SARNA DEMODÉCICA

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ANum contexto das dermatites parasitárias, a Sarna Demodécica (Demodicidose) representa 39,60% de casos em cães e gatos, ficando a Escabiose canina com 31,80%, Escabiose e Otocariose felina 14,30% e Otocariose canina 14,3%. Ectoparasitas da superfície cutânea dos animais, pertencentes ao gênero Demodex, grupo de espécies conhecidos como sarna. Estes ácaros pertencem à classe Acarina do Filo zoológico Arachnoidea, que medem em torno de 100 micras. Entre as mais de 15.000 espécies deste grupo, em sua maior parte parasita, destaca-se o Demodex canis, de movimentos lentos e irregulares, através de suas patas atrofiadas e em número de oito (octópodes). Entre a temperatura de 17 e 26 graus centígrados seus movimentos praticamente cessam, embora não pereçam, tornando-se intensa em torno de 40º centígrados. Morfologicamente o Demodex tem corpo afilado e alongado, de até 0,2 mm de comprimento, com quatro pares de patas dilatadas anteriormente. Os adultos são ácaros de forma cilíndrica, entre 0,10 e 0,40 mm.O macho mede 200 x 40 microns e as fêmeas medem 250 x 40 microns. O ácaro mede, especificamente, cerca de 0,25 mm de comprimento.

O ciclo de vida do Demodex sp ainda não foi definido totalmente, porém todo ciclo do ácaro se passa no hospedeiro e é composto de quatro estágios principais: ovo, larva, ninfa com vários estágios e adulto. Seu ciclo vital leva entre 20 e 35 dias para se completar. No raspado de pele os estágios do D. canis podem ser demonstrados. Ovos fusiformes eclodem em larvas pequenas com seis patas, as quais mudam para ninfas com oito patas e em seguida, para adultos com oito patas. Estas espécies de ácaros em sua grande maioria percorrem todo seu ciclo evolutivo dentro dos folículos pilosos e raramente nas glândulas sebáceas. Todo ciclo vital do ácaro se passa na pele, onde subsiste e alimenta-se de células e fragmentos epidérmicos.

Sarna Demodécica (demodicose, demodiciose, sarna folicular, sarna vermelha, sarna negra) é uma doença parasitária inflamatória de cães e raramente de gatos, decorrente da presença na pele de exacerbada quantidade de ácaros nos folículos pilosos. A proliferação inicial de ácaros pode ser devida a distúrbios genéticos ou imunológicos. A demodicidose leva frequentemente a furunculose e infecção bacteriana secundária. Nos cães pode se apresentar na forma localizada ou generalizada. Esta doença não é considerada como contagiosa.

Os ácaros do gênero Demodex são considerados parte da fauna normal quando presentes em baixo número na maioria dos cães saudáveis, residindo nos folículos pilosos, glândulas sebáceas ou glândulas sudoríparas. A patologia desenvolve-se quando a quantidade excede a tolerada pelo sistema imune; e a proliferação inicial dos ácaros pode ser resultado de um distúrbio genético ou imunológico. Devido a sua localização profunda na derme, é quase impossível transmitir o Demodex sp entre animais, a menos que exista um contato prolongado. Este contato ocorre durante o aleitamento e as infestações adquiridas transcorrem nas primeiras semanas de vida. Ácaros Demodex canis mortos e degenerados podem ser encontrados em sítios não cutâneos (linfonodo, parede intestinal, baço, fígado, rim, bexiga, pulmão, glândula tireoide , sangue, urina e fezes) e considera-se que representem drenagem para essas áreas, através do sangue e/ou linfa.

O mecanismo imunológico exato é desconhecido, há evidências que levam a crer que uma predisposição hereditária quanto à doença são fortes. Em alguns casos, a imunossupressão natural ou causada por efeitos colaterais de medicamentos pode precipitar a doença. Outros fatores que predispõe sabidamente a demodicidose generalizada incluem doenças sistêmicas, cio e dirofilariose. Estudos indicam que cães com demodicidose generalizada têm uma percentagem subnormal de receptores de IL-2 em seus linfócitos e produção sub normal de IL-2. Fatores genéticos, imunossupressão e/ou doenças metabólicas que podem predispor o animal.

