CUPIM DO MATEUSINHO, O

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HISTORIAS DE PESCADOR - MURALJOIA.COMO Mateus José de Araújo, vulgarmente conhecido por Mateusinho, por sinal um dos melhores marceneiros em nossa cidade, arrumou uns companheiros para uma pescada no Rio Preto, na famosa Barra da Bezerra. Era o Zé Meireles, com seu inseparável e tradicional boné do Atlético; o Margoso e o Geraldo Teixeira, nosso estimado Teba, lá do Expresso Santa Marta. Como sempre, os preparativos são melhores do que a festa. De qualquer forma, o Mateusinho, no preparo dos “comes”, era pródigo em elogios a um cupim, que só ele sabia escolher, preparar e assar e que iria levá-lo para se divertirem na beira do rio, naturalmente bem regado. Esta outra parte, isto é, a dos “bebes”, ficaria a cargo do Teba.

O dia não estava propício para a pesca, pois ventava muito. De fato, nada pegaram a manhã inteira e já se andava pelo meio dia. A turma, decepcionada com este fracasso, apelou para o decantado cupim do Mateusinho, que durante a viagem aguçara o apetite dos pescadores. Modéstia a parte, estava cheiroso mesmo. E dado o adiantado da hora, devia ser dos mais apetitosos.

O Mateusinho, então, todo solene, com um bom riso no canto da boca e antevendo a satisfação dos companheiros, ao saborear o bem preparado cupim, trás a caçarola, pedindo que limpassem bem a boca, porque aquilo era coisa fina!

O Teba passava a mão pelo couro liso da cabeça, outrora bem ornamentada de cabelos, exclamando: – Vamos, gente, depressa, senão eu destampo essa caçarola nem que seja a tiro! Estou com o estômago lá nas costas!

O Zé Meireles, arrancando desesperado o bonezinho atleticano, joga-o no chão e esfregando as mãos, diz: – Vai sê bão, treim!

O Mateusinho, com toda paciência e encenação, adverte os companheiros: – Calma, gente, devagar, senão o negócio cai no chão! E como um mágico, retira solenemente a tampa da vasilha. Que surpresa! Salta de dentro da caçarola um enorme gambá, mal cheiroso, com o abafamento de sua nova instalação.

– Oh!… exclamaram todos. O que é isso, Mateus? Não brinca não, sô! Essa é demais! Nós com uma fome desgranhuda e você faz uma coisa dessa agora?!

Sem nenhuma explicação convincente, o perito cozinheiro, estranhando o caso e decepcionado, apenas pôde dizer: – É… não sei. Só se ele entrou aqui sozinho. E quem teria tampado a caçarola?

Afinal, não tiveram outra saída, senão voltar para casa esfomeados. No caminho, só diziam: – Cadê o cupim, Mateusinho? E o Mateus só respondia: – O danado virou gambá!

Dona Estevina, esposa do Teba, ao ter conhecimento do caso, é que deu a última palavra:

– O seu Mateus mostrou ser bom mágico e nada de cozinheiro!

* Fonte: Texto publicado sem título na coluna Todo Pescador Mente da edição de 03 de julho de 1979 do jornal Boletim Informativo, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Muraljoia.com.

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