ÁGUA – DO REGO À TORNEIRA

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4Nos primórdios de Patos, toda a água servida à cidade provinha de um rego, que começava no Capão do Monjolo (depois do Juca Santana e do Tonheco). Nos livros do Cartório Sant’Ana está a escritura de doação que fizeram, em maio de 1847, Manoel Joaquim de Souza e sua mulher, da água para o término da igreja. O rego tinha início dentro do Capão do Monjolo, seguia pela atual Praça do Mercado Municipal, Rua Padre Caldeira, Praça Desembargador Frederico, Rua General Osório, Avenida Getúlio Vargas e Praça Dom Eduardo, indo desaguar num buracão que existia na Rua Tiradentes. Em seu trajeto, diversas ramificações, por meio de canos, abasteciam algumas residências.

Quando a 15 de junho de 1870 a Câmara elaborou o Código de Posturas do município, fez observar no capítulo 11.º que o rego que conduzia a água para a vila seria mudado de sua atual caixa, de sorte que não passasse no quintal de qualquer pessoa, e seria dividido em tantos quantos fossem precisos, tirando-se dele chafarizes que a Câmara julgasse convenientes. Determinava que, enquanto não se canalizasse o rego com o material que fosse adotado pela Câmara, o proprietário de anel d’água deveria encaná-lo em bicas, que nas praças e ruas era coberto. A taxa anual, por anel d’água, era de 2$000 para os antigos, e de 4$000 para as novas concessões.

Mas havia riscos à saúde da população. O assunto “abastecimento d’água” começou a ser freqüente entre autoridades e o povo. O jornal “O Trabalho”, em sua edição n.º 6, de 1905, observa “entre nós o abastecimento d’água trará ainda outra vantagem, pois o ribeirinho que atravessa a cidade, ramificando-se em diversas direções, é ele o escoadouro natural dos detritos das cozinhas, das dejeções dos animais, armazenamento próprio de microorganismos que, fermentados pela nossa canícula ardente, pode, em dado momento, ser o fator de epidemia…”.

Se foi coincidência ou não, não se sabe, mas depois da chamada de atenção do jornal, os trabalhos da Câmara Municipal, referentes à segunda sessão ordinária, terminados em  29 de setembro de 1905, teve uma deliberação de grande relevância – a canalização de água, projeto do vereador capitão Eduardo Ferreira de Noronha – primeiramente como lei, na qual se estatuía dispêndio de 3:000$000 para auxílio aos estudos. Relutando a comissão de finanças em dar parecer favorável à medida, o mesmo vereador retirou-a, substituindo-a por uma representação coletiva, na qual assinaram todos os vereadores presentes, inclusive o agente executivo, na qual pediam ao Governo do Estado que mandasse proceder aos estudos para o abastecimento d’água.

No Governo de Minas estava o Dr. Francisco Antônio de Salles, o qual prometeu, mas não mandou, um engenheiro para os estudos solicitados. Também, logo depois, a presidência era ocupada pelo Dr. João Pinheiro da Silva.

Outra idéia de dotar Patos de água nasceu de uma reunião, que sempre ao entardecer, faziam Amadeu Dias Maciel, Marcolino de Barros, Sesostris Dias Maciel, Arthur Thomaz de Magalhães, o juiz de direito Antônio Carlos Soares d’Albergaria e eventualmente Olegário Dias Maciel.

Foi num daqueles bate-papos, no início de 1912, no coreto do jardim público, em frente à casa do coronel Arthur, que veio à consideração a feliz idéia. Entre bandejas de broas e biscoitos trazidas pelas habilidosas “cambraias” do coronel, a conversa visou a Comissão de Melhoramentos Municipais, recém-criada pelo Governo do Estado e confiada à sábia direção do engenheiro Lourenço Baeta Neves. À Comissão chegaram os reclames dos patenses, que encarou com simpatia. Tanto que em 08 de agosto de 1912 chegava a Patos o engenheiro José Jorge da Silva, e seu auxiliar Raul Fernandes para os estudos preliminares, os quais importaram em 8:778$731.

