desamparados e, às vezes rejeitados, pela saudade e até pela própria família. Depois de um certo tempo de conversa, me despedi. Assunto ficou encerrado ali. Encerrado?! Pois sim! Na outra semana pegando o nosso “Jornal dos Municípios” para ler as novidades, quase desmaiei quando li a maior delas, a maior da minha vida até então. Sr. Manoel, aquele topógrafo da prefeitura, cismou de publicar a seguinte notícia que, quase matou meus pais com um colapso: “Dona Edith Gomes vai construir uma vila para abrigar os velhinhos carentes e o povo deve apoiá-la, ajudando na realização da obra”. Fiquei pasmada ao ler a notícia, pois não havia dito que iria construir, mas que tinha vontade de construir. E ele, por conta própria, cisma de dar aquela notícia num jornal, repetindo-a várias vezes até com uma certa euforia. Como sou míope, pensei que estivesse lendo errado, enxergando pouco. Fui procurá-lo na Prefeitura para uma briguinha, para dizer-lhe que não tinha o direito de antecipar fatos ainda alimentados pela imaginação. Fui. Chegando lá, Sr. Manoel me recebeu todo sorridente, eufórico, me desarmando completamente, colocando nas minhas mãos o projeto de uma vila para executá-lo. Olhei para o projeto. Olhei para ele. Abria e fechava a boca sem dizer uma só palavra. Sorri “amarelo”. Afinal de contas, o que era aquilo? Então, ouvi dentro de mim uma voz que me dizia: “Pegue, faça. Eu te ajudarei. Conte comigo”. Reconheci ser a voz de Deus pedindo minha disponibilidade para ajudar os idosos carentes. Pensei ser fruto de minha imaginação. Mas, a voz repetia: “Aceite, faça”. Pensei comigo mesma: “E meus pais? Vão morrer com mais esta ideia, minha correria”. Mas, aceitei o projeto, chegando até a agradecer Sr. Manoel. Claro que ainda estava tonta.

Não tive tempo para pensar nas consequências que resultariam daquele trabalho, da minha responsabilidade. Que pensariam o Ângelo, meus pais, principalmente mamãe que, sem querer, era envolvida nos meus trabalhos, me ajudando a zelar da minha filha Myriam, agora com 4 anos? A reação deles me apavorava. Ninguém me dava tempo para medir a água com farinha. O povo, já acostumado me ver na luta pró Casa das Meninas, me questionava! “Quando vai começar a construção da Vila?”. As Discípulas de Jesus Eucarístico me perguntavam: “Vai nos deixar agora?”. Não sabia o que responder. Olhei para um ponto do céu, procurando Deus e disse: “Agora, me ajude. O que devo fazer?”. Não pedi a Ele por favor. Já dava à Ele uma ordem aparentemente atrevida, mas, pelo contrário, confiante. Colocava-me, naquele momento, mais uma vez, nas suas mãos. Ele deveria segurá-las com firmeza e guiar meus passos a partir daquela entrega. E com esta confiança em Deus, enfrentei meus pais, Ângelo, abracei minha filha fortemente e comecei meu trabalho.

A partir de então tudo foi aparecendo na hora certa. Ângelo Borges de Melo, meu esposo, foi o primeiro a me ajudar, a me dar força, pois era proprietário de um loteamento e me doou 3.393 m² de terra para edificar aquela obra. Sim, era mais uma realização de um sonho meu, em parceria com Deus.

Contratei para executar o serviço um pedreiro modesto mas, bom, com preço módico, Sr. Antônio de Oliveira, conhecido por “Gatinho”. Conversamos e nos entendemos. Tive a ousadia de fechar o empreito sem uma moeda no cofre. A esta altura, 1972, deixei a Casa das Meninas já estruturada, manutenção segura. Vi que não necessitavam mais do meu trabalho, da minha presença. Parti para execução de outro projeto: Vila Rosa.