Os ácaros são primeiramente observados no focinho de filhotes, o que enfatiza a importância do contato direto e do cuidado materno. Quando os filhotes são retirados por cesariana e alimentados fora do contato com a cadela infectada, eles não albergam os ácaros ,indicando que a infecção não ocorre no útero. Da mesma forma, os ácaros não podem ser demonstrados em filhotes natimortos. Apesar de os ácaros poderem ser transferidos para adultos normais pela aplicação de soluções carregadas de ácaros à sua pele ou por confinamento estreito com um cão com demodicidose generalizada, a doença progressiva não ocorre. Todas as lesões que ocorrem resolvem-se espontaneamente. Acredita-se que a transmissão de um cão para outro seja limitado através do contato direto com a mãe, no pós-natal imediato, com filhotes durante a amamentação. Ácaros podem ser identificados nos folículos pilosos de filhotes com apenas 16 horas de idade. Mais tarde somente alguns filhotes apresentam sintomas da doença. Acredita-se que isto seja devido a uma predisposição genética nestes indivíduos (inibição generalizada da célula T).

A demodicidose é uma dermatose de grande importância na clínica veterinária, passível de ser confundida com outras doenças de pele. O curso esperado depende muito de distúrbios genéticos, imunológicos e de doenças subjacentes. São identificados geralmente dois tipos de demodicidose: localizada e generalizada. O curso e prognóstico dos dois tipos são amplamente diferentes. A demodicidose localizada ocorre em cães com menos de um ano de idade. O curso é benigno e a maioria dos casos, cerca de 90% se resolvem espontaneamente. A demodicidose generalizada geralmente cobrem grandes áreas do corpo, mais pode ser mais localizada, especialmente quando a doença se inicia. Na pododermite, a doença fica confinada às patas, apesar de alguns cães apresentarem população de ácaros maior que anormal na pele. A pododemodicidose pode ocorrer como resultado da demodicidose generalizada, na qual as lesões curam-se em todos os lugares, exceto nas patas. A demodicidose pode ocorrer ocasionalmente como otite externa ceruminosa, eritematosa.

A1A demodicidose causa inicialmente perda de pelo, sem prurido. Este vem a ocorrer posteriormente devido a uma infecção secundária. A forma localizada é mais comum em cães mais jovens, de 3 a 11 meses de idade. As lesões geralmente são brandas, consistindo em eritema e escama leve. As manchas poderão ser observadas, e sua localização mais frequente é a face, ocorrendo também ao redor das áreas perianal e periocular, e membros. Na forma generalizada, desenvolvem-se áreas disseminadas de manchas mal circunscritas de eritema, alopecia, com presença de descamação, seborreia, crostas, pápulas, pústulas e ulcerações. O ácaro irrita o folículo piloso, impede o crescimento do pelo e quando não o destrói completamente, danifica os tecidos da epiderme que estão ao redor. À medida que os folículos pilosos se e tornam distendidos, pelo grande número de ácaros, são frequentes infecções bacterianas secundárias, geralmente resultando em ruptura do folículo (furunculose), com a progressão a pele pode tornar-se gravemente, exsudativa e granulomatosa. Os cães podem apresentar uma enfermidade sistêmica com linfoadenopatia generalizada, letargia e febre quando se observam piodermatite profunda, furunculose e tratos drenantes. Sempre que se diagnosticar demodicidose generalizada em um cão adulto, dever-se-á seguir uma avaliação médica para identificar uma doença sistêmica subjacente. Normalmente a Demodicidose não é de caráter pruriginoso, mas na presença de uma piodermite secundária, o animal passa a se coçar, podendo se auto traumatizar levando assim a um caso mais grave da doença.

