ESCOLAS DO CRIME

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A1TEXTO: JORNAL O PATENSE (1949)

Indelineável se nos afigura o plano de assistência aos menores abandonados, quando os responsáveis pela execução daquele programa social não assumem uma atitude de imediata repressão, facultando-lhes antes o acesso à delinquência infantil, através das portas dos bilhares, dos cinemas impróprios e dos cabarés, que se lhes abrem como verdadeiras academias de malandragem.

Exemplo frisante de nossa assertiva – se bem que contristadora – basta observarmos a frequência habituada em os bares que exploram o comércio de bilhares, pelo número significativo de menores. O quadro que se nos apresenta não teria o sabôr de um comentário colaboracionista para ajuda da solução daquele problema social, se não chegassemos à conclusão de que o mesmo é um caso de polícia e que só a polícia tem obrigação restrita de interferir, tal a seriedade com que encaramos o assunto.

O mesmo espantalho encontramo-lo em nossos cinemas. Todos os filmes recebem o passe livre e estão isentos de quaisquer censuras, por quem quer que seja. E’, a nosso ver, a escola prática, o aperfeiçoamento daquilo que a vagabundagem ensina na sua caminhada de ociosidade, de miséria e de vergonha, num mundo despido de responsabilidades, falso de moral cristã e vazio de bom senso.

E mais além ainda o quadro se nos antolha mais negro, mais revoltante, porque filho do vício, na sua mais tôrpe libidinagem, tem nas suas vísceras, na sua podridão, a volúpia infernal que arrasta para as galerias dos “gangsters”, os profissionais do crime, dos delinquentes por educação de infância, em uma idade justamente quando se forjam caracteres, no período talvez único em que se plasmam os homens de amanhã.

A onda de menores desamparados cresce e recrudesce, toma vulto e, quando mais tarde se lhe pretender antepôr um dique, as muralhas das penitenciárias serão pequeninos grãos de areia para conte-los em sua fúria avassaladora.

Urge, portanto, enquanto cêdo, sejam tomadas sérias providências pelas autoridades sôbre um problema de tal relevancia e de tal magnitude.

* Fonte: Texto publicado na edição de 11 de dezembro de 1949 do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e de Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Jcradialista.com.

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