APELO E EXORTAÇÃO ÀS MÃES DE 1898

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Em 1898, o Inspetor Municipal de Ensino, Eduardo Ferreira de Noronha¹, faz um apelo às mães para que, dentro do prazo legal, matriculem seus filhos. Faz ver ainda que, não sendo atendido o pedido, brando e suassório, empregará os meios que a lei prescreve.

Neste documento está a preocupação da autoridade quanto ao pouco caso das mães em matricularem seus filhos nas escolas. Ao mesmo tempo, quem sabe na tentativa de mexer com os brios das mesmas, Eduardo Ferreira de Noronha faz uma exortação apaixonada às mulheres que se tornaram mães.

A lei n.º 41 de 03 de agosto de 1892 e seu regulamento n.º 655 de 17 de outubro de 1893 dispõe que o ensino primário seja obrigatório para os meninos, de ambos os sexos, de 7 a 13 anos de idade, que os pais, tutores, patrões e protetores sejam obrigados a fazer com que os meninos sob sua autoridade, e em idade escolar, freqüentem a escola pública primária do Estado ou particulares, matriculando-os no prazo de vinte dias, contados do dia 16 de janeiro de cada ano. Para efetividade da obrigatoriedade do ensino, manda a lei que se faça o recenseamento dos meninos escolares, no período que decorre de 15 de outubro a 15 de dezembro; o que ainda não se pôde fazer neste município.

Antes de empregar os meios legais obrigatórios, venho por meio do órgão oficial dos poderes do Estado, fazer apelo às mães de família, e às autoridades judiciais e policiais do município para a efetividade do cumprimento do regulamento acima referido, fazendo com que as escolas do município sejam freqüentadas, fazendo sentir a necessidade de darem instrução aos meninos de ambos os sexos.

Se esgotados os meios brandos e suassórios, não se conseguir a freqüência dos meninos nas escolas então serei obrigado a empregar os meios que a lei determina.

Em primeiro lugar compete a educação dos filhos aos pais, e na infância às mães de família.

A mulher, que é a obra mais perfeita da criação, foi escolhida por Deus para conceber, nutrir e criar o homem; ela é a fonte de toda felicidade e berço da humanidade, porque é em seu seio que se reproduz a semente das diversas raças que fazem a Sociedade e perpetuam o gênero humano e a sua grandeza. Tornando-se mães são as mulheres a obra prima do Universo, porque elas criam os homens de caráter, os gênios, e dão origem a outras tantas mães que fazem a cadeia com que se prende o passado de trevas e cativeiro ao presente de conquistas e liberdade. É em seu coração que pulsa o amor materno, que é o maior tesouro que se conhece, o bem mais puro, o motor mais forte de todos os grandes heroísmos, a única coisa no mundo que se eleva a um santuário e que nem a ignorância, nem as crenças dos diversos povos, nem os instintos dos animais ferozes podem negar, ofuscar ou desprezar!

Seu império é como o sol que ilumina o mundo, sempre brilhante e sempre puro, pois não são as impurezas nem os instintos maus capazes de tirar dele a menor porção de seu enorme valor. Felizes os que têm uma mãe para amar e adorar, e dela receberem a educação, felizes os povos que conseguirem ter entre si mães de família capazes de educar bens seus filhos; porque a nação que tiver mães preciosas em seu seio caminhará na vanguarda de todos os povos.

São as mães de família os autores de toda grandeza social, porque o mundo compõe-se de famílias e elas são a base e o pedestal que a sustentam. Como se poderá, pergunta Fontanelle, policiar a educação com maior cuidado do que por meio das mulheres que, além da assiduidade natural em suas casas, e da natural autoridade que têm sobre as crianças, têm ainda a vantagem de haverem nascido cuidadosas, dadas aos seus detalhes industriais e são por sua natureza insinuantes?

Contando pois, com o concurso das mães de família, e autoridades judiciais e policiais deste município, espero, que no dia 16 de janeiro próximo futuro, abram-se as escolas e que sejam uma realidade, e não uma fantasia como até o presente têm sido as escolas, com pouca exceção.

Patos, 25 de dezembro de 1898.

a) O Inspetor Escolar Municipal, Eduardo Ferreira de Noronha.

* 1: Pesquise “Eduardo Ferreira de Noronha”. Há muitos textos sobre ele.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

* Foto: Infohoje.com.br, meramente ilustrativa.

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