IMBRÓGLIO ENTRE ARLINDO PORTO E A RÁDIO CLUBE DE PATOS NOS IDOS DE 1987

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4Mais do que muita gente pode imaginar, as acusações, ou fortes insinuações, feitas pelo Prefeito do Carmo do Paranaíba contra o PMDB patense, gerou novos problemas entre a Rádio Clube de Patos e o Prefeito Arlindo Porto, que desde as eleições do ano passado não conseguem se entender. Não resta dúvida, também neste caso, de que os interesses políticos do deputado estadual do PFL, Elmiro Nascimento, proprietário da emissora, entraram em choque com interesses do mesmo gênero, mas em sentido contrário, das lideranças políticas do PMDB local, que desejavam responder às acusações de Ajax Barcelos naquele órgão de comunicação, veiculador das declarações do prefeito carmense.

Tudo começou na quinta-feira, dia 5 de março, quando o noticiário “Radar”, da Rádio Clube, divulgou uma entrevista com o Prefeito Ajax Barcelos, de Carmo do Paranaíba. Onde o PMDB de Patos era acusado de tentar convencer Newton Cardoso a não chamar o prefeito carmense para tomar parte em seu governo. Segundo o entrevistado, a notícia de que o novo governador o convidara a participar do governo vazou “e o PMDB de Patos se assanhou”, para bloquear sua nomeação. “Patos fica sem nada, desde que não seja dado nenhum cargo também a Ajax Barcelos”, disse o prefeito carmense, atribuindo tal posicionamento ao PMDB local que o teria colocado, na opinião de Ajax, como uma exigência ao Governador Newton Cardoso.

“Não acho justo que alguém reivindique obstruindo alguém. Não se faz política pisando no calcanhar de ninguém”, disse Ajax Barcelos ao repórter Jonas Silva, da Rádio Clube. Na entrevista, ele questionou a convocação de quatro deputados federais para as secretarias, o que deu oportunidade a José Mendonça de Morais, quarto suplente, de assumir uma cadeira na Constituinte, “exercendo um mandato para o qual não foi eleito”. Para Ajax Barcelos, a convocação de quatro deputados federais para o secretariado trouxe o perigo de que Genesco Aparecido, quinto suplente, que trabalhou pela eleição de Itamar Franco, venha assumir um mandato, caso seu irmão José Aparecido, governador peefelista do Distrito Federal, resolva chamar um deputado Constituinte do PMDB mineiro para ser Secretário de seu governo.

As declarações do Prefeito de Carmo do Paranaíba tiveram logo o efeito esperado: o PMDB se sentiu ofendido e o Prefeito Arlindo Porto quis dar a resposta. Na manhã de sexta-feira, dia 6, o prefeito entrou em contato com a Rádio Clube de Patos revelando seu desejo em responder às acusações veiculadas no dia anterior no programa noticioso da emissora, que vai ao ar diariamente das 12 às 12 horas e 30 minutos. “A nossa preocupação em prestar esses esclarecimentos não era apenas com o intuito de responder, em fazer com que a comunidade fosse esclarecida a respeito da verdade”, garantiu o Prefeito de Patos à Debulha recentemente.

Arlindo Porto fez questão de ressaltar que não foi procurado pela Rádio para emitir sua posição a respeito das declarações de Ajax Barcelos, o que considera que seria o comportamento correto por parte da emissora. Sobre as acusações do Prefeito de Carmo, Arlindo Porto prefere ser ponderado. “Eu acredito que o meu colega Ajax Barcelos não estava informado da veracidade dos fatos. Considerando que na verdade não houve qualquer interferência nossa, entendo que o Ajax não tem razão em ter feito qualquer manifestação a respeito”, alega o prefeito, referindo-se à obstrução mencionada pelo político carmense na entrevista à Clube de Patos.

Na verdade, os responsáveis pelo jornalismo da emissora enviaram o repórter Dercílio de Souza ao gabinete do prefeito, onde foi gravada uma entrevista – a resposta, ainda que Arlindo Porto não use a expressão – que iria ao ar naquele mesmo dia, ou seja, 6 de março, no mesmo programa “Radar”. Todavia, naquele mesmo dia, Ajax Barcelos inaugurava em Carmo do Paranaíba o Terminal Rodoviário e a Rádio Clube transmitia ao vivo as solenidades, o que fez com o esquema do programa jornalístico fosse alterado. Desta forma, por volta das 13 horas, segundo Arlindo Porto, como a matéria ainda não tinha ido ao ar, o prefeito patense achou por bem solicitar que a matéria fosse divulgada na segunda-feira, dia 9, no mesmo horário e no mesmo programa em que havia sido veiculada a entrevista com Ajax no dia 5.

