BENEMÉRITO PATENSE

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TEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2013)

O doutor Marcolino Ferreira de Barros, advogado, baiano, cunhado de Olegário Dias Maciel, foi um dos mais eficientes prefeitos de Patos. A nossa assertiva é fundamentada, pois justamente em seu mandato foram inaugurados dois grandes elementos de progresso em qualquer cidade: a água encanada¹ e a energia elétrica². Ambos os eventos foram comemorados em 1915, com muita euforia, pela pequena população de outrora. A água canalizada era oriunda de uma nascente na fazenda de Amadeu Dias Maciel, a qual dá origem ao Córrego Limoeiro. Já a usina hidrelétrica foi construída nas proximidades do Arraial dos Afonsos, gerada pela força das águas do Ribeirão da Mata. Durante décadas, com o acréscimo de algumas melhorias, a água permaneceu suficiente para servir os seus usuários. Todavia, a energia elétrica, dentro de pouco prazo demonstrou sua ineficácia. Houve reforço na gestão do Prefeito Camundinho (Clarimundo José da Fonseca Sobrinho), com o uso de gerador a óleo diesel, situado na praça da distribuidora, como era conhecida por todos a Praça Desembargador Frederico. A situação foi ficando insustentável quanto à energia elétrica. Nova providência foi tomada pelo Prefeito Camundinho através da construção da Usina de Lages, com utilização das águas do Ribeirão das Lages, situada no vizinho município de Coromandel. Poucos anos depois, nova carência de luz. Qual a solução plausível? A prefeitura municipal não dispunha de recursos para arcar com a construção de qualquer fonte energética. A deficiência era tão patente que os usuários se viam em desespero, uma vez que, além da escassa iluminação pública ou privada, nem mesmo podiam conservar os alimentos adequadamente, pois que as geladeiras só funcionavam durante a noite.  Assim sendo, somente um desfecho tornaria viável a chegada da tão cobiçada energia, que fosse suficiente para o presente e, notadamente, para o futuro – A CEMIG (então denominada “Centrais Elétricas de Minas Gerais” e hoje “Companhia Energética de Minas Gerais”).

Durante este penoso impasse era prefeito de Patos de Minas o conhecido “Binga”, Sebastião Alves do Nascimento, pai do também prefeito Elmiro Alves do Nascimento e da prefeita “Béia”. A luta de “Binga” para conseguir trazer para a nossa cidade tal benefício foi bem evidente. Diversos movimentos populares foram chefiados por ele para tocar a sensibilidade do Governo do Estado de Minas Gerais, maior acionista da ainda novel empresa. Depois de muitos esforços e insistência pelos interessados a CEMIG se dispôs a assumir a energia elétrica em Patos, impondo, entretanto, certas exigências. Entre as condições requeridas, a mais importante era a reivindicação da compra de vinte milhões de cruzeiros de suas ações, então uma vultosa quantia. O motivo principal de tal pretensão é que esta empresa estava em expansão e necessitava, sobremaneira, aumentar o seu capital. Logo chegou ao conhecimento da população a grande possibilidade de que teríamos energia elétrica de boa qualidade em nossa cidade, a exaltação grassou em todos os lares tão sacrificados. Os meios de comunicação, durante dias só comentavam o assunto CEMIG. Tão logo possível teve início a campanha para a compra das ações.

Lembro-me bem, o Banco da Lavoura de Minas Gerais S.A. posteriormente Banco Real, resolveu financiar pequenos valores para difundir a venda das ações, gerando oportunidades para a contribuição dos menos afortunados. Os cidadãos que dispunham de mais recursos chegavam a adquirir consideráveis volumes de ações. Durante poucos meses, todos aqueles que pretendiam ser acionistas da entidade já o haviam feito. Os recursos populares chegaram à exaustão. Infelizmente, o valor total não ultrapassava doze milhões de cruzeiros. Apelos foram efetuados à CEMIG para “deixar” a exigência pelo valor arrecadado sem, contudo, conseguir o intento. O que fazer?

Eis que a solução surgiu inopinadamente. O grupo Votorantim, do Estado de São Paulo, através de uma das suas coligadas, a Companhia Mineira de Metais, daria início à exploração de metais valiosos existentes no subsolo do município de Vazante, no Noroeste Mineiro. Para o beneficiamento destes metais era condição primordial a farta existência de energia elétrica. Um dos locais estudados pelos técnicos para sede da indústria era justamente em Patos. Por este motivo, esteve nesta cidade o baluarte da Votorantim, o então senador José Ermírio de Morais, progenitor do hoje chefe das empresas do referido grupo, Antônio Ermírio de Morais, com a intenção de conhecer uma das áreas plausíveis do mencionado beneficiamento. O senador paulista foi muito bem recebido pelo prefeito “Binga” e a elite patense da época. Este tratamento “VIP” foi muito importante, como veremos. Depois de numerosos estudos houve opção da Votorantim por um local à margem direita do rio São Francisco, município de Três Marias, onde se encontra a hidrelétrica de mesmo nome. A escolha decepcionou o povo patense. Tantos sonhos foram desfeitos com a opção da empresa, porque tal fato garantiria a presença da energia, empregos que brotariam o dinheiro que circularia, os impostos que seriam pagos, a repercussão nos jornais e outros mais. Desapontamento geral!

Chegando ao conhecimento do ilustre senador José Ermírio a desilusão dos patenses, que tanto o agradaram, pela impossibilidade do esperado empreendimento e, ainda mais, do atravancamento do benefício da energia elétrica, o milionário não titubeou: comprou as ações necessárias para completar o exigido. Tornou-se, desta maneira, o senador José Ermírio o grande responsável pela vinda do almejado benefício para nossa cidade. O fato da generosidade do conhecido senador, nos favorecendo sem nenhum interesse financeiro ou político é desconhecido de grande parte da nossa população. A história perdeu-se no tempo. Aproveito a oportunidade para que cheguem ao conhecimento dos amigos as benesses numerosas que nos proporcionou o senador paulista.

NOTA 1: A Cemig começou a gerar energia elétrica em Patos de Minas em 1963, e no meio rural em 1964.

NOTA 2: O fotógrafo Sandro Alves opina em 02/08/2014:  “Excelente texto. É muito interessante saber de fatos como os relatados nesta crônica. Cheguei em Patos com seis meses de idade em fins de 1966. Nunca imaginaria que a CEMIG chegara poucos anos antes de mim. Esta chegada da luz do órgão do governo mineiro parece datar justamente dos primeiros anos de namoro de meus pais. Meu bisavô Otaviano Bernardes de Andrade já morava então em Patos, vindo de Presidente Olegário. Lembro-me com clareza das ruas e praças iluminadas de Patos, na minha infância, por volta de 1971. A criançada brincava na praça da matriz à altura da Afonso Pena em plena noite. Outros tempos, outras luzes. E o pai do Antônio Ermínio contribuiu para o bom andamento das coisas, em dado momento da história. Quem diria! Muito significativo para mim ter ciência destes fatos. Parabéns ao autor e ao sítio que veicula o texto.”

* 1: Leia o texto “Água – Do Rego à Torneira”.

* 2: Leia o texto “Eletricidade: Da Lamparina à CEMIG – Histórico da Força e Luz”.

* Foto: Arquivo da CEMIG.

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