Doença que muitas vezes é confundida com outras dermatoses, seu diagnóstico é feito através dos achados clínicos e raspado cutâneo profundo para detecção do ácaro. Os ácaros vivem no folículo do pelo e ali se multiplicam. O exame microscópico da cera do ouvido ou raspado do conduto auditivo externo revela ácaros demodécicos, no caso da doença se restringir ao ouvido. O raspado cutâneo é um dos melhores métodos usados na confirmação do diagnóstico de demodicidose. O diagnóstico é feito através de demonstração de número exacerbado de ácaros adultos, ou pelo achado de uma relação aumentada de formas imaturas (ovos, larvas e ninfas) em relação aos adultos. O raspado deve ser feito em diversas áreas diferentes da superfície cutânea, antes de se descartar o diagnóstico de sarna demodécica. O raspado cutâneo é sem dúvida o método laboratorial mais simples, fácil e barato de se diagnosticar a demodicidose.

Demodicidose pustular pode parecer uma foliculite ou furunculose do focinho (acne) de cães jovens ou até mesmo, uma piodermite generalizada. O diagnóstico diferencial é feito também com dermatofitose (suas manchas lembram a forma localizada da demodicidose), dermatite por contato (pápulas eritematosas lembrando a demodicidose escamosa), complexo pênfigo, dermatomiosite, lúpus eritematoso sistêmico. A diferenciação pode ser feita pelo exame do raspado de pele ou pela biópsia.

Com sua localização profunda na pele, os ácaros não são facilmente acessíveis aos acaricidas tópicos, sendo necessário um tratamento prolongado e não devendo esperar resultados rápidos. Baixar o pelo do cão, fazer uso prévio com xampu a base de peróxido de benzoila a 2,5% e aplicando uma solução de amitraz (4ml/litro de água),uma vez por semana, tem sido eficaz no tratamento desta doença. O produto devera ficar em contato com apele do cão por até 10 minutos. O uso de luvas protetoras se faz necessário para quem vai dar o banho no animal. O amitraz provoca um efeito sedativo transitório por 12 a 24 horas especialmente após o primeiro tratamento. Efeitos colaterais podem ser observados nos cães após as primeiras aplicações, pode apresentar reações alérgicas como prurido, urticária, edema, irritação cutânea e uma gama de sinais sistêmicos principalmente em decorrência de fatores estressivos pós-banho com amitraz.

Uso da Ivermectina-1% por via oral, na dosagem de 0,06 ml/kg a cada 24 horas por um período de 10 a 18 semanas tem conferido 90% de cura nos pacientes tratados. A moxidectina na dosagem de 0,5-1 mg/kg/2 vezes por semana por um período de três a sete meses também demonstrou uma boa eficácia no tratamento dos cães com demodicidose (80% de cura), podendo, ao contrario da ivermectina, ser usada nos cães da raça Collie e seus mestiços. Podem ser observados sinais neurológicos temporários como letargia e ataxia nos animais tratados com ivermectina a 1%.

O tempo de tratamento é ate o cão ficar com o pelo alto e bonito, fazendo um raspado, e dando positivo, tratar mais 30dias. Raspado negativo, repetir raspado após 15 dias. Raspado novamente negativo com 15 dias, repetir com mais 15 dias, persistindo negativo alta clínica. Devido à predisposição genética para a doença, as fêmeas afetadas ou que produziram ninhadas com a demodicidose, deverão ser excluídas da reprodução. Os proprietários devem ser alertados que mesmo os cães, os quais obtiveram cura da demodicidose generalizada, continuam transmitindo esta susceptibilidade à doença, para os seus filhotes. É importante também que sejam observados cuidadosamente para o desenvolvimento de doenças sistêmicas principais e neoplasias malignas no futuro.

* Fonte: Sarna Demodécica em Cães: Revisão Bibliográfica, de Leopoldino José Cardoso Rocha, monografia (2008) apresentada à Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA – Recife/PE), como exigência final para obtenção do título de especialização em Clínica médica de pequenos animais. Orientadora: Dra. Sílvia Maria Mendes Ahid.

* Foto 1: Dicaspeludas.blogspot.com.

* Foto 2: Demodex canis, por Imgkid.com.

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