DA CAPELINHA À MATRIZ

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TEXTO: MERCEDES MENDONÇA (1934)

Antigamente, quando Patos era ainda uma vasta fazenda, tinha como seu proprietario Manoel Correa Peres, sôgro de Silva Guerra, o doador do nosso patrimonio. Supõe-se que pela devoção que tinha a Santo Antonio resolveu dar um pedaço de seu terreno, afim de nele se construir uma capelinha, em homenagem ao glorioso santo. A doação foi feita no dia 19 de junho de 1826. Neste mesmo ano começaram a levantar a capelinha mór, de ripas de coqueiro e barro (pau a pique). Para os trabalhadores se agasalharem os construtores da capela fizeram uma casinha, a primeira do largo da Matriz, onde é hoje a residencia do dr. Afonso Borges.

A agua de que se serviram para a construção, foi tirada de uma grande lagoa, que começava pouco atraz da capela, estendendo-se até grande distancia. Naquela lagoa encontravam-se diversas aves bravias, entre as quais se distinguiam lindos patos. Dai a origem do nome com que mais tarde foi batizada a povoação crescente: “Santo Antonio – Arraial dos Patos”.

O primeiro altar foi feito de um simples caixote, onde foi colocada a pequenina Imagem do santo. Ali resava conjuntamente toda familia Silva Guerra.

Vinte e quatro anos depois de erguida a capelinha, quando já residiam diversos moradores no patrimonio é que a povoação foi elevada á paroquia, vindo dirigir a Capela o Rev. Padre Brito Freire, que aqui chegou no dia 19 de junho de 1850, entrando logo no exercicio de suas funções sacerdotais.

Apezar de conservar sempre a capelinha mór, levantou o Padre, com auxilio dos fieis, o corpo da Igreja, a principio terreo e sem fôrro. Para construção foram empregadas as melhores madeiras que existiam nas matas em redor do patrimonio, tais como balsamo, cedros, aroeira e jatobá. As paredes foram feitas de adobes. Servia a Igreja de cemiterio para as pessoas de maior consideração até o ano de 1874, data em que um missionario – Fr. Paulino – construiu e benzeu o cemiterio, onde está localizado, hoje, o soberbo edificio do Forum. Depois da morte do Padre Brito, ocorrida em 1.º de julho de 1875, os destinos espirituais da paroquia passaram a ser dirigidos pelo Padre Getulio Alves de Melo, que aqui chegara recem-ordenado no dia 20 do mesmo mez e ano, tendo oficiado durante 44 anos ininterruptos nesta terra. O Conego Getulio veio fixar residencia nesta cidade em 1854. Em 1889 com a elevação de Patos a categoria de cidade, a igreja passou por grandes e importantes reformas, tendo o Padre pedido, nesta ocasião, as imagens de N. S. da Abadia, Sagrado Coração de Jesus e outras. Em 1908 mandou o vigario construir a torre que deu á Matriz um melhor aspecto, onde em 1914 foi colocado o regulador publico.

Nesta época, já residia entre nós o dr. Eufrasio Rodrigues, que pronunciou um lindo discurso, congratulando-se com o povo e exaltando as qualidades pessoais do Conego Getulio.

No dia 26 de Novembro de 1919 falecia o velho e estimado paroco, deixando a população consternada. Para substitui-lo foi designado o Reverendissimo Conego Manoel Fleuri Curado, que aqui chegou em 29 de fevereiro do ano seguinte. Empregou desde o principio o melhor de seus esforços para remodelar a Matriz. Assim é que mandou modificar os altares, trocar as ripas da capelinha-mór por tijolos, forrar toda a Igreja, elevar a torre, mandou vir bancos, pintar as paredes internas, embocar o telhado. Adquiriu tambem novas imagens, dando novo aspecto á Matriz.

Apezar de ser para o povo de Patos um relicario de amor a velha Matriz não comporta mais o numero de seus fieis paroquianos. Dai a necessidade de construir uma outra. O Reverendissimo Conego Manuel Fleuri, possuidor de invejavel fé religiosa, carater nobre e sempre a praticar o bem e a servir á humanidade, resolveu construir a nova Matriz. Para isso contou com o auxilio e boa vontade do inolvidavel Presidente Olegario e a caridade do povo patense. No dia 13 de junho deste ano de 1934 foi lançada a pedra fundamental, benta pelo Bispo D. Luiz M. de Santana. As mesmas pedras que serviram ha 60 anos para cercar os restos mortais de mortos queridos estão servindo, agora para alicerçar as bases da Nova Matriz, que será, dentro de pouco tempo, o orgulho do povo de Patos.

N. da R. – O presente trabalho, da autoria da srta. Mercedes Mendonça, é de grande valor historico e foi feito baseado em velhos documentos rebuscados e cuidadosamente examinados. Aceitamos entretanto qualquer outra informação sobre o assunto ou qualquer detalhe que tenha ficado esquecido e venham esclarecer melhor este apanhado.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Matriz de Patos” na edição de 16 de dezembro de 1934 do jornal A Reforma, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Publicada em 19/08/2013 com o título “Antiga Igreja Matriz em 1916”.

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