Comecei com as minhas caminhadas, pedindo ao povo seus donativos, como fiz no tempo da Casa das Meninas. Só que, por circunstâncias diversas, não trabalhei em equipe mas, sempre sozinha. Até então meus pais estavam à beira de um enfarto, horrorizados com mais uma reprise de construção na minha vida. Eles alegavam que eu me envolvia demasiadamente com o trabalho e isto me prejudicava muito. Realmente me envolvia mesmo.

digitalizar0003Comecei indo de porta em porta para bater mais uma vez na porta dos corações da minha gente, da mesma gente que ajudou a construir a Casa das Meninas, em fase de franco funcionamento. O dinheiro ia aparecendo, doações de materiais eram feitas e a construção começou e não parou mais. Mas, quando chegava sexta-feira, meu coração pulava e eu então dizia para o meu “Parceiro”: “Não se esqueça de que amanhã é dia de pagar o pedreiro, viu?”. Sábado, cedo ainda, chegava o “Gatinho”, todo humilde e com dó de mim, dizendo: “Tem dinheiro, hoje, D. Edith?”. Respondia com um sorriso amarelo: “Só um pouquinho”. Ele compreendia e recebia aquilo que podia dar.

O projeto inicial da Vila constava de 8 casas geminadas, formando dois pavilhões com 4 casas cada um, separados por um galpão semi-aberto, que servia para reuniões e eventos diversos. Cada casa possuía 1 quarto para 2 camas, uma salinha de visita, uma cozinha com pia, fogão a lenha, um banheiro com vaso sanitário, lavatório e chuveiro e uma pequena dispensa com prateleiras chumbadas na parede. O piso era de cimento grosso, pois deixaria de ser escorregadio e as casas não eram forradas. Na frente de cada casa, que tinha uns 8 a 10 metros de frente, uma área fechada com muro para o Idoso fazer um jardim ou uma horta. Cada pavilhão tinha sua lavanderia com 2 tanques. Cada pavilhão recebeu mais tarde um nome, como uma homenagem de gratidão: D. José André Coimbra, Bispo de Patos de Minas, meu grande amigo e Sr. Ilídio Caixeta de Melo, avô de Ângelo, meu esposo, que passou sua vida ajudando os pobres.

Feito o alicerce, levantadas as casas, depois de caminhadas quilométricas, pedindo esmolas, utilizando a Rádio Clube de Patos para um programa radiofônico meu, utilizando as colunas dos nossos jornais, não só para pedir, mas para dar notícias e fazer relatórios de prestação de contas, consegui construir uma bonita gruta, na parte lateral do terreno, toda de pedras de córrego e rio, projeto do saudoso amigo Dr. Paulo Roberto Borges que, depois de pronta, abrigou as imagens de Nossa Senhora de Lourdes e Bernadete, doadas pela mina amiga e companheira na construção da Casa das Meninas, D. Natalícia Rodrigues Borges, já falecida. Ainda me lembro bem de quando Ângelo e eu fomos à beira do rio, selecionando pedras, colocando-as nas latas de 20 litros, transportadas por uma caminhonete, e levadas como um tesouro para o local onde deveria ser construída, a fim de abrigar nossa boa Mãe, a Virgem Maria. Hoje, aquela gruta está lá, linda como fora feita, encardida pelo tempo já passado. É o cartão de visita da Vila Rosa. Isto tudo aconteceu dentro do ano de 1972.

Meu tempo era todo dedicado àquela construção e me sentia feliz vendo a obra nascer e crescer. Esquecia o cansaço. A vinda de um outro dia era sempre um recomeçar de luta. Sabia que, fazendo da minha parte, não me omitindo, Deus estaria comigo. E sempre me conscientizei disso. Quando terminei a construção, antes de inaugurá-la, tive a preocupação de equipá-la, modestamente, é claro! No quarto, 2 camas tipo estrado, com os colchões, colchas, travesseiros e cobertores. Sobre cada cama um quadro com duas mãos postas, em sinal de prece e agradecimento, desenho da pintora D. Terezinha Couto. Na sala, uma mesinha quadrada com 4 tamboretes, 1 pedra com 1 filtro d’água. Na cozinha outra mesinha, fogão a lenha, mais dois tamboretes, algumas panelas. Na despensa, 1 prateleira. No banheiro, completo, mandei chumbar um cano na parede, como se fosse porta toalha, como segurança para o Idoso para que, na hora do seu banho, pudesse se apoiar. Um vaso sanitário, um lavatório, 1 chuveiro e um espelho. Cada porta principal da casa tinha uma chave num chaveiro, escrito o seu número e o nome da Vila.

