BOA IDÉIA, GRANDE FRACASSO

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TEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2013)

Durante a gestão do governador Milton Campos (1947 – 1951), houve em nossa região um empreendimento que levaria a nossa agricultura aos píncaros da glória. A idéia era trazer imigrantes italianos para uma determinada área, de terras fecundas resultando, por conseguinte, um natural sucesso, o qual, possivelmente, seria seguido por todos os circunvizinhos e, posteriormente, para grande parte agricultável do estado de Minas Gerais. A lógica do propósito era indiscutível. A tecnologia da agricultura na época era quase primitiva em nosso Brasil. Os agricultores italianos, sem dúvida, sempre foram considerados excelentes profissionais em toda a Europa. Em razão da cruenta Segunda Guerra Mundial, uma parte da população italiana foi envolvida pela ideologia fascista do “Il Duce”, Benito Mussolini. Depois de quase destruída pela ação bélica dos aliados, a Itália ficou com uma população inativa, sem futuro. Assim, a saída do país derrotado era muito desejada pelos seus cidadãos, visando, de certa forma, alcançar o imaginário eldorado. Tratou o governo do ilustre Milton Campos de executar o plano forjado. Foi desapropriada uma significativa área de terras, alcançando os municípios de Presidente Olegário e Patos de Minas, visando o aludido fim, ou seja, criar a “colônia agrícola¹”, depois alcunhada de “Colônia dos Italianos”. Numerosos lotes de terra foram demarcados para seus futuros ocupantes. Ao mesmo tempo, contatos foram efetuados com o governo italiano que, de imediato concordou com a saída de seus compatriotas, com destino ao nosso país.

Lembro-me bem dos três aviões DC3, utilizados na Segunda Guerra Mundial pelos americanos e vendidos a preços bem razoáveis às empresas interessadas, sobrevoarem a nossa cidade, então bem pequena. Segundo fui informado por um dos agrimensores que trabalharam no projeto, tal evento se deu no ano de 1949. Era uma novidade para todos nós, a presença de três aeronaves, simultaneamente. Rapidamente subi em minha bicicleta e me dirigi para o “campo de aviação”. O primitivo aeroporto era localizado nas proximidades do atual Colégio Tiradentes. Cheguei a tempo de ver a cena singular: os aviões já tinham paralisado seus motores e, em terra firme os italianos retiravam as suas bagagens, apenas homens, pois as respectivas famílias viriam depois do assentamento.

Ao chegarem a seu destino eis a grande decepção. Não existiam as casas asseguradas, nem sequer em construção. A mata alcançava grande parte das propriedades. Em síntese, não havia terra agricultável já pronta, nem implementos agrícolas conforme fora prometido. O motivo do não cumprimento era o mais simples possível para nós brasileiros, pois a verba disponível fora esgotada… Diante de tal infortúnio, depois da tentativa de domar a terra inculta, houve a desistência de muitos lavradores que se destinaram a São Paulo. Uns poucos italianos, insistentes, cultivaram alguns cereais. Entretanto, depois de decorrido alguns anos o último italiano abandonou o campo, vindo morar na cidade, exercendo atividades bem diferentes. Em consequência do insucesso os lotes em geral foram revendidos com a aceitação de algum ágio, através de recibos limitados às benfeitorias, pois o terreno designado pertencia ao Estado de Minas Gerais. O mato fechado que existia foi praticamente destruído e as madeiras utilizadas para fazer cercas e servir como lenhas, usadas em todas as residências patenses de então. Era o fim melancólico de uma boa idéia, vítima da burocracia estatal e da incompetência dos responsáveis pela administração pública.

* 1: Leia “Colônia Agrícola”.

* Foto: GP1, meramente ilustrativa.

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