DEODATO RODRIGUES DE OLIVEIRA

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DSC02441É fato que dos inúmeros forasteiros que aportaram em Patos de Minas nos idos tempos alguns se sobressaíram pela identificação com a cidade e se tornaram personagens que contribuíram para o seu progresso. Deodato Rodrigues de Oliveira é um digno representante deste grupo de pessoas que num período muito curto de estadia e trabalho na nova terra se tornaram patenses de alma e coração. Ele resume em quatro palavras o que sentiu ao pisar neste solo pela primeira vez: “Patos sorriu para mim”.

Deodato Rodrigues de Oliveira nasceu em 18 de setembro de 1924 na cidade de Três Corações, no Sul de Minas, onde residiam seus pais Vandelino de Oliveira e Prudenciana Vilela de Oliveira. Viveu poucos meses na terra natal, porque os pais se mudaram para Boa Esperança, na mesma região. “Papai era ‘marchand’ de gado (leiloeiro) e preferiu se mudar para Boa Esperança onde o comércio era mais intenso. E foi nesta cidade que eu fui registrado e isso só aconteceu quando eu tinha oito anos de idade”, conta ele.

Quando se mudaram para o município de Boa Esperança, a família foi morar numa fazenda, a Baú de Cima, localizada a quatro quilômetros da sede. Com seus cinco ou seis anos já lidava nos afazeres diários do campo e estudava numa escolinha na própria fazenda e depois na cidade. Na verdade, mais trabalhando do que estudando. Tanto que quando o pai o despachou para estudar o Ginasial em Dores do Indaiá ele tinha 18 anos de idade. Um ano depois foi para Três Corações. Mais um ano e se mudou para Três Pontas no intuito de fazer o Tiro de Guerra. Foi nessas andanças que ele conseguiu terminar a etapa de ensino. O próximo passo foi concluir o Científico no Colégio Anchieta de Belo Horizonte e finalmente conseguir realizar um desejo: formar-se em Contabilidade. Em 13 de dezembro de 1947 ele recebeu o “canudo” da Escola Técnica do Comércio Brasileiro na capital mineira.

Naquela época muitos recém-formados em cursos superiores sonhavam com uma realização profissional em São Paulo. Não foi diferente com Deodato. Entretanto, pouco tempo depois constatou que ia ter dificuldade em se firmar num emprego, pois seu diploma ainda não estava legalmente registrado no órgão competente que se localizava no Rio de Janeiro. Após três tentativas, resolveu voltar a Belo Horizonte onde o pai o aguardava com um advogado para tentar o registro do diploma. Resolvido o problema, a intenção era voltar para a capital paulista. Mas no reencontro com o Sr. Vandelino deu-se a grande reviravolta na vida de Deodato.

O pai estava hospedado no Hotel Gontijo (Rua Tupinambás, 731 – Centro). Quando chegou, Deodato topou com ele conversando com dois homens. “Eu cheguei, cumprimentei o papai e o mais velho dos dois perguntou quem eu era. O papai respondeu que era seu filho. Aí o mais novo respondeu dizendo que se chamava Vicente Pereira Guimarães (Vicente Mandu) e que tinha acabado de ser eleito prefeito de Patos de Minas. Ele me perguntou o que eu fazia e eu respondi que era Contador. Imediatamente ele me perguntou se eu queria ir trabalhar com ele. Eu, que nunca tinha ouvido falar de Patos de Minas, nem pensei em responder que queria. E foi assim, tão simples assim como eu vim para Patos de Minas. Ah, o outro homem era o pai do Vicente, o Juca Mandu. Como eles eram fazendeiros e iam muito ao Sul de Minas participar de leilões, acabaram se tornando grandes amigos. O Vicente ainda falou pro papai para ficar tranquilo porque o ‘menino’ ia se dar bem em Patos”, relata Deodato.

A mudança para Patos de Minas aconteceu alguns meses após o encontro. O “marco zero” de Deodato na cidade foi o dia 22 de setembro de 1948 quando ele chegou de mala e cuia para iniciar a sua carreira de Contador, inicialmente ficando hospedado no Hotel da Luz. Ele relembra de seus primeiros dias como funcionário da Prefeitura Municipal: “Foi muito difícil porque havia resistência por eu ser de fora e da maneira como fui contratado. Como eu gostei logo de cara da cidade e tinha o apoio irrestrito do Vicente Mandu, segui em frente e aos poucos fui sendo aceito, até que após o primeiro ano já tinha alguns amigos e a rejeição acabou”.