Apesar da Vila não ser cercada por muros de alvenaria e sim de arame farpado, em 15 de agosto de 1973, dia da Assunção de Nossa Senhora e, por coincidência, aniversário de minha mãe, um ano do início da sua construção, ela foi inaugurada com a celebração de uma missa festiva, rezada pelo saudoso Padre Almir Neves de Medeiros. A Vila estava situada num pequeno deserto, quase sozinha, sem vizinhos, longe do Centro. Tive o cuidado de fabricar setas de madeira indicando o caminho de como chegar até lá, desde o Centro até à Vila. Consegui um ônibus que ficou à disposição do povo. A inauguração foi emocionante. A Banda de Música de Presidente Olegário, regida pelo Maestro Zico Campos, já falecido, compareceu para alegrar as solenidades. Entre fogos e aplausos, tocava sempre a música de Roberto Carlos, “Obrigado Senhor”. Como recepcionistas, presentes em cada casa para mostrarem suas dependências aos visitantes, convidei as alunas do Colégio Nossa Senhora das Graças, que compareceram uniformizadas. Durante a cerimônia, Ângelo e eu fizemos oficialmente à Sociedade de São Vivente de Paulo a doação daquela Vila que não apenas nós, mas o povo também fez. Depois que tudo terminou, quando eu, Ângelo, minha filha e meus pais fomos embora, a Banda de Música nos acompanhou até minha casa e na varanda da mesma tocou pela última vez “Obrigado, Senhor”. Não me contive de emoção, chorando como uma criança.

A Vila, através da doação feita à Sociedade São Vicente de Paulo, não me pertencia mais a partir daquele instante. No entanto, não a abandonei, trabalhando com muito amor por ela e seus idosos. Como a Vila não tinha água encanada, construí dois reservatórios grandes, com 2 caixas-d’água, que eram enchidas diariamente pelos caminhões da Prefeitura. Aos poucos, tudo foi se normalizando, inclusive a ligação de energia elétrica nas casas. Com o passar dos tempos, a cerca de arame farpado foi substituída pelo muro pré-fabricado. De 1973 a 2001, reformei a estrutura física por 3 ou 4 vezes. Sempre com o mesmo entusiasmo, mudando seu visual, servindo simplesmente como voluntária e sempre com a ajuda do povo. Em 1974 foram construídas mais duas casas na lateral esquerda, doadas pelas Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora, e feita a reforma de mais uma casa, com a lavanderia. Outra casa fora doada pela Sra. Patrícia Pereira, em 1999. Numa outra reforma foi trocado o telhado de todas as casas, construída uma nova rede de esgoto. Várias vezes, as treze casas e a capela foram pintadas. Aquele galpão semiaberto foi fechado com paredes, basculantes e porta de vidro. Transformou-se em salão de festas e Capela, com uma divisão para sacristia e consultório médico, com atendimento do Dr. Benedito Alves de Oliveira. Em novembro de 1999 até maio de 2001, fiz uma reforma, pelo meu pedreiro oficial, Sr. Nilton Teodoro da Silva, conhecido por “Pacu”. Anteriormente, obtive ajuda do pedreiro Josué (Vicentino). As janelas das casas, de madeira, foram substituídas por venezianas corrediças com vidro, doação do Rotary Clube de Patos Guaratinga e Casa da Amizade. As portas já haviam sido mudadas também por venezianas. Os fogões de lenha, substituídos pelos de gás.

digitalizar0001 - Cópia122 metros de muro de alvenaria e ferro, com 1,80 m de altura oferecendo mais segurança, cercaram toda a Vila, substituindo os pré-fabricados. Aumentei e inaugurei a Praça da Gruta, que recebeu o nome de Imaculada Conceição. As casinhas foram pintadas com cores vivas, verde, amarela, azul e rosa, ficando bem alegres. Uma passarela foi feita pela Prefeitura, na gestão de Elmiro Nascimento, indo até a Gruta, com canteiros laterais e muitas folhagens plantadas. Várias placas de agradecimento ao povo, foram colocadas em muretas, trazendo os nomes dos benfeitores.

