QUESTÃO DOS QUILOMBOS, A

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Desde o início da colonização brasileira, o Estado de Minas Gerais foi visitado por aventureiros em busca de riqueza, principalmente metais preciosos, como ouro, prata e esmeralda. Muitas minas de exploração foram abertas e nelas a mão de obra extenuante era quase que exclusivamente de escravos negros.

A existência de população negra na nossa região, antes da chegada dos brancos, pode ser considerada inquestionável, de acordo com opiniões de diversos autores.

Oliveira Mello é categórico em afirmar que “o território patense, até 1760, era habitado apenas por negros fugidios das minas de Paracatu e de Goiás, que formavam quilombos às margens do Rio Paranaíba”. Esta informação é deveras interessante, pois não podemos nos esquecer da presença dos habitantes naturais da região, os Caiapós ou Cataguases¹. Se a informação de Mello for literalmente exata, isto é, de que havia apenas negros, das duas uma: ou os índios já haviam se retirado ou os próprios negros os expulsaram.

Geraldo Fonseca afirma que, antes da chegada dos pioneiros brancos, esta terra foi habitada por negros; porém, não categoriza a informação, dizendo que “não se sabe quantos anos durou aquele homizio dos pretos da beira do Paranaíba”. Segundo ele, “nada contraria a versão de que até 1760 o caminho para Paracatu, que passava pelo atual território patense, nada mais era do que uma trilha à margem da qual habitavam poucos negros, no quilombo do Paranaíba”.

Geraldo Fonseca se apóia nas informações contidas na Carta de Sesmaria de Afonso Manoel Pereira². No pedido, ele afirma que “no sertão das margens do Rio Paranaíba se acham terras de campos e matas devolutos, de parte desta Capitania, servindo somente de asilo aos negros fugidos dos moradores do Paracatu e Goiás, de onde sai contínuos assaltos”.

Antes mesmo de receber a Carta de Sesmaria, Afonso Manoel e seus companheiros iniciaram o extermínio dos quilombos. L. Barreto, em História de Arcos, também faz referência à destruição de diversos quilombos na região, entre eles o do “Rio Paranaíba”. “Em 1760, numa campanha sanguinária anterior à de Pamplona, o Bartolomeu Bueno do Prado e Salvador Jorge, seu primo, comandaram uma escolta de 400 homens, por ordem do governador Gomes Freire de Andrade, que entrou no sertão de Campo Grande e ‘consumio, abrazou e destruiu toda a multidam de negros aquilombados pelo Andaya Bambuhy, Corumbá […] Santa Fé, Jacuy, Rio das Abelhas, Rio Grande e Rio Parnahyba’, desinfestando a região”.

R. Santos Luiz fez excelente pesquisa sobre os últimos anos da escravidão negra na Vila de Santo Antônio dos Patos. Baseando-se em fontes primárias, encontradas no Fórum Olympio Borges, demonstrou que muitos negros foram vendidos e comprados em Patos de Minas e evidenciou “o papel do negro como sujeito atuante na história da formação da cidade de Patos de Minas”. A história oficial praticamente não fala sobre o negro e muito menos sobre a escravidão por aqui³. Talvez pela escassez de fontes; porém, principalmente por falta de pesquisas a esse respeito e pelo predomínio do elemento branco.

* 1: Leia “A Questão dos Índios”.

* 2: Leia “Carta de Sesmaria de Afonso Manoel Pereira”.

* 3: Leia “Negociação de Escravos Nos Tempos da Vila”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello, e A História da Diocese de Patos de Minas, de Nilson André Fernandes.

* Foto: Pintura de Johann Moritz Rugendas, habitação de negros semelhante às dos Palmares, Viagem Pitoresca Através do Brasil, 1835.

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