FAMÍLIA RIBEIRO PACHECO É HOMENAGEADA PELO INSTITUTO GAMMON

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AAnualmente o Instituto Gammon, da cidade mineira de Lavras, que originalmente se chamava Colégio Evangélico de Lavras, comemora a passagem de seu aniversário com grande programação principalmente esportiva, na semana que antecede o domingo mais próximo do dia 21 de agosto, quando se encerra as comemorações com um culto de louvor e ação de graças. O sábado, considerado “Dia do Ex-Aluno”, é preenchido com disputas esportivas entre alunos e ex-alunos e à noite, realiza-se um jantar de confraternização. Neste ano, quando o Gammon comemorou 115 anos de existência, a direção do tradicional e modelar estabelecimento de ensino, juntamente com a Associação Gammonense, programaram uma homenagem especial à família RIBEIRO PACHECO, da qual diversos membros lá estudaram. No último dia 18, no refeitório do colégio, com a presença de aproximadamente trezentos ex-alunos, realizou-se o tradicional jantar de confraternização, onde 27 membros da família homenageada, provindos de diversas cidades mineiras e de outros estados, se fizeram presentes. Indicado antecipadamente para falar em nome da família, o Dr. Dirceu Deocleciano Pacheco, Diretor Responsável de “A DEBULHA”, proferiu naquela oportunidade, o seguinte discurso:

Era o ano de 1889, quando chegou a Patos de Minas, o casal Saint-Clair Justiniano Ribeiro e Francisca Beatriz Ribeiro, que ouvira a pregação do Evangelho, em Canta Galo, no Estado do Rio de Janeiro, de onde provinha. Coincidentemente, naqueles dias, havia chegado a Patos de Minas, procedente do Rio de Janeiro, dois casais de evangélicos e então, os três casais juntamente com os filhos, passaram a se reunir dominicalmente em uma das casas para a celebração do culto e a pregação da Palavra de Deus.

Logo depois, Saint-Clair e Francisca professaram a sua fé em 1893, a família transfere residência para Lagoa Formosa, então distrito de Patos, a 25 quilômetros da sede.

Eram seus filhos: Alípio Justiniano Ribeiro, casado com Ana Januária dos Santos; Euclides Justiniano Ribeiro, casado com Virgínia Amorim Ribeiro; Eureslindo Justiniano Ribeiro, casado com Maria Carlos Ribeiro; Adiron Justiniano Ribeiro, casado com Piracicaba Fernandes Ribeiro; Olímpio Justiniano Ribeiro, casado com Dorila Pires Ribeiro; Cantimira Ribeiro Martins, casada com Francisco Gonçalves Martins e os outros três seguintes, que haveriam de se casar com três irmãos de uma tradicional família do lugar: Eurípedes Justiniano Ribeiro, com Ceciliana Maria Ribeiro; Leosina Justiniano Pacheco, com João Pacheco e Maria das Dôres Pacheco, com Antônio Pacheco Tonheco.

Os novos horizontes que se haviam aberto à família, após a sua conversão no final do século, faziam com que os filhos de Saint-Clair e Francisca, viessem sentir a necessidade de que seus filhos recebessem conhecimentos mais amplos através de uma instrução que não lhes fora proporcionada, em uma época tão difícil e em um pequeno povoado do sertão mineiro, onde com grandes esforços se ministrava apenas o curso primário.

Os contatos da família com os missionários norte-americanos que davam assistência espiritual aos grupos de presbiterianos da região de Patos de Minas, permitiram que chegasse ao conhecimento dos Ribeiro Pacheco, que na então longínqua cidade de Lavras, no sul do Estado, existia um colégio “dedicado à glória de Deus e ao progresso humano” – o Colégio Evangélico de Lavras – onde, além da excelente instrução almejada, os jovens que para lá fossem enviados, poderiam também receber a sustentação evangélica que a família cultivava com tanto zelo.