Foram colocados no pátio interno 6 postes, doação e mão de obra da Eletro Santa Clara e Zeta Postes. Para eles, colégios e voluntários, Sras. Beatriz Mendonça Tiveron e Estelita Maria do Carmo, outra placa oferecida em agradecimento, pelas reformas das casas. Nela agradeço também as participações do Rotary Clube, repartições públicas, bancários etc.

Durante a última reforma, fiz um trabalho que para mim foi muito gratificante: a campanha do R$ 1,00 com os alunos dos colégios de Patos de Minas. Além de ajudarem com muita compreensão e alegria, visitaram e conheceram mais de perto a vida de um idoso. Convivendo momentos com eles, as crianças aprenderam, um pouco, o sentido da caridade. Foi muito válida esta experiência.

Os idosos, para habitarem a Vila Rosa, têm de passar por uma sindicância feita pelos confrades Vicentinos, levada aos presidentes de suas conferências que, por sua vez, levam o parecer para ser discutido e resolvido pelo Conselho Central da Sociedade de São Vicente de Paulo. Uma vez comprovada a necessidade do idoso ser amparado pela Vila, ele será para lá encaminhado. Se é aposentado, sua manutenção é feita por ele mesmo. Se não, recebe o vale alimentação do Dispensário. O Vicentino dá assistência espiritual aos idosos, levando a sua palavra amiga, às vezes, rezando o terço, encorajando-o ou quando necessário, em caso de doença, por exemplo, leva-lo ao hospital. Durante seis anos consegui assistência médica domiciliar e gratuita, através da caridade do Dr. Benedito Alves de Oliveira que ia avalia-los, uma vez por semana, receitando, examinando, encaminhando aos hospitais para internamentos, quando os casos eram mais graves. Dr. Benedito Alves, como um fervoroso cristão e muito humano, sensível às necessidades dos que sofrem, tinha um carinho todo especial para com eles.

Vila Rosa não serviu apenas aos idosos que por lá passaram e os que lá se encontram. Abriu as portas de seu singelo salão à Comunidade Vicentina para suas reuniões e à comunidade do Bairro Vila Rosa, para seus eventos. A Comunidade Santa Rosa de Lima, que organiza lá as celebrações das Missas, a catequese de dezenas de crianças, o encontro de jovens. Outras associações sempre tiveram acesso a esse lugar.

Notando que a alimentação estava muito deficiente, resolvi trabalhar neste setor e no da saúde. Formei uma equipe que recebeu o nome de “Equipe Viver Bem”. A sua finalidade é reforçar a alimentação diária dos residentes com uma refeição adequada, rica em vitaminas, proteínas, cálcio. Procurei meus amigos de sempre e desde março de 2001 está em pleno funcionamento. Eles contribuem mensalmente com um donativo de acordo com as possibilidades de cada um, faço eu mesma a arrecadação e compro, de 15 em 15 dias, o necessário para abastecer a despensa de cada idoso, com o leite, verduras, legumes, frutas, produtos dietéticos, carne e pães, que a Panificadora Nova Vesúvio entrega às 2.ª e 6.ª feiras. O arroz, feijão, açúcar, café, macarrão, óleo, gás, material de limpeza e higiene, eles compram com sua aposentadoria incluindo remédios ou algo necessário. Quando o orçamento mensal permite compro caixinhas de pudim e gelatina para os diabéticos, adoçantes, doces para os que podem comer. Isto é imprevisível. Esta equipe muito tem me ajudado na saúde dos idosos. Fazem parte os benfeitores:

