AGOSTINHO RODRIGUES GALVÃO: FALECEU O 1.º PRESIDENTE DA UEP

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AGOSTINHO RODRIGUES GALVÃONão tive o privilégio de conhecer pessoalmente o senhor Agostinho Galvão, que veio a falecer recentemente em Brasília (16/01/2016). Mas o conheci através de seus artigos publicados na Folha Diocesana no final da década de 1950 e princípio dos anos 1960 e também através dos relatos familiares. Deixou um legado de conduta ilibada, de obstinação ao trabalho e à ética cristã. Sua existência foi um exemplo, não só para a família, bem como para todos que tiveram a oportunidade de conviver com ele. É importante para a história de nossa cidade trazer à tona alguns dados biográficos, ainda que breves, do ex-líder estudantil na juventude e professor de vários educandários da nossa cidade.

Agostinho Galvão foi casado com Célida Fonseca Galvão, da tradicional família Pereira da Fonseca. Ela tem como irmãos: Alfredo, Hélida, Antônio, Altamir e Cleusa. O casal viveu uma vida marcada pelo companheirismo, por um profundo sentimento de cristandade, de amor e de dedicação à família e aos amigos.

Agostinho Rodrigues Galvão nasceu em 14 de agosto de 1928, em São Gonçalo do Abaeté. Cursou até o 4º ano do curso de Teologia, no Seminário do Coração Eucarístico, em Belo Horizonte. Em 1957, passou a residir com a família em Patos de Minas. Aqui teve larga convivência com os religiosos católicos – padres e o bispo diocesano. Inicialmente, padre Almir Neves de Medeiros o indicou secretário da Cúria Diocesana e depois o designou revisor do semanário Folha Diocesana, cuja circulação se iniciou em 28 de outubro de 1956. No mesmo ano, padre Josias Tolentino de Araújo, um dos dirigentes da Escola Técnica do Comércio Pio XII (depois Colégio Comercial Sílvio de Marco) o contratou como professor de Economia Política, Matemática e Francês. No ano seguinte, tornou-se professor substituto de Língua Francesa, na Escola Normal Oficial, hoje Escola Estadual Prof. Antônio Dias Maciel.

Como não havia concluído o curso de Teologia, por ter abandonado o Seminário, Agostinho Galvão matriculou-se no ano de 1958, no Curso Técnico de Contabilidade (ensino médio) do Colégio Sílvio de Marco. Aí se deu um fato inédito: simultaneamente se tornou aluno e professor da mesma instituição. Mesmo assim, continuou a exercer suas atividades como Secretário da Cúria.

É importante destacar que Agostinho Galvão, além de professor no Colégio Sílvio de Marco, no ano de 1959, passou a lecionar Matemática e Filosofia da Educação no Colégio Nossa Senhora das Graças. E no ano, seguinte, em 1960, com a criação do Colégio Municipal de Patos de Minas, que posteriormente tornou-se o Colégio Estadual, foi contratado como professor de Matemática no curso ginasial e também foi eleito membro do Conselho Técnico Administrativo da instituição, responsável pela emissão de pareceres sobre assuntos didáticos, disciplinares ou administrativos.

1958 constitui um marco na vida estudantil de Patos de Minas: a organização de uma entidade para defender os interesses dos estudantes. Por sugestão do padre Almir Neves de Medeiros, foi formada uma comissão para elaborar os Estatutos da União dos Estudantes Patenses (U.E.P.), bem como de promover a eleição da primeira diretoria da entidade estudantil. Em reunião realizada no Cine Olinta, no dia 13 de abril de 1958, o Estatuto foi aprovado pelos estudantes. A coluna “Observatório Estudantil”, publicada na Folha Diocesana, trouxe a íntegra do discurso do falecido Agostinho Galvão, pronunciado naquela ocasião:

Reunidos nos encontramos os estudantes da nossa querida Patos de Minas, para tratar da união e unificação da classe estudantil. […] O estudante, antes de tudo, é homem, é um ser dotado de razão, é um animal inteligente e como tal age e como tal deve ser tratado. De ser o homem inteligente, lhe advém essa joia incomparável da liberdade, pela qual, proposto um fim, podemos escolher os vários meios que a ele conduzem. […] Portanto, os estudantes não são apenas depósito de lições, mas são seres humanos, que, a par dos seus sagrados deveres para com Deus, consigo e com a sociedade têm também seus direitos não menos sagrados de ser respeitados como pessoas humanas. […] E para isso, para esclarecer a juventude estudantil patense sobre seus direitos e seus deveres, para fazê-la viver a plenitude da personalidade humana no justo conceito de liberdade, é que surge como promissora realidade, a União dos Estudantes Patenses ou U.E.P., como guardiã de nossos direitos e despertadora quanto a nossas obrigações; essa entidade que visa a unificação de toda a juventude estudantil patense, para o maior engrandecimento de nossa terra e também de nossa pátria estremecida.

