PARQUE DO PARANAÍBA

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1975)

Creio que Patos inteira conhece minha preocupação em relação ao Rio Paranaíba. Ou mais concretamente aos inevitáveis riscos que implica a ocupação de sua faixa alagável. Avançar a cidade para si é armar a tragédia futura.

E, infelizmente, essa tragédia está sendo armada pela ganância de alguns, a irresponsabilidade de muitos e a omissão de todos. Claro que se pode passar muito tempo sem uma grande enchente. Mas não há a mínima garantia de que a última seja realmente a última. Pior: estou certo de que um dia ela fatalmente acontecerá. Não uma, mas várias. E serão tanto mais catastróficas, quanto mais a cidade se abeire do rio, mais se concentre em sua faixa alagável. Afinal, o que são 10, 20, 40 anos na vida de um rio, cuja idade conta por milênios.

Certamente há muitas formas de se evitar essa ocupação, desastrosa para a cidade sobre todos os pontos de vista. Inclusive o ecológico. Mas (e, por isso mesmo) o melhor me parece a criação de um parque florestal ao longo do Paranaíba. Não apenas junto à Patos de hoje, mas também da Patos futura, que certamente será várias vezes maior que a atual. Enfim, um parque que se espiche à montante¹ e a jusante² da cidade, numa larga antecipação de seu crescimento.

Melhor ainda: um parque que se estenda por muitos quilômetros – mais ainda: por muitas léguas nos dois sentidos (para baixo e para cima) e ocupando as duas margens do rio.

Com isso, não apenas preservaríamos a cidade daquela tragédia, para a qual tenho alertado com insistência, como criaríamos uma magnífica área verde e de lazer para o povo patense e das cidades vizinhas. Para isso, naturalmente, teríamos de criar o parque, com a ajuda de especialista, e de preservar, a todo custo, o que resta da impiedosa devastação de nossas matas de beira-rio. Enfim, iniciar um vasto e bem planejado plantio de essências escolhidas entre as melhores e mais adequadas de nossa própria região.

E, na medida do possível, enriquecer o porque com os equipamentos voltados para o lazer e a recreação.

Uma das consequências disso seria preservar o Paranaíba da poluição que tanto degrada os rios de outras cidades, e garantir um bom chão de nosso rio para fins recreativos. Enchendo de árvores e não de casas as faixas alagáveis do Paranaíba, em vez de um rio para nos atormentar, teríamos um rio para nos regular.

Para que isso não fique apenas no papel, pedi a ajuda da Secretaria Especial de Meio Ambiente para esse fim. Ou melhor, consultei o secretário Paulo Nogueira Neto, um valente na luta pela preservação e melhoria do meio ambiente no Brasil, se a SEMA teria condições de ajudar na criação daquele parque. Diretamente não tem, mas indiretamente, sim. Despertando toda simpatia para meu pedido, o eficiente Dr. Paulo Nogueira na mesma hora telegrafou ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, solicitando que estude nossa reivindicação.

Reivindicação que o presidente do IEF, Dr. José do Carmo Neves, um batalhador da causa ecológica, certamente examinará com igual simpatia – não fosse ela perfeitamente sintonizada com os crescentes anseios do povo e do Governo pela defesa e melhoria do meio ambiente.

* 1: É a direção de um ponto mais baixo da água para o mais alto.

* 2: É o fluxo normal da água, de um ponto mais alto para um ponto mais baixo.

* Fonte: Texto publicado originalmente na edição de 26 de janeiro de 1975 do jornal Folha Diocesana e republicado na edição n.º 42 de 04 de agosto de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Verdinho_naturezabrincalhona.blogs.sapo.pt, meramente ilustrativa.

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