CASO ANÍSIA GASPARINA FONSECA (MISS BRASÍLIA) EM 1967, O

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

AA patense Anísia Gasparina Fonseca, aos 20 anos, foi eleita Miss Brasília de 1967 no dia 11 de junho e ficou em 4.º lugar no concurso de Miss Brasil do mesmo ano. A revista Manchete n.º 793 de 1.º de julho de 1967 fez uma reportagem sobre ela, intitulada “Pobre Menina Miss”, onde conta que Anísia foi empregada doméstica e que cozinhava muito bem. Sua mãe, Dona Raimunda, era lavadeira e a família morava num barraco de zinco na cidade satélite de Taguatinga. Anísia era arrimo de família. Houve um concurso com nove candidatas para a eleição da Miss Clube Área Alfa, que congregava oficiais e praças da Marinha de Guerra. Na edição seguinte da revista Manchete, a de número 794 de 8 de julho de 1967, há outra matéria sobre Anísia, desta vez noticiando que ela havia ganho uma “casinha” dada pelo Prefeito de Brasília, no Setor J de Taguatinga. Diz que ela trabalhava como vendedora na Loja Bagdá e já havia ganho um outro emprego no Departamento de Turismo da capital.

Com o título de Miss Brasília-1967, Anísia Gasparina Fonseca protagonizou um acontecimento que revoltou o povo de Patos de Minas quando salientou à imprensa que não foi aceita como candidata à Rainha do Milho. A edição de 29 de junho do jornal Folha Patense fez dois comentários a respeito. O primeiro, intitulado “O Outro Fato”, diz o seguinte:

Enquanto a imprensa se manteve nesse silêncio, uma onda publicitária começou a desferir críticas severas aos nobres sentimentos do nosso povo. A onda veio de Brasília pela bôca da sua simpática Miss. Os jornais do Rio têm repetido as mesmas insinuações. Assim a história de Anísia Fonseca (eu deveria ter dito Gasparina Fonseca), vai tomando foros de verdade. No entanto a referida senhorita nunca foi convidada para ser candidata ao título de Rainha do Milho. Prestou-nos esta informação o Exmo. Sr. Pedro Pereira dos Santos. O que houve foi apenas isto: Anísia Fonseca (Gasparina) disputou mesmo o título de Rainha dos Violeiros e lamentavelmente foi derrotada. Agora a imprensa ou os repórteres falam até em desagravo nacional. À Miss Brasília esperamos honre o Distrito federal. Apenas lamentamos que tenha recorrido ao sentimentalismo e à inverdade para sagrar-se Miss Brasil, versão 67.

O outro comentário (Patos na Berlinda) deixa mais evidente o descontentamento com a declaração de Anísia e a imprensa de fora:

Curioso é a maneira que o nome de Patos de Minas é divulgado pelos principais órgãos da imprensa nacional. Nunca de uma maneira positiva, mas sempre negativa e mentirosa. Quando é para divulgar um grande acontecimento, como é a Festa Nacional do Milho, tem que ser matéria paga. E muito bem paga… senão é o que acontece: SILÊNCIO.

Mas, para falar mentira, não. Ai estão prontos a escrever e, muitas vêzes, florear mais ainda a mentira. Há pouco tempo deu-se isto, até com repercussão internacional (a mentira tem destas vantagens, corre mundo e rapidamente), pois até a revista “Times”, dos Estados Unidos, em sua edição internacional deu ampla cobertura ao fato que não aconteceu como esparramaram¹. Agora vem outra bomba. Outra calúnia. Estão nos taxando de um povo não civilizado, injusto, orgulhoso, tudo por causa da eleição da Missa Brasília-67. Ela veio para cá, com sua família, tentar a sorte. Mas, na época, Brasília passou a ser o paraíso dos necessitados, sobretudo (mais uma mentira divulgada) e a fama correu. Arrumaram suas trouxas e se debandaram para Brasília a sua atual Miss e família. Agora, pelo título que ostenta, envaidecida, vai conversar fiado para a imprensa de que foi preterida como candidata a Rainha do Milho, por ser pobre, filha de uma lavadeira. Ao passo de que não passou de uma simples candidata a Rainha dos Violeiros, concurso que a Rádio Clube de Patos faz realizar-se durante as festividades do Milho, e mesmo assim perdeu para a sua concorrente. Os violeiros preferiram a outra. Agora, de longe, inverte os papéis para a imprensa.

Certamente está se fazendo de vítima para alcançar maior publicidade e ver se consegue alimentar algo de suas ilusões e vaidades. Industriada por alguém, quem sabe. Pois Patos de Minas é a terra melhor do mundo para se viver. O povo não é menos civilizado do que o de nenhum outro lugar dêste Brasil. Pelo contrário, é um povo ordeiro, trabalhador e justo. Se se alega “aqui em Brasília o povo é mais civilizado. Quase todo mundo, aqui veio do Rio e de São Paulo.” (Jornal do Brasil – 18-6-67), pois fiquem sabendo ela não é de Patos de Minas, nem do Rio, nem de São Paulo e foi se classificar em concurso. O tipo da incoerência, pois Brasília está cheia, grande parte, de mineiros e muitos de Patos de Minas que ajudam a fazê-la maior e mais progressista.

Patos de Minas é uma terra tão boa, de gente civilizada, que sabe dar valor aos que realmente o têm e não olha condições financeiras. O homem em Patos de Minas tem o seu valor pessoal e moral e não pela roupa que veste e quejandos, e o forasteiro se faz sozinho mesmo sem ter raízes e origens de família. Basta ser homem honesto, trabalhador e de moral. A prova disto é tão patente que a grande maioria dos que lutam e procuram defender os interêsses de Patos de Minas, lado a lado dos autênticos filhos da terra, é forasteira e foi bem acolhida pelo bom povo patense, reconhecendo ser um elemento útil à sociedade.

A revolta do patense é geral com estas mentiras propaladas pela Miss Brasília-67. A nossa conclusão, para termos publicidade positiva, devemos mentir. Modificar a nossa propaganda da Festa do Milho para a imprensa. Quem sabe dêste jeito teremos vêzes e contarão a verdade, no momento exato e sem nos extorquir somas avultadas de dinheiro. Vamos pensar nisto. Uma advertência para a Comissão Organizadora da Festa do Milho. Infelizmente mentira corre mundo.

* 1: O fato se refere a uma revolta do Frei Antônio de Gangi contra as prostitutas da época. Leia “Frei Antônio de Gangi e Sua Investida Contra as Prostitutas”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fontes: Jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam e Missesemmanchete.blogspot.com.

* Foto: Missesemmanchete.blogspot.com.

Compartilhe