E o estudante Agostinho Galvão finalizou a sua fala, a qual foi muito aplaudida pelos estudantes presentes, de forma enfática: Não é possível que os jovens estudantes de nossa bela cidade permaneçam indiferentes diante deste magnífico empreendimento que um quinteto de moços idealistas lançou ao campo da realidade. Compete-nos agora, meus caros jovens, levar avante tão feliz iniciativa.

Em seguida à aprovação dos estatutos, alguns postulantes se colocaram como candidatos à presidência: Waldemar Antônio Mendes, Augusto Olímpio Queiroz, dentre outros. Devido às intrigas que surgiram na condução do processo eleitoral, o nome de Agostinho Galvão, surgiu como o “elemento pacificador em todos os círculos estudantis e foi lançado como candidato único à presidência da UEP”, assegura Geenes Valentim, em dissertação de Mestrado na UFU, em 2009. Essa afirmação realmente procede, pois Agostinho Galvão contou com o apoio decisivo de outro líder estudantil, Altamir Pereira da Fonseca, que o indicou como candidato. Assim, no dia 26 de abril de 1958, Agostinho Rodrigues Galvão tornou-se o primeiro presidente da União dos Estudantes Patenses, tendo como vice–presidente Ricardo Rodrigues Marques e 1º Secretário, Altamir Pereira da Fonseca.

Agostinho colaborou juntamente com a sua Diretoria na organização e estruturação da entidade estudantil, mas devido ao excesso de atividades exercidas (como professor de diversas disciplinas e secretário da Cúria) viu-se obrigado, em 1959, a deixar a presidência da UEP, repassando-a ao seu vice, Ricardo Marques.

Em carta endereçada ao professor Altamir Pereira da Fonseca, em 8 de março de 2005, Agostinho Galvão relatou um pouco de sua história na edificação da U.E.P: “Vale destacar aqui o apoio que recebemos (todos nós da U.E.P.), de várias pessoas, não só do
Padre Almir e Padre Josias, como do professor Altamir Pereira da Fonseca, a quem o futuro destinava a honra de ser o fundador e incentivador do primeiro estabelecimento de ensino superior da cidade”.

Ainda no transcorrer do ano de 1960, foi aprovado em concurso público para os Correios e Telégrafos. Foi nomeado e em seguida, transferido para Uberaba, onde fez o curso de Direito. Posteriormente, mudou-se para Brasília. Nesta cidade, fez também o curso de Ciências Contábeis.

Da união matrimonial entre Célida e Agostinho, nasceram os seus dois filhos. Malthus Fonseca Galvão que possui cursos superiores nas áreas de Matemática, Odontologia, Medicina e Direito. Possui mestrado (em Odontologia legal e Deontologia) e doutorado (em Ciências Médicas). Atualmente, é professor na Universidade de Brasília (UnB). A outra filha do casal é Márua Fonseca Galvão, odontóloga, residente em Niterói/RJ, com pós-graduação em Dentística Restauradora e Prótese Dentária e membro da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética.

Agostinho Galvão foi Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e aposentado dos Correios. Pela sua trajetória de vida e conduta profissional, em São Gonçalo do Abaeté, Belo Horizonte, Patos de Minas, Uberaba e Brasília, é preciso ressaltar que esse cidadão probo conseguiu fazer “um milhão de amigos” ao longo de sua existência. Agostinho Galvão, um homem religioso, estudioso da filosofia e do saber, era sintonizado com o passado, o presente e o futuro. Enfim: um intelectual erudito e completo.

Acredito que ele concordaria com as palavras do pensador Leonardo Boff, que, em Vida para além da morte, nos traz algumas reflexões bastante pertinentes: “Mas se interpretarmos a morte como uma invenção da vida, como parte da vida, então não a morte, mas a vida constitui a grande interrogação […] A vida não é nem temporal, nem material, nem espiritual. A vida é simplesmente eterna. Ela se aninha em nós e, passado certo lapso temporal, ela segue seu curso pela eternidade afora”. Em outro texto, “Vida para além da vida”, Boff enfatiza: “Se olharmos à nossa volta, constatamos que a morte é a grande senhora de tudo o que é criado e histórico, pois tudo é submetido à segunda lei da termodinâmica, à entropia. A vida vai gastando seu capital energético até morrer. A vida mesma é um grande mistério, embora seja entendida como a auto-organização da matéria quando colocada longe de seu equilíbrio, quer dizer, em situação de caos. De dentro do caos, irrompe uma ordem superior que se auto-regula e se reproduz: é a vida. Mas isso não explica a vida. Apenas descreve o processo de seu surgimento. Ela continua misteriosa, como os próprios biólogos e cosmólogos continuamente o atestam”.

* Fonte e foto: Texto de Altamir Fernandes de Sousa (Professor de História do UNIPAM) publicado com o título “Faleceu em Brasília o primeiro presidente da UEP” e subtítulo “Agostinho Galvão, Presidente da União dos Estudantes Patenses em 1958, faleceu na capital federal em 16 de janeiro deste mês, aos 87 anos”, na edição de 23 de janeiro de 2016 do jornal Folha Patense.

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