Iniciava-se o ano de 1914 e os irmãos Eurípedes e Eureslindo, enfrentando todas as dificuldades peculiares à época, decidiram encaminhar seus filhos Othoniel Justiniano Ribeiro e Daniel Justiniano Ribeiro respectivamente, ao internato do Colégio Evangélico de Lavras. Os quase trezentos quilômetros que separam Lagoa Formosa de Bambuí, foram cobertos pelos dois meninos que iriam ainda concluir o curso primário, em lombos de cavalos, para aí tomarem o trem da Viação Oeste, que os conduziria ao destino.

Dos dois, Othoniel haveria de se destacar por várias formas: aluno brilhante, concluído o curso ginasial ingressa na ESAL, fazendo-se Engenheiro Agrônomo; nos esportes, sobressai-se de maneira extraordinária, como “center-fowr” do time de futebol, nas quadras de basquete e vôlei e nas pistas de atletismo; na parte literária, se transforma em um dos principais redatores do jornalzinho interno do Colégio.

Em 1918, Bolívar Pacheco, filho de João Pacheco e Leosina, é encaminhado ao Colégio, quando Daniel já regressara e Othoniel já concluía o ginasial. Por aquela ocasião, a viagem a cavalo já se reduzira aproximadamente cem quilômetros, pois o trem de ferro podia ser tomado na estação de Catiara.

O ano de 1924, reservaria à família, um capítulo à parte: um dos filhos de Alípio, já com 32 anos de idade, casado com Ignácia Alves Ribeiro, pai de quatro filhos, modesto sapateiro residente em Rio Paranaíba, resolve abandonar tudo e num rasgo de heroísmo – classificado por muitos, como verdadeira loucura – dirige-se com a família para Lavras, a fim de cursar o ginasial, no Colégio Evangélico.

As excessivas dificuldades financeiras, não haveriam de ser obstáculo que impedissem o “Adironzinho” de atender à sua irresistível vocação para o Ministério de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui chegando inicia seus estudos e até altas horas da madrugada, remenda e ressola sapatos, ao lado de sua guerreira companheira, que costura com afinco, em busca dos poucos recursos materiais com os quais manteriam a si e à sua prole, que já aumentava.

A presença de Deus foi constante na vida do casal. Contando com o inestimável apoio do Dr. Samuel Gammon, conseguiu o esforçado aluno romper a barreira do ginasial, para em seguida, rumar a Campinas, onde o “Adironzinho” viria a se transformar no consagrado Rev. Adiron Justiniano Ribeiro, que apesar da idade bastante acima do padrão, pôde ainda servir à causa de Cristo, como Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, durante muitos anos, até jubilar-se no pastorado de uma das Igrejas do Rio de Janeiro.

O humilde sapateiro da roça, conseguira alcançar seu objetivo. Paralelamente à função de Pastor seu currículo seria enriquecido com outras atividades dentre as quais se destacam a de revisor do jornal “Folha de São Paulo” e a de professor, então, catedrático, do Colégio Dom Pedro II, do Rio de Janeiro, um dos mais antigos e conceituados do país.

De sua numerosa prole, um outro gammonense, que sofrera com ele as dificuldades dos tempos do Gammon, se faria também Ministro do Evangelho, sendo hoje um dos maiores expoentes da Igreja Presbiteriana do Brasil – o Rev. Boanerges Ribeiro, atual Vice-Presidente do Supremo Concílio, do qual foi Presidente durante doze anos consecutivos.

Em 1925, aqui chegariam João Pacheco Filho (filho de João Pacheco e Leosina) e Flausino Pacheco Lou (filho de Antônio Pacheco e Maria das Dôres), tendo o primeiro, também se destacado tanto como estudante, formando-se em Contabilidade, como nos esportes, na parte literária e na participação na parte disciplinar do internato, trabalhando como regente de estudos e de dormitórios, para mais tarde, como cidadão exemplar e crente fiel, poder também servir à Igreja Presbiteriana do Brasil, na condição de dedicado e eficiente Presbítero, durante 37 anos, até sua chamada à glória de Deus.

