LAGOA DOS PATOS E A PICADA DE GOIÁS, A

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1TEXTO: ZAMA MACIEL (1956)

A “Tribuna de Patos”, em seus dois primeiros números, publica artigos sôbre a história de Patos de Minas. Essa contribuição que presta o novel jornal à cultura de nossa terra, torna-se digna de encômios, considerando-se a carência de informes relativos ao passado não mui distante em que criadores de gado e rancheiros instalaram-se no local onde se ergue a florescente cidade, cognominada, há já tanto, por Manuel da Costa Júnior, de “Princesa do Sertão”.

Há, no entanto, deslizes na publicação, e essas notas objetivam repará-los porque poderão êles criar raizes e serem transmitidos como verdades às gerações vindouras. Assim, tal é a afirmativa de que o nome da cidade provém de “uma lenda antiquíssima” que descrevia a região como morada de patos.

Lenda jamais houve a respeito, e se a houvesse não seria “antiquíssima”, pois os primeiros povoadores aqui se fixaram entre 1820 e 1826, e cento e quarenta anos na vida de uma cidade não constitui largo lapso de tempo.

A região era e é povoada por êsses maravilhosos patos selvagens que, outrora, faziam das lagoas encontradiças nos plainos escampos do planalto o sitio de suas pescarias e o ninho de seus amores. Fechada por uma lage de tapiocanga existente onde hoje se ergue a cadeia pública, existia uma lagoa profunda, bela e ensolarada. “Habitat” ideal para êsses palmípedes.

A lagoa foi chamada pelos primeiros viajores a lagoa dos Patos, tal como se chamou de Formosa aquela a cavaleiro do ribeirão da Babilônia, ou tal como sóe ser em quase tôda toponímia brasílica, na qual predominam os topônimos pinturescos, esteriotipadores das primeiras emoções causadas aos primeiros viajantes perlustradores dos largos e ínvios sertões da Pátria.

Naturalmente, em obediência a lei do menor esforço, às suas vizinhanças, de ondulações tão suaves, foi se chamando de Patos a localidade onde, evocando-se a proteção do venerável taumaturgo português, surgiria, como flor mimosa do brejal, o arraial de Santo Antônio dos Patos do Rio Abaixo, que tal foi o primeiro nome por que a nossa cidade se chamou.

Mister se faz explicar que a grande lagoa foi sangrada por um português que queria aproveitar-lhe as águas, nas alturas do atual Sobradinho. Sêca, tornou-se um tremedal, onde por muitos e muitos anos, ninguém passava, até que se abrisse o chamado Beco Novo, e até que, expulsando os autênticos batrachios, ali se instalasse o Mamoré.

Necessita-se também que seja explicada a razão por que, à margem da lagoa dos Patos, se fixaram os primeiros moradores, quando outras lagoas e sitios formosos são abundantes na região.

É que a estrada que ligava Paracatu à Picada de Goiás, partindo da Guarda dos Ferreiros e percorrendo o espigão divisor das águas, fugindo à matas e grotões da região, passava justamente sôbre a lage de pedras que banhava a lagoa. Era o caminho natural. A’ direita de quem procurava as minas de ouro do sertão, estava a mata umbrosa e à esquerda o Paranaíba com a sua vestimenta também de mataria.

As estradas de penetração procuravam os campos, evitando os matos. As tropas que partiam da Guarda dos Ferreiros, pousavam em pontos regulares que se distanciavam de quatro a cinco leguas. Nessas pousadas surgiram São Francisco das Chagas (Rio Paranaíba), Arraial Novo (Carmo do Paranaíba), N. S. da Piedade da Lagoa Formosa, Santo Antonio dos Patos do Rio Abaixo, a fazenda da D. Leonarda, os Arrependidos, e finalmente o Guarda Mór.

* Fonte: Texto publicado na coluna “Patos de Minas e Sua História” com o título “Reparos” na edição de 22 de janeiro de 1956 do jornal Tribuna de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Supercoloring.com, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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