CHILON GONÇALVES ATÉ 1997

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O “nosso” Chilon Gonçalves nasceu em Serra do Salitre no dia 30 de dezembro de 1910 e essa data nos permite dizer que ele foi um presente especial que o Criador concedeu ao povo de nossa região. Seus pais, Gerôncio Gonçalves e Maria Elisa Gonçalves, tiveram muitos filhos: Amélia, Boanerges, João Evangelista, Ziza, Elisa, Samuel e ele, Chilon, que casou-se em 23 de janeiro de 1936 com Olivia Guimarães Gonçalves, e também não fez por menos: Hely (falecido), Marlindo, Janes, Wanderli (falecido), Carlos e Junelena são os seus descendentes. Mas é Chilon Gonçalves, Cidadão Honorário de Patos de Minas, membro fundador do Rotary Clube de Patos de Minas e honorável Juiz de Paz da Comarca quem nos conta sua história:

“Meus pais moravam na Serra do Salitre, onde passei minha infância. Lá estudei até o 3.º ano primário, tendo como mestres, entre outros, Andalécia Lana, por sinal minha primeira professora, na escola mista, e Lindolfo Gonçalves, que foi meu professor de matemática. O 4.º ano primário foi feito em Patrocínio”.

“Sempre fui trabalhador. Meus pais mudaram-se para cá mas eu continuei em Serra do Salitre, trabalhando num Ford 25 comprado de Lafaiete Pacheco. Somente em 1944 foi que vim para Patos de Minas”.

“Aqui cheguei já de máquina na mão, a serviço da fotografia. Trabalhei na porta da antiga Igreja Matriz, hoje demolida, e nas festas de Santo Antônio, de N. Sra. do Rosário, as pessoas faziam fila para serem fotografadas. Nessa época o povo vinha de carro de boi, pernoitando nas proximidades do Largo”.

“Comprei do Zé Amador e José Jorge Neto a loja que funcionava na rua General Osório, e ali nasceu o Foto Lux Chilon. Permaneci naquele lugar durante 17 anos e depois fui para a rua Major Gote, para o local onde funcionou antigamente a Rádio Clube de Patos e hoje se encontra o Banco Mercantil do Brasil”.

“A fotografia é uma cultura muito grande. Foi, é e continuará sendo uma grande profissão. Trinta pessoas aprenderam comigo a arte de fotografar, inclusive meu pai e meus irmãos Boanerges e Samuel”.

“No meu casamento tirei um filme inteirinho, revelei e coloquei os negativos para secar. As aranhas que haviam no cafezal vizinho vieram e comeram o material químico das chapas ainda molhadas. Por isso eu não tenho condição de deixar para a posteridade qualquer lembrança do meu matrimônio”.

“Comprei para meu pai uma máquina fotográfica que pertencia a Oscar Pacheco, ensinei-o a usá-la e um mês depois vim a Patos. Ele já era fotógrafo, dono da loja “Foto Gerôncio”.

“Meus irmãos Boanerges e Samuel também trabalharam anos e anos. Todos meus filhos são e foram fotógrafos: Hely (falecido), Marlindo, Janes, Wanderli (falecido) e Carlos, o mais novo dos homens”.

“Não vou a festa alguma sem a minha máquina. Também adoro fotografar as paisagens da cidade. Outro dia eu subi no terraço do Center Patos Hotel e de lá de cima tirei fotos belíssimas”.

“A melhor foto foi tirada há 20 anos. Fui trabalhar em uma festa de casamento perto da Casa das Meninas e estava armando muita chuva. De lá a gente avistava toda a cidade e eu tive a felicidade de bater uma chapa no justo momento em que um relâmpago iluminava toda a área próxima à Catedral. Essa fotografia foi considerada por um professor de astrologia, viajante que por aqui passava, como uma foto perfeita, pela beleza do momento registrado”.

“Fiz fotos muito curiosas, como a de um galo de três pés e um porco de duas cabeças. O professor e historiador Oliveira Mello possui um grande acervo de meu trabalho”.

“Aprendi a pilotar em 1948. Em 1950 tirei o brevê (documento de habilitação para piloto), em Paracatu. O campo de aviação em Patos começava onde é o Depósito de Madeiras Simone, na esquina de rua Doutor Marcolino com avenida Brasil. Fui aluno do Vicente do Inhaque, meu grande amigo. Um dia fui voar com meus filhos com meus filhos pequenos, o Hely e o Marlindo. Subi a quase 500 metros e logo veio o enjôo nos meninos. Aí eu disse: – ‘Marlindo, não vomite no avião novo do aeroclube’, e ele obedeceu. Quando descemos, corri para retirá-los. O Marlindo havia vomitado tudo na mão e ficou segurando, com medo da bronca do pai”.

“Hoje eu tenho o prazer de ver a cidade crescer, pois ela ficou progressista. Envaideço-me com isso, pois sei que aqui eu sou muito querido. Meu pai viveu em Patos de Minas até seus últimos dias, sou o pioneiro na arte da fotografia e o Foto Lux Chilon ainda está aí, com meu filho Marlindo. Ensinei a meu pai, meus irmãos e meus filhos e eles ensinaram a meus netos. Comecei nas portas das igrejas e devo tudo a esta terra, da qual sou Cidadão Honorário, com muito orgulho e muita honra”.

A história de Chilon Gonçalves é muito bonita. São 63 anos de tradição no campo da fotografia, registrando detalhes da vida de Patos de Minas, cidade que um dia acolheu sua família. O tempo passou, mas a memória histórica de nosso povo registrou o trabalho do cidadão em sua busca incansável do belo, da imagem perfeita que resguardasse nossas raízes, nossos costumes, nossa maneira de ser e de viver, nossos instantes de dor e alegria, de felicidade e tristeza. Aqui fica para Chilon Gonçalves a homenagem e a gratidão deste Gente da Gente, que é o que nosso Cidadão Honorário representa para a multidão incontável dos que tiveram o privilégio de conviver com ele.

NOTA: Chilon Gonçalves Guimarães faleceu em 22 de julho de 2004.

* Fonte: Publicado na coluna Gente da Gente, de Marialda Coury, na edição n.º 24 de 29 de março de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 12/08/2016 com o título “O Eterno Chilon”.

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