GARÇONS EFICIENTES

Postado por e arquivado em ARTES, FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, LITERATURA.

Há poucos dias convidei alguns amigos para almoçar comigo no Panela’s, um restaurante afamado aqui em Periquitinho Verde. Assim, por volta das onze e pouco nos dirigimos para lá, mas já encontramos o salão com quase todas as mesas ocupadas. Apesar disso conseguimos arranjar um bom lugar, e logo depois que nos sentamos um garçom solícito e educado veio nos atender. Como sou observador, notei que ele trazia uma colher guardada no bolso da camisa, o que não é coisa comum de se ver nesse tipo de profissional, e por isso achei aquilo esquisito. Mas não dei muita importância ao fato porque o considerei como uma circunstância casual, coisa de momento. No entanto, quando o encarregado da arrumação da nossa mesa trouxe a água, copos e talheres, percebi que ele também tinha uma colher no bolso da camisa. Curioso, dei uma passada de olhos pelo salão, e constatei surpreso que a mesma coisa acontecia com todos os garçons, garçonetes e atendentes. Aí já era demais!

Por isso, quando o garçom voltou para anotar o nosso pedido, não agüentei a coceira na ponta da língua e decidi saciar a minha curiosidade. Então perguntei ao moço sorridente:

– Por que a colher? – e apontei para o seu peito, de onde a cabeça da peça côncava parecia me encarar com súbito interesse.

– Bom – explicou ele – os donos do restaurante estão empenhados em oferecer aos seus clientes um atendimento nota dez, e por isso contrataram a consultora Andersen, técnica que aprendeu na Europa a arte de bem servir aos que se alimentam fora de casa, com o objetivo de melhorar todos os nossos procedimentos. Depois de algumas semanas de observação e análises comparativas dos dados estatísticos anotados, eles concluíram que os clientes deixavam a colher cair no chão com 73% a mais de freqüência do que os outros talheres, o que representava uma média de 3 colheres por mesa, em cada hora. Se o nosso pessoal ficasse devidamente preparado para cobrir de imediato essa contingência, nós poderíamos reduzir o número de viagens feitas à cozinha, e assim, poupar mais de 1,5 hora de caminhada, por garçom, em cada turno.

No momento em que falávamos escutou-se um som metálico vindo da mesa logo atrás da nossa. Rapidamente o garçom que nos atendia voltou-se, foi até lá, trocou a colher caída por aquela que ele levava no bolso, retornou até nós e me disse com cara de quem está fazendo o favor de explicar alguma coisa:

– Pegarei outra colher quando for a cozinha, assim não farei uma viagem extra para buscá-la agora.

Meus amigos e eu ficamos realmente impressionados com o que ouvíramos. O garçom continuou a anotar nossos pedidos, e enquanto meus convidados escolhiam o que desejavam comer, continuei a observar atentamente o que acontecia ao meu redor. Foi então que vislumbrei, de relance, o que me pareceu ser a ponta de uma corda fininha pendurada no zíper da calça do garçom, e ao percorrer o salão com o olhar, constatei que os demais funcionários da casa também mostravam alguns centímetros de uma cordinha esbranquiçada, pendurada no mesmo lugar. Aí a minha curiosidade aumentou ainda mais, e por isso, antes do garçom se retirar, chamei-o e voltei a perguntar a ele, em voz baixa:

– Desculpe, meu amigo, mas… por que você tem essa cordinha justamente aí, nesse lugar?

– Oh, sim! – respondeu o empregado, e começou a falar também em tom mais baixo, mas já nessa altura meio embaraçado:

– Puxa… é difícil encontrar pessoas tão observadoras quanto o senhor. Acontece que essa consultora de eficiência da qual lhe falei, achou que nós também poderíamos poupar tempo toda vez que fôssemos ao banheiro.

– Como assim?

– Veja bem: amarrando esta cordinha na ponta do meu… do meu… bem…, o senhor sabe do que estou falando, não é?…  nós podemos sacá-lo para urinar sem precisar botar as mãos nele. E eliminando dessa forma a necessidade de lavá-las depois da mijada, encurtamos o tempo gasto no banheiro em 67%, por homem.

– Que ótimo, meu amigo! Isso até que tem muito sentido. Mas me diga uma coisa… se a cordinha ajuda a sacar o dito-cujo para fora da calça, como é que você faz para guardá-lo novamente?

– Bem – explicou o garçom – para dizer a verdade, eu não tenho a menor idéia de como é que os outros fazem. Quanto a mim, eu uso a colher…

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