JOSÉ AMÂNCIO FILHO ATÉ 1996

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DSC01891José Amâncio Filho é patense, nascido em 10 de setembro de 1907, filho de José Amâncio da Silva e Jesuína da Conceição de Brito. Pertencente a uma família numerosa (sete homens e cinco mulheres), foi aluno do Grupo Escolar Marcolino de Barros, onde cursou até o 3.º ano primário. Na época sentindo-se desmotivado para continuar estudando, preferiu trabalhar na oficina do pai, que já fabricava carrinhos de madeira e outros brinquedos. Essa decisão torna-se fácil de ser entendida diante de suas palavras: “Nasci em meio aos cavacos de madeira. Meus avós e meus pais sempre estiveram neste ramo. Nossa oficina era na Rua Dr. Marcolino, esquina com Silva Guerra. Mau avô fazia silhão de madeira (montaria de mulher), e meu pai, carroças, rodas de fiar e teares”.

Seus brinquedos preferidos eram os carrinhos de boi, estilingue para matar passarinho e papagaios. Na grande oficina, o menino Amâncio e seus irmãos desfrutavam do espaço que lhes dava a liberdade de brincar e criar os próprios brinquedos. Mas seu pai sempre dizia: “Saiu da escola, não quer estudar, vai trabalhar”. Por isso, aos 14 anos, sem ordenado José Amâncio ingressou na profissão. E não mais parou, até hoje. São 75 anos de atividade ininterrupta, sem férias, sem mudar de ramo: “Fiquei moço e já aos 17 anos começou minha independência”. Casou-se com Marieta Bonfim Amâncio e os dois tiveram 4 filhos (Edgar, Hélida, Edson e Carlos), que por sua vez lhes deram 9 netos e um bisneto.

O velho José Amâncio, pai, possuía uma pequena lavoura em terrenos da fazenda de Manoel Queiroz, morador na Serra dos Queiroz, onde eram plantados o milho, o arroz e o feijão que garantiam o sustento da família. Mas José Amâncio Filho, já com 22 anos, sentia a necessidade de realizar seu próprio trabalho, e para isso tratou de construir uma oficina onde pudesse criar suas peças. Essa oficina, a “oficina dos Amâncios”, ficava situada na Rua Farnese Maciel, esquina com Dr. Marcolino, no local onde hoje está construído o prédio Residencial Mediterrâneo. Nela passaram a ser produzidas rodas de fiar, carroças e carrocerias, cadeiras, tamboretes, obras de torno e rodas de madeira para automóveis, essas encomendadas por José de Brito. A razão de ter ficado conhecida a oficina “dos Cariocas” é revelada por José Amâncio Filho: “Minha avó Maria Pereira veio do Rio de Janeiro, juntamente com sua irmã Rita, para uma apresentação teatral aqui em Patos. A peça foi uma decepção e por isso Rita voltou para o Rio, mas minha avó aqui ficou. Ela era clara, de olhos azuis, descendente de holandeses, e por isso todos a chamavam de ‘a carioca’. Daí veio o nosso apelido e o nome da oficina”.

Todo trabalho realizado na oficina era manual, uma vez que não existiam máquinas: “Ali trabalhavam meu pai, meu tio Salvaget e nós, os irmãos, eu, Vicente, Otávio, Alberto e Adnor. Comerciávamos com toda a região ao redor de Patos e grande parte das rodas de fiar iam para Goiás. Produzíamos a média de 200 rodas por mês, usando madeiras nobres como jacarandá, bálsamo e cedro”.

Foram 25 anos de excelentes serviços executados. Mas a construção de Brasília interferiu nos negócios e o povo de Goiás, aguardando o término da nova capital, desinteressou-se das rodas e teares, passando a embalar novos sonhos. Muita coisa foi alterada, modificada, com hábitos e costumes sendo adaptados a uma nova sistemática de vida. Diante das circunstâncias, José Amâncio também mudou. Primeiro, de endereço, passando a trabalhar na Praça João Senhorinho. Depois, com a instalação de maquinário novo, ligado na eletricidade. Foram mais 22 anos de labuta, já aí contando com a colaboração dos filhos Edgar, Edson e Carlos na produção de rodinhas de fiar e teares em miniatura, bilboquês que se tornaram famosos, vendidos para os alunos das escolas, além de piões e piorras. Essas lindas peças, resultantes do aprimorado e delicado trabalho de torneamento da madeira, foram remetidas para todo o Brasil, em larga escala, durante muito tempo.

O artista fala de seu trabalho: “Vendi a oficina, e hoje trabalho em casa, com meus filhos Edson e Carlos. Edgard já é falecido. Hoje estou aposentado… gosto de tudo que faço… aqui constituí família e criei meus quatro filhos. Foi compensador o que meu pai me deixou. Exemplo de trabalho, honestidade e união. Continuo honrando seu nome. O homem deve ter uma profissão, seja ela qual for. Quem não aprende é escravo de quem sabe”.

José Amâncio comenta sobre os Irmãos Cariocas: Vicente Amâncio era o chefe de produção. Foi um grande homem, simples e de muita humildade; Otávio Amâncio (falecido), divisão de armação e montagem das peças. Seu filho, Antônio Amâncio, mantém ainda uma oficina na Rua Barão do Rio Branco; Alberto Amâncio (aposentado), sua função na oficina era comprar o material necessário para o trabalho; Adnor Amâncio, o mais jovem, reside hoje em Brasília. Era o maquinista e trabalha ainda no ramo; José Amâncio, o grande maquinista, o torneador. Daqueles gabaritos surgiam peças e peças das mais variadas. Uma verdadeira arte maquinada no comando das hábeis mãos. 75 anos de trabalho, amor e dedicação.

Ao Sr. José Amâncio, todos os seus irmãos e descendentes desta numerosa família, a nossa homenagem de gratidão pelo exemplo de trabalho e grande contribuição ao nosso folclore, na fabricação dos teares e rodas de fiar, que hoje já começam a desaparecer.

* Fonte e foto: Texto de Marialda Coury publicado na edição n.º 09 do jornal O Tablóide de 01 de setembro de 1996, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

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