De 1925 em diante, a sequência da presença dos netos do humilde lavrador Saint-Clair Justiniano Ribeiro no Instituto Gammon, foi uma constante: Sucederam-se: Américo, Leosino e Filemon Justiniano Ribeiro (filhos de Alípio); Euclides, Felisbino e Lindolfo Gonçalves Martins (filhos de Cantimira); Maria, Carmen, Horosita, Alípio, Oton e Ophir Justiniano Ribeiro (filhos de Eurípedes); Saint-Clair e Otoniel Pacheco (filhos de João Pacheco e Leosina); Almerinda, Gersonita, João, Eurípedes, Gastão e Lourival Pacheco (filhos de Antônio Pacheco e Maria das Dôres).

001Vencida a etapa dos netos de Saint-Clair no Instituto Gammon, era chegada a vez de seus bisnetos, comporem a segunda geração gammonense dos Ribeiro Pacheco e através de um longo desfile, por esta casa de Samuel Gammon passaram os netos de Alípio: Guaraci, Boanerges, Paulo, Nane, Acir, Benjamin e Daniel Ribeiro (filhos de Adiron); Luciano Ribeiro (filho de Walter); Edwards Filho, Delza e Gilma (filhos de Edwards); Ceciliana Justiniano Ribeiro (filha de Jairo), Ilza Emi Ribeiro (filha de Waldson); Olinda Ribeiro Rocha (filha de Jugurta); de Olímpio: Daniel Ribeiro de Oliveira (filho de Anita); de Eurípedes: Eraídes, Paulo, Iraci, Othoniel Júnior e Elci Ribeiro (filhos de Otoniel); Erasmo Silas Teixeira (filho de Honorita); Sérgio Ophir, Luiz carlos e Paulo Roberto Tennius Ribeiro (filhos de Ophir; de João Pacheco e Leosina: Cira, Edson, Dirceu e Dílson Pacheco (filhos de João Pacheco Filho); Esther, Cleso e Cleto Fonseca (filhos de Esther); Márcio e Nélson Pacheco (filhos de Saint-Clair); de Antônio Pacheco e Maria das Dôres: Éber Pacheco Barbosa (filho de Gersonita); Cícero Hiram e Cilas (filhos de Flausino); Tito Lívio, Ricardo e César (filhos de Eurípedes); Stela, Antônio, Renato, Neide, Lúcia Maria e Lourival Júnior (filhos de Lourival); de Cantimira: Eurípedes e Francisco Gonçalves Martins (filhos de Gilcério); César e Euclides Martins Chagas (filhos de Gláucia).

Nem todos os Ribeiro Pacheco que por aqui passaram cumpriram o que vieram fazer. Alguns poucos é bem verdade – ao invés de trabalhar, “deram trabalho”. Entretanto, quase todos eles marcaram positivamente sua passagem e os conhecimentos aqui hauridos, contribuíram decisivamente para que se preparassem para, espalhados por este Brasil a fora, viessem servir à comunidade nas mais diversas profissões e atividades.

Vários marcaram ainda de maneira positiva, sua participação nos esportes e muitos são os que têm seus nomes inscritos na interminável galeria de atletas gammonenses.

A Igreja Presbiteriana do Brasil, mantenedora do Instituto Gammon, inúmeros são aqueles (alguns já chamados à glória de Deus) que a têm servidos como crentes fiéis, como pregadores leigos, como Professores da Escola Dominical, como Diáconos, como Presbíteros e como Pastores, numa prova inequívoca de que os descendentes do velho Saint-Clair, foram iluminados ao encaminhar seus filhos até aqui.

Os anos se passaram e com o correr do tempo, o progresso da região fez com que em Patos de Minas e Lagoa Formosa, se instalassem vários colégios, permitindo que os nossos filhos prosseguissem seus estudos sem a necessidade de saírem de sua terra. Não obstante esta atual condição, o vínculo da família Ribeiro Pacheco, com o Instituto Gammon não se desfez, e hoje, aqui estão a representá-la, dois jovens alunos: Sérgio e Juliana, filhos de Othoniel Júnior, netos de Othoniel, bisnetos de Eurípedes, tetranetos de Saint-Clair… Antes deles porém, Viviane filha de Eurípedes Gonçalves Martins, já passara por aqui.

