MUTIRÃO DA SOLIDARIEDADE DE 1984

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A1TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1985)

Uma das coisas que mais aprecio é ver um plano ser levado a sério e alcançar seus objetivos, por isto, não poderia deixar de registrar o que eu reputo como uma das maiores vitórias já conquistadas aqui, pelo Poder Municipal e Comunidade, irmanados.

Já em nosso n.º 86, fiz o registro do insano trabalho que vem sendo realizado nesta cidade desde os primeiros dias da atual Administração Municipal para resolver o antigo problema da área inundada pelo Rio Paranaíba, que, invadida por populares, transformou-se em área residencial, anexa à Vila Operária.

Vendo-se atribulado por uma das maiores enchentes verificadas nos últimos anos, no limiar de seu governo, o Prefeito Municipal tratou de cumprir determinações já fixadas, constituindo a COMDEC (Comissão Municipal de Defesa Civil) em nosso município e juntamente com sua equipe, passou a assessorá-la.

Depois de muito estudo, a Prefeitura adquiriu um terreno com 32.500 metros quadrados, próximo ao Bairro Novo Horizonte, onde foram locados 75 lotes com área aproximada de 250 metros quadrados cada um, reservando-se área para praça, escolas, igrejas e posto de saúde. Ali deveriam ser construídas aproximadamente 50 casas, para as quais seriam transferidas as famílias cadastradas através de demorado e cansativo trabalho elaborado por elementos da COMDEC e da Prefeitura.

Tudo pronto, tudo acertado, viria a seguir, a etapa que somente poderia ser executada com excessiva boa vontade e coragem, que era a construção das referidas casas. A Prefeitura que já adquiriu o terreno, arcando a seguir com o pesado ônus das redes de água, esgoto e luz e construção de meio-fios, se propunha ainda a participar com todo o cascalho e areia necessários, transporte de todo o material e mais o que faltasse, mas mesmo assim uma importância superior a 100 milhões de cruzeiros deveria ser levantada entre a comunidade.

Instituiu-se o movimento que se convencionou chamar “Mutirão da Solidariedade¹” e iniciou-se o trabalho de arrecadação, que por motivos vários, alcançou um resultado muito aquém do que se esperava, mas nem isto serviu para arrefecer o entusiasmo da campanha e resolveu-se iniciar o trabalho de construções de imediato, em sistema de mutirões dominicais, conforme se estabelecera desde o início e foi aí que se pôde ver o valor da gente desta terra. Durante seis domingos consecutivos, centenas de pedreiros, serventes, carpinteiros, bombeiros, eletricistas, pintores e povo em geral, se deram de sol a sol, na construção de 48 casas, número fixado por fim.

Concluídas as casas de cinco peças (sala, cozinha, dois quartos e banheiro), com água, luz e esgoto, todas pintadas de branco, num magnífico espetáculo visual, veio a seleção final das famílias que as irão receber e das outras que de acordo com rigoroso critério, receberão apenas lote vago naquele bairro, que foi feita em exaustiva reunião de cinco horas de duração, com a presença dos beneficiados.

Finalmente, marcou-se o dia 10 de fevereiro, para mais uma vez, em continuação ao “Mutirão da Solidariedade”, processar-se concomitantemente a mudança das famílias e demolição das casas desocupadas, para que a área seja imediatamente terraplenada e transformada em dois campos de futebol, os quais, além de proporcionar lazer, serão fiscalizados pela própria população que não permitirá que neles se construam outras casas para gerar novos problemas.

Como modesto membro da COMTEC, devo exaltar o trabalho realizado por tantos, com zelo e dedicação, mas não posso, por uma questão de justiça, deixar de registrar o meu aplauso ao Prefeito Arlindo Porto Neto, mola-mestra do projeto, que além de participar financeiramente com muito mais do que se propusera, acompanhou o trabalho juntamente com sua esposa, desde o primeiro até o último passo, presente a todas as reuniões e em todos os momentos do mutirão.

* 1: Leia “Mutirão em Prol dos Desabrigados da Chuva – 1984”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Para Servir de Exemplo” no Editorial do n.º 107 de 15 de janeiro de 1985 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Adilsonribeiro.net, meramente ilustrativa.

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