5Arlindo Porto diz que decidiu pedir a transferência da matéria para o programa do dia 9 por uma questão “ética, em consideração à solenidade que estava sendo realizada em Carmo do Paranaíba e também por achar já ultrapassado o horário do programa”. Se Arlindo foi inteligente em não admitir a divulgação fora do horário normal do programa, pois às 13 horas o público ouvinte já não é mais o mesmo das 12 ou das 12 horas e 30 minutos, o final de semana lhe foi altamente prejudicial. Na segunda-feira a Rádio Clube não divulgou a resposta de Arlindo Porto ao Prefeito Ajax Barcelos, nem informou ao Chefe do Executivo patense dos motivos que a levaram a tal comportamento. A partir de então, as relações deixaram de ser cordiais. Ao tentar saber a razão da não veiculação da matéria, Arlindo Porto foi informado por Wilson Carvalho, redator e apresentador do “Radar”, que “por ordens superiores” não poderia levar ao ar a gravação com o Prefeito de Patos. “Eu mantive contato com o responsável pelo programa, quando ele nos informou que, por ordem superior, a matéria havia sido censurada e que não tinha autorização para que a gravação, feita quatro dias antes, pudesse ser retransmitida pela emissora”, diz Arlindo.

O próprio Wilson Carvalho confirmou à Debulha que havia mantido o diálogo com o prefeito no qual lhe informara ter sido por ordens superiores que não rodou a entrevista. A censura à matéria levou Arlindo Porto a enviar um ofício à direção da emissora, depois de consultar sua assessoria jurídica, exigindo o direito de resposta no mesmo horário e espaço. A Rádio Clube, por sua vez, chegou a responder o ofício dando a sua versão de que Arlindo Porto não tinha direito ao espaço, uma vez que as acusações tinham vindo de “terceiro” e não da emissora. Neste espaço de tempo em que as duas partes discutiam, formalmente, é bom que se diga, se o direito de resposta seria ou não observado, Ricardo Rodrigo Marques, Diretor do Administrativo da Clube, portanto um dos “superiores” de Wilson Carvalho (o outro seria o deputado peefelista Elmiro Nascimento, dono da emissora), chegou a visitar Arlindo Porto em seu gabinete.

Com ou sem direito de resposta, Arlindo Porto acabou tendo o espaço colocado à sua disposição, por um funcionário da emissora que o prefeito não disse quem era. “Mudaram a sua opinião não sei porque, pois se legalmente eu não podia responder, não havia mais sentido”, revela Arlindo, demonstrando estranheza. Já haviam se passado vários dias da veiculação das acusações de Ajax Barcelos, segundo informou o Prefeito de Patos. “Após 12 dias, foi-me oferecido o espaço para que a matéria fosse divulgada. Entendi ser inoportuno, uma vez que o tempo já havia consumido a necessidade de explicação e grande parte da comunidade patense, mesmo sem ouvir aquela emissora, já tinha conhecimento da verdade. A verdade demora, mas sempre aparece”, justifica.

Mesmo não tendo sido confirmada por Arlindo Porto, vazou a informação de que, caso o prefeito fosse se utilizar do espaço, a matéria, ou gravação, feita no dia 6 de março, seria substituída, pois na introdução da mesma, o prefeito agradecia o espaço prontamente cedido pela Rádio Clube, o que, 12 dias depois, não mais espelhava a verdade. “A emissora não teve interesse de que a verdade fosse colocada a público”, dispara Arlindo Porto. Ele diz não entender os motivos que levaram Ajax Barcelos a fazer declarações sobre o posicionamento do PMDB de Patos e sobre seu posicionamento em relação à pessoa do prefeito carmense. “O que sempre tive foi uma grande admiração pelo Ajax, pelo seu trabalho, seu dinamismo, entusiasmo e como cidadão digno que o considero”, garante o líder político patense. No final das contas, o “Caso Ajax Barcelos/PMDB Patense” serviu mesmo foi para agravar ainda mais a crise de relacionamento existente entre a Rádio Clube de Patos e o governo municipal peemedebista. Mesmo porque poucos são os que não verão uma relação muito forte da censura, “por ordens superiores”, da resposta de Arlindo Porto, com o deputado do PFL Elmiro Alves do Nascimento, proprietário daquele órgão de comunicação falada.

* Fonte: Texto publicado com o título “Por Ordens Superiores” e subtítulo “Arlindo Porto diz que Rádio Clube não teve interesse em levar a público a verdade dos fatos quando Ajax Barcelos acusou o PMDB patense de tentar obstruir sua ascensão política” na edição n.º 159 de 31 de março de 1987 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto 1: Prominasmg.com.

* Foto 2: Clubeam.com.

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