A família que tanto recebera do Instituto Gammon, praticamente nada pôde oferecer de volta.

No ano de 1944 a professora Maria Justiniano Ribeiro, volta à casa onde se formara para lecionar para alunos do curso primário no Kemper, aqui permanecendo até 1946, quando retornou a Lagoa Formosa.

Um dos netos do velho Saint-Clair, que por aqui passara no final da década de 30, partiu para Viçosa, formou-se Engenheiro Agrônomo e depois, como se o que recebera desta hospitaleira cidade fora pouco, aqui voltou e tomou por esposa uma das filhas de Lavras, levando-a como companheira fiel de todas as horas, para a sua distante Patos de Minas.

Estava feito na vida, o jovem Engenheiro Agrônomo… Com o diploma na mão: acompanhado da jovem esposa, bonita e jovial, se entrega ativamente à Agropecuária por mais de vinte anos, demonstrando na prática, que os anos de escola não lhe foram em vão.

Uma missão entretanto, lhe estava reservada e depois de algumas andanças, com os filhos já crescidos, ei-lo novamente nesta hospitaleira cidade, para que a família Ribeiro Pacheco, pudesse resgatar uma pequena parcela de sua enorme dívida através de sua pessoa. A Velha Escola Superior de Agronomia, era agora uma das muitas escolas superiores da rede federal de ensino e não um departamento do Gammon, como nós da velha guarda a conhecíamos, mas os laços afetivos que a ligaram no passado ao tradicional Instituto, não podem desaparecer jamais e o neto de Saint-Clair, filho de Maria das Dôres, na sua modéstia característica, sem coleção de títulos como ele mesmo se define, assume a direção da cadeira de Agricultura da ESAL, colocando a serviço da escola e da juventude os seus conhecimentos e sua vasta experiência, conquistando a amizade e a admiração de todos os seus alunos.

Agora, não é mais apenas o Pai Vaca das quadras de basquete e vôlei e das pistas de atletismo que desfila cheio de medalhas e de glórias pela avenida do Gammon; associa-se a ele, o respeitável professor Dr. Eurípedes Pacheco, que quase paternalmente ministra os ensinamentos aos jovens alunos, preparando-os para a importante missão de produzir alimentos neste vasto país, para o combate a fome do mundo.

A você, Eurípedes, as nossas homenagens.

Peço-lhes desculpas, meus queridos familiares, pois tantos são os nossos, que poderiam com brilhantismo, representar nossa família nesta hora…

Confesso-lhes no entanto que a culpa de eu aqui estar, não cabe somente a mim. Não me foi dada a oportunidade de fugir e esta responsabilidade. Recebi a incumbência como uma ordem, que não me foi possível desobedecer.

A família RIBEIRO PACHECO, que tanto deve a este tradicional estabelecimento de ensino, passa a ser a partir de agora, mais devedora ainda, pela láurea desta homenagem, nos 115 anos do Gammon.

Mas se tal homenagem é conferida às famílias que tiveram a bênção de por aqui passar e que verdadeiramente amam e são agradecidas a esta casa, teremos somente que nesta hora, ainda mais, agradecer comovido, porque ela será por todos nós, tida por justa e por merecida: pois realmente, os descendentes do velho lavrador Saint-Clair – os RIBEIRO PACHECO – têm seus corações repletos de amor, de afeto, de respeito e de gratidão a esta bendita Casa de Samuel Gammon, “dedicada à glória de Deus e ao progresso humano”.

Muito obrigado, queridos companheiros gammonenses.

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 98 de 31 de agosto de 1984 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto 1: Instituto Gammon, de Lavras24horas.com.

* Foto 2: Eurípedes Pacheco, o Pai Vaca, do arquivo de Donaldo Amaro Teixeira.

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