digitalizar0004 - CópiaAna Maria de Deus Borges, Ângelo Borges de Melo, Antônio Diógenes da Rocha, Apolinário Mendes de Andrade, Astrogilda de Queiroz Corrêa, Baltazar Dias, Beatriz Inêz Mendonça Tiveron, Canuto Lataliza França, Cleuton Magno Custódio, Coraci Affonso de Castro Alves, Cristiano Rubinger de Queiroz, Décio Bruxel, Dinah Boaventura Queiroz, Edna Carvalho Urban, Elmiro Alves do Nascimento, Geralda G. da Conceição Fonseca, Gerson Amorim, Eliana Bitencourt de Castro Teixeira, Helder Silveira, Humberto Eustáquio Couto, Instituto das Irmãs Sacramentinas (CNSG), José Humberto de Andrade, José Jorge de Almeida, Lions Clube de Patos de Minas (cadeiras de roda), Madalena Castro Di Donato, Márcia Resende Nunes, Maria Almira Mesquita, Maria Luiza Horta Palhares Pereira, Maria Telma Lemos Xavier, Marília Corrêa de Almeida, Nelci Queiroz Araújo, Neuza Rosa Ribeiro, Paulo César Domingues, Sueli Tavares Gontijo Vieira, Vicente de Paula Caixeta, Waldemira Borges Brito e Filhos.

Mensalmente visito estas generosas pessoas e graças a elas está sendo possível os Idosos levarem uma vida menos apertada. Outras pessoas generosas também cooperam esporadicamente: Alderico Mendes, Gilmar (gerente do Sacolão Center), Severo Queiroz, Supermercado Moderno, Panificadora Nova Vesúvio, Terezinha Boaventura Gontijo, Sindicato Rural, Ditrasa e outros. Dra. Kátia Lima Paião, nutricionista, nos orienta quanto à alimentação, visto termos idosos portadores de diabete e com colesterol alto. Graças à generosidade da Enfermeira Chefe do Centro de Saúde “André Luiz”, Maria de Fátima Caixeta, e a bondade do médico Dr. José Satiro, temos recebido uma atenção especial através da autorização rápida dos exames para os idosos da Vila. Por sua vez o “CEPAC”, através dos amigos Israel e Geraldo, coopera, cedendo uma enfermeira que vai até a Vila colher o material para os exames que são pagos pelo SUS.

Uma só coisa de real importância falta na administração da Vila: colocar um casal lá para zelar mais de perto, servir, socorrer os idosos nas horas críticas, durante 24 horas. Lá, eles se encontram praticamente sozinhos, sem um socorro imediato, se encostando um no outro, cada qual mais idoso. São 99% analfabetos. E, não sabendo ler, por exemplo, uma receita, pode causar até acidentes, tomando erradamente um remédio receitado. Não têm destreza necessária. Não têm uma diversão mais estimulante, um artesanato, aproveitando a aptidão de cada um. O que acontece então? Ou ficam dormindo ou vendo televisão. Não tem quem os oriente a tomar um sol pela manhã, fazer uma pequena caminhada, mesmo dentro da Vila, para melhorar a circulação de cada um. Este é um apelo que sempre faço à Sociedade de São Vicente de Paulo e torno a fazê-lo neste momento. Espero que, um dia, que não seja tarde demais, surja uma liderança neste sentido e esta lacuna seja preenchida.

Apesar do povo de Patos de Minas ter carinho pelos idosos, faz-se mister lembrar que, embora estejam bem amparados, numa casinha com certo conforto, não podemos nunca esquecer que Vila Rosa é um ponto final de vida. Aqueles sorrisos que vemos nos lábios de cada um, alegres ou tristes, são como um ensaio nos últimos degraus de uma vida. No íntimo, apesar de todo nosso esforço, os idosos sentem solidão, angústia, um enorme vazio. Isso é natural, pois onde estão suas famílias? Seus filhos? Onde está sua liberdade? Seus desejos próprios? Sua saúde? Seus sonhos? Como será seu dia de amanhã? Com quem poderá contar? Incertezas… incertezas… Conheceram o passado, vivem o presente amenizado por nós mas… e o futuro? O que estará reservado para cada um? São perguntas misturadas com o medo de uma resposta. São perguntas que fazem dentro de si mesmos, e que nunca obtêm uma resposta.

* Fonte: Do Nascer ao Por do Sol, de Edith Gomes de Deus Melo.

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