DSC02440A primeira prestação de contas do Prefeito foi um sufoco e deu muito trabalho ao novo Contador Municipal. “O documento foi redigido em duas vias naquelas antigas máquinas de escrever, mas tinha uma diferença para mais que não batia com meus cálculos e eu não conseguia descobrir. Até que examinando cuidadosamente, percebi que a tecla “5” não tinha marcado suficientemente o papel e o número ficou parecido com um “3”. Ufa, ai bateu direitinho”, relembra Deodato. Enquanto exercia seu cargo na Prefeitura, ele montou um escritório de contabilidade onde hoje é a sede da CTBC, ao lado do Fórum.

Por volta de 1955, com a sensação do “dever cumprido” na administração do Prefeito Vicente Mandu, Deodato transferiu seu escritório para o Edifício Paranaíba onde alugou uma sala. Pouco tempo depois, o proprietário do prédio, Huáscar Corrêa da Costa, se mudou para Niterói e resolveu vender o prédio. Como eram amigos, surgiu uma boa oportunidade para adquirir uma sala. Acabou comprando cinco e hoje tem quatro, sendo que numa delas ele ainda se mantém ativo.

Uma das coisas que chamou a atenção de Deodato quando aqui chegou foi a beleza da mulher Patense. Ele confessa que teve alguns “namoricos”, mas seu coração estava ligado à cidade de Ilicínia, lá pras bandas de Boa Esperança, mais especificamente na prima Maria Vera Cruz. “Depois de algumas visitas aos parentes lá no Sul de Minas, fui passar o carnaval em Poços de Caldas. Numa parada do ônibus em Ilicília, eu estava tomando um café quando ela me viu e veio correndo, toda feliz. Aí eu falei de supetão: Vou casar com você! Ela disse: Vamos ver! Eu só sei que pouco menos de um ano depois nos casamos, lá mesmo em Ilicínia. Isso foi em 1958. Aí eu trouxe ela pra cá e estamos casados até hoje, e foi o mesmo Padre Francisco Figueiredo que nos casou que abençoou as nossas Bodas de Ouro”, relembra um emocionado Deodato.

Deodato Rodrigues de Oliveira pratica a Contabilidade em Patos de Minas há 68 anos. Recorda com satisfação que em todas as reformas tributárias nenhuma das firmas para qual trabalhou teve falência ou concordata. Enfatiza que uma das melhores fases de sua vida foram os 23 anos como professor do Colégio Silvo de Marco. “A maioria dos Contadores que atuam hoje em Patos foram meus alunos, incluindo aí três ex-prefeitos: Arlindo Porto Neto, Antônio do Valle Ramos e Jarbas Cambraia”, conta ele.

Aos 91 anos de idade, Deodato Rodrigues de Oliveira, que não tem filhos, é mais um exemplo daqueles forasteiros que adotaram Patos de Minas como sua cidade. E Patos de Minas, em agradecimento ao que ele fez pela terra, também lhe adotou com o título de Cidadão Honorário, concedido em 17 de setembro de 1977. Não só a Contabilidade lhe ocupou estes anos todos. Deodato foi um dos fundadores do FEPAM (mantenedora do UNIPAM) e sentiu-se orgulhoso com uma homenagem daquela instituição de ensino que está devidamente registrada na Ata da Assembleia Geral Ordinária de 12 de maio de 2015: Neusa Helena aproveita para parabenizar o Conselheiro Deodato Rodrigues de Oliveira, que há muitos anos permanece de forma exemplar à frente do Conselho Fiscal da Fundação Educacional de Patos de Minas. Outras contribuições de Deodato ao progresso de Patos: participação na fundação do Caiçaras Country Clube, Aero Clube (em conjunto com Afonso Borges), Associação Comercial, Conselho Fiscal, Casa das Meninas (legitimava os balanços), Sindicato dos Contabilistas e ainda, numa proposição feita em Plenário da Câmara Municipal, foi responsável pela vinda do curso SENAC.

Deodato Rodrigues de Oliveira  deixa a seguinte mensagem ao povo patense:

“Peço encarecidamente ao jovem patense para construir, continuar construindo esta cidade belíssima, esta cidade que você tem toda segurança, toda diversão, que o povo sente quando um patense está em dificuldade. O ser humano patense é diferente, é um povo que trabalha em família. Deus vai me ajudar e eu continuarei até o final nesta terra bendita, ela foi feita pelo próprio Deus”.

NOTA: Deodato Rodrigues de Oliveira faleceu em 23 de outubro de 2022.

* Texto e fotos (13/08/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

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