VALORIZANDO AS PRAÇAS

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

Ilhas de lazer dentro da teia urbana, as praças ajudam a embelezá-la e humanizá-la. Respiradouros das cidades, cada vez mais oprimidas por esse insaciável monstro de metal, que é o automóvel, e pela pantagruélica fome de espaço dos edifícios, as praças são a parte lírica da cada vez mais prosáica trama urbana. São pontos de encontro. São estuários onde desaguam a necessidade de se ver e se falar das pessoas.

Ali, todo mundo se encontra com todo mundo: o conhecido com o conhecido, o amigo com o amigo, o namorado com a namorada. Gente de todas as idades: bebês levados pelas babás, bandos de garotos, grupo de rapazes, velhos que trocam lembranças nostálgicas.

Por tudo isso, as praças desempenham ampla função social. E por tudo isso também merecem todo cuidado por parte das administrações, embora, infelizmente, isso nem sempre aconteça. Menos por falta de recursos do que de compreensão da verdadeira importância das praças.

À propósito, já é tempo de se olhar para a eternamente esquecida praça da Saudade, junto ao cemitério, cobrindo sua feia nudez com um belo manto vegetal, feito de árvores, gramado, flores e folhagens. Isso a fará ao mesmo tempo mais vistosa e aprazível, boa de se ver e se estar.

A atenção é tanto mais necessária quando se recorda que ela é uma das maiores praças da cidade e situada numa área onde elas inexistem e, dessa forma, fazem ainda mais falta. (Como tenho lembrado com instência, só o núcleo antigo de Patos é bem servido de praças pela simples razão de que os antigos foram mais generosos e previdentes ao riscar a cidade).

A praça da Saudade (dou-lhe o nome que inexplicavelmente se tirou ao Cemitério) merece um bom tratamento paisagístico, capaz de transformá-la numa nova atração da cidade. Mas certamente não merece que se encrave ali uma capela mortuária, como pretendem algumas pessoas bem intencionadas e mal inspiradas. Praça é local de vida: nunca de morte. Deve ser um lugar ameno e agradável, bom para se conversar ou descansar. A capela mortuária iria comprometê-la irremediavelmente, por mais que se tente dourar a pílula.

Uma praça não deve sugerir nunca a triste calmaria dos cemitérios, mas a saudável tranquilidade dos parques.

Ao fim e ao cabo, por tudo de bom que as praças representam ou possam representar, seus espaços devem ser sagrados. Mesmo que se trate de áreas esquecidas (como a praça da Saudade), cumpre preservá-las a todo custo. Se o espaço existe, sempre existirá com ele a possibilidade de uma boa urbanização, com o plantio se árvores, gramados, flores e – se a área comporta – equipamentos de lazer, como campos de esporte e parques infantis.

Difícil mesmo é a criação de uma praça numa área edificada, pelo alto custo das desapropriações.

Por isso mesmo, as áreas para praças têm de ser asseguradas nos novos loteamentos. Sem permitir, como a Prefeitura vem fazendo há tempos, com incalculáveis prejuízos para a cidade, a pulverização dessas áreas em mini-praças – quase sempre na periferia dos loteamentos, com formas e topografias irregulares, numa lamentável inversão de valores, já que as praças deveriam ocupar sempre as partes mais nobres desses espaços.

As praças existem para as pessoas passearem e não para os automóveis contornarem. Assim, uma praça de porte, com árvores, gramados, bancos, campos de esporte, e “play-ground” (ou com espaço bastante para tudo isso), vale muito mais para a cidade que um punhado de pracinhas, dessas que só servem para o carro fazer a volta.

Para se compreender o que estou dizendo, basta comparar a praça dos Bandeirantes com a Praça Dom Eduardo. Ou a praça Sete com a praça da Liberdade, em Belo Horizonte, com um explêndido aproveitamento, em termos de lazer. O bom exemplo citado merece uma reflexão: a praça da Liberdade certamente não teria a importância que tem, se em vez de plana e retangular fosse acidentada e de formato irregular. É preciso, ainda, que elas estejam à deriva das grandes correntes de tráfego. Neste ponto também vale comparar a praça da Liberdade com a praça Raul Soares, de excelentes dimensão e topografia, mas ilhada por fortes correntes de tráfego.

Conscientizada da vantagem de praças de porte – de formato regular e boa topografia – sobre as sub-praças, nas “rebarbas” do loteamento, a Prefeitura deve vetar, daqui para a frente, essa inconveniente pulverização das áreas verdes, dando sempre preferência à criação de uma praça maior em lugar de duas ou três pequenas.

Para se alcançar esse objetivo, a Prefeitura pode instituir um sistema de reunificação de áreas verdes de dois ou vários loteamentos contíguos. Assim, por exemplo, um grupo de cinco pequenos loteamentos podem contribuir para a formação de uma praça de certo porte, em vez de cada um fazer uma praça minúscula.

O mesmo sistema poderia ser empregado, inclusive, para a criação de parques – com imensos benefícios para a cidade e até mesmo para os loteadores, tendo-se em vista a extraordinária valorização dos loteamentos, provocada por um melhoramento deste porte.

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 83 de 31 de dezembro de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Afabricadedesenhos.wordpress.com, meramente ilustrativa.

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