UM BAR CHAMADO “RECREATIVO”

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1TEXTO: DOMINGOS RIBEIRO BORGES (1985)

A cidade de Patos não teria mais que uns seis mil habitantes. Sua importância regional já se fazia notar principalmente por seu comércio rico e ativo. Pelas ruas, o maior movimento era de carros de bois trazendo e levando mercadorias e de fazendeiros, que em elegantes montarias vinham à cidade comprar sal, querosene, ferragens, tecidos, chapéus Souza Machado, Ramenzoni, Cury etc. Meninos, em estridentes gritos vendiam leite gordo e fresquinho. A buzina do padeiro era inconfundível. Os botequins, bem frequentados, vendiam da boa pinga lá da Mata.

O lugar crescia a olhos vistos e despertava, em muitos, o espírito de iniciativa. Foi em 1929 que o tio Laurindo, antevendo um bom negócio, instalou ali na General Osório, num velho casarão (onde hoje funcionam a Relojoaria Ômega, o Erlon Discos e a Gira Modas), um bar, que propiciasse aos frequentadores um ambiente familiar e acolhedor. Chamou-se, “Bar do Láu”. Foi o primeiro bar social da cidade. Os gostosos sorvetes e picolés, da pura fruta e com muito leite, até hoje são lembrados pelos que tiveram a ventura de saboreá-los. O tio prosperava com o seu bar.

Em 1940, inaugurou-se a Sociedade Recreativa Patense. Tio Laurindo, um dos fundadores, reservou excelentes dependências do prédio, para o seu bar. De tão animado, resolveu mudar tudo, comprando utensílios novos, mobiliário novo e alterando até o nome: passou a chamar-se “Recreativo Bar”.

No amplo espaço, esparramavam-se as mesas, sempre apinhadas e servia-se, em lustrosas taças, o inigualável sorvete. No corredor adjacente, com assentos semi-reservados, serviam-se apetitosos salgados e cerveja. As famílias ali reuniam-se em animadas rodas. Grupos de amigos, entretiam-se até altas horas. As edições do Reporter-Esso, com Heron Domingues, ouvidas através de um grande e sonoro receptor, davam notícias da segunda guerra mundial e faziam acorrer ao bar muitas pessoas. O passeio à porta, era a passarela da elegante juventude patense. O “vai-e-vem” iniciou-se ali. Mais tarde foi transferido para a Rua Benedito Valadares, hoje a majestosa Major Gote. Foi sem dúvida, uma época linda e romântica. Depois de demorados e apaixonados “flirts”, o namoro, o casamento.

Mas, a rapaziada do tio, concluído o ginásio, debandou-se. E um dia, já também cansado, lá se foi ele para o Rio de Janeiro, para junto dos filhos. O bar passou por vários e sucessivos proprietários. Nenhum alterou-lhe, o nome.

Agora porém, quem sabe até motivados pelo progresso, pela remodelação e embelezamento que experimenta a cidade os atuais proprietários reformaram-no e deram-lhe outro nome, vindo de longe… lá dos polos: “Pinguim”. Parece estar muito bonito e certamente fará sucesso ainda maior que o saudoso “Recreativo”. Houve festas e convites.

Na lucidez dos seus 89 anos, o tio Laurindo viu quando retiravam o antigo nome. Disse-me, sem qualquer recriminação aos proprietários, que sequer conhece, haver sentido como se estivesse perdendo algo muito seu, porque muito tinha de sua vida.

É isso ai, tio. Eu também, que guardo boas recordações do Recreativo, senti que, com aquela placa caía também mais um pouco da nossa história.

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 118 de 30 de junho de 1985 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Publicada em 25/10/2013 com o título “Rua General Osório no Final da Década de 1950”, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury. Em destaque o prédio da Sociedade Recreativa Patense.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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