JORNAL MUTIRÃO

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DSC02619Na fase marcada pelo cerceamento das liberdades, sobretudo da liberdade de expressão, durante a ditadura militar, a “imprensa nanica” assumiu um papel importantíssimo na apresentação verídica, análise e discussão profunda dos acontecimentos. Essa imprensa, também chamada “independente”, teve no jornal Mutirão o seu exemplar em Patos de Minas. Ele surgiu no final de 1976 e, apesar de ter circulado por um curto período de tempo, passou a fazer parte da história.

Cerca de 30 pessoas, interessadas em discutir temas da época, participaram das 4 edições do Mutirão (teve uma edição especial em 1987), se bem que apenas um pequeno grupo de 4 a 6 pessoas se envolveram mais diretamente na feitura do jornal. O sustentáculo financeiro simplesmente não existia, a princípio, como em quase toda a imprensa alternativa. O custo editorial (o jornal era feito em off set, em Belo Horizonte) era coberto com o dinheiro obtido da venda avulsa e de pequenos contratos publicitários com empresas patenses.

Thácio Santiago conta que o surgimento do Mutirão está ligado ao surgimento de um movimento de patenses que estudavam fora na época (segunda metade da década de 1970) e que se encontravam engajados no movimento estudantil de suas cidades; principalmente Brasília, Belo Horizonte e Viçosa, além de outros centros. Numa reunião destes estudantes, realizada no Salão da Igreja Santa Terezinha (Capuchinhos), foi lançada a ideia da publicação de um jornal de “de crítica, de análise”.

Segundo Thácio Santiago, o grupo que participava do Mutirão sentiu que a aceitação estava sendo muito boa por parte dos leitores. O Mutirão chegou a circular 3000 exemplares numa de suas quatro edições, dado o interesse que despertava.

Não obstante a aceitação do jornal, sobretudo por causa de seu conteúdo crítico-analítico, surgiram “problemas internos que impediram o fechamento da quinta edição, que estava praticamente pronta”, como diz Thácio e a continuação do Mutirão.

Todavia, mesmo não tendo durado mais do que seis meses, o Mutirão exerceu uma influência muito grande no surgimento de movimentos culturais e mesmo políticos da época. O jornal teve influência também no surgimento de jornais estudantis, como o “Cá Entre Nós” e o “Autêntico”, originários do clima favorável de fomentação criado pelo Mutirão em pouco tempo. Tudo isso, graças à discussão de temas políticos, sociais, culturais e econômicos dentro da linha editorial bem definida do jornal.

É bom lembrar que, naquele tempo, quem se dispusesse a discutir temas como os citados acima e, principalmente, a atuação das autoridades, era de certa forma tachado de “subversivo”. Assim, a exemplo do que aconteceu com a imprensa alternativa em todo o País, o Mutirão, em Patos de Minas, recebeu variadas formas de pressão durante seu curto período de existência. A maioria delas, logicamente, foram desencadeadas por aquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, estavam comprometidas com o poder – em suma, a direita.

As dificuldades enfrentadas pelo Mutirão tiveram reflexos inclusive em sua periodicidade. A princípio, o jornal deveria ter periodicidade mensal. Porém, nota-se pelos meses de cada número editado que esta meta não pôde ser atingida.

O primeiro número foi lançado em dezembro de 1976; o número 2 veio em fevereiro do ano seguinte; a terceira edição um mês depois; e, finalmente, o número 4 em maio de 1977. No número 2, os editores dão um recado aos seus leitores, dizendo do atraso: “Apesar do nosso comprometimento de lançar o Mutirão mensalmente, não nos foi possível diminuir o atraso com que o fizemos chegar até suas mãos. Razões burocráticas incontroláveis retardaram a distribuição deste número”.

No recado, publicado na página 2 daquele número, podia se apreender um pouco o teor do trabalho realizado pelo grupo do jornal. “Nosso trabalho resulta de um esforço coletivo em que cada artigo é discutido o mais amplamente possível. Trabalhamos em condições precárias; e para que o leitor possa ter uma idéia, basta citar que nos falta até mesmo espaço físico para o desencadeamento desse debate”, escreveram os editores. Dessa forma, surgiram os “problemas internos”, como classifica Thácio Santiago, que acabaram por inviabilizar a continuação do Mutirão. Mas isso não impediu que o jornal se tornasse parte importante da história da imprensa escrita de Patos de Minas.

Entre os participantes do Mutirão, citamos:

Abel (Zinho), Antônio Carlos Santiago, Antônio Eustáquio Corrêa (Grilo), Augusto Carvalho, Carlos Alberto Donâncio Rodrigues (Xaulim), Cícero Pinto (Padim), Clécio Vieira, Clênio Pereira, Elizabeth Andrade, Francisco de Assis (Chico Preto), Geraldo Magela, Gilberto Ribeiro de Castro (Betão), Gilmar Ribeiro de Castro, Jaime Wesley, Jane Gonçalves, Jane Simões, José Manoel, Luiz Henrique, Luiz Pinheiro, Márcia Vieira, Marilene Machado (arte), Paulo Roberto (Paulão), Romênio Pereira, Romero Carvalho, Rômulo Andrade (chargista do jornal), Tenório Santos e Thácio Santiago.

Além destes, vários outros participaram da breve, porém marcante, existência do jornal alternativo Mutirão.

* Fonte e foto (Eitel Teixeira Dannemann): Edição n.º 153 de dezembro de 1986 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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