Alguns dias depois, em 17 do mesmo mês de agosto, pelo decreto 3.669, o Secretário da Agricultura de Minas, José Gonçalves de Souza, aprova um programa de abastecimento d’água das pequenas cidades, elaborado por Baeta Neves. Patos se enquadrava nas prescrições programadas. Dali, ouvido o Dr. Olegário Dias Maciel, ficou decidido que Marcolino de Barros seguiria para Belo Horizonte, a fim de pleitear o melhoramento.

Em 26 de dezembro de 1913, a Câmara Municipal contraia um empréstimo com a Comissão, de 150 contos de réis, para abastecer a sede municipal e dois distritos¹.

O passo seguinte foi a assinatura de um contrato, pela Câmara, em 24 de fevereiro de 1914, com a importadora Antônio F. Nunes, sediada no Rio de Janeiro, para importação do material metálico, num total de 1.943 libras esterlinas, equivalentes a 29:370$388. O transporte do material do Rio a Patos, importou, no total, quase ao seu custo na Inglaterra, conforme veremos: do Rio, pela Central até Sítio: 3:328$825; de Sítio, pelo Oeste, até Formiga: 6:657$650; de Formiga, pela Estrada de Ferro de Goyaz, até a estação do Urubu: 3:698$776; de Urubu, em carros de bois, até Patos: 14:794$776.

A morosidade dos trabalhos levou o Governo a designar o engenheiro Nicodemos de Macedo, para fiscalizar e acelerar o ritmo da obra, encarecendo urgência, pois conforme contrato, tudo deveria estar pronto em 15 de julho de 1915, para ser inaugurado um mês depois.

Aproveitaram alguns lacrimais nas cabeceiras do Córrego do Monjolo, também conhecido como Córrego da Mata, coletados por meio de pequenos canais de alvenaria, dos quais dois principais, depois de receberem as contribuições dos outros, levam finalmente as águas a uma caixa de reunião, também construída de alvenaria. Trata-se da caixa mais antiga, conhecida por Caixa da Mata do Tonheco, com capacidade de 125.000 litros.

4Oficialmente, a obra se concluiu em 19 de julho de 1915, incluindo a rede de distribuição para as casas. Naquela data, em caráter experimental, estando completamente cheio o reservatório, foi aberto o registro da linha de distribuição e, 50 minutos após, a rede estava inteiramente servida.

A sua inauguração solene se deu no dia 16 de agosto, quando Dom Eduardo Duarte da Silva, em visita pastoral à Paróquia, benzeu a caixa, paraninfando o ato o Cel. Farnese Dias Maciel e o Dr. Euphrasio José Rodrigues. Participaram da solenidade o Dr. Marcolino de Barros, Agente Executivo; membros da Câmara, autoridades e o povo. Dom Eduardo, após a bênção, em breve alocução, saudou o povo progressista de Patos e o Presidente da Câmara.

O jornal Cidade de Patos noticiou o evento em sua edição n.º 33, de 29 de agosto de 1915: “Ao amanhecer do dia 16 foram os habitantes desta cidade surpreendidos pelo estampido de bombas, foguetes e pelas bandas de música, que tocavam alvorada; grande massa popular afluía à caixa d’água nos subúrbios desta cidade desde o amanhecer”.

Enfim, havia abastecimento de água em Patos de Minas.

Pode-se deduzir que muito rapidamente a procura ficou maior que a demanda, pois três anos depois, em 15 de julho de 1918, a lei n.º 210 autorizava o Agente Executivo a despender a quantia necessária para o serviço de captação de nascentes de água, para abastecimento da cidade.

* 1: Esta informação é de Geraldo Fonseca. Interessante é que a lei n.º 157, de 29 de setembro de 1913, autoriza o Agente Executivo a entrar em acordo com o Governo do Estado para contrair um empréstimo de 200 contos de réis para abastecimento de água potável, rede de esgôtos e instalação de força elétrica. Igualmente interessante é que a lei n.º 178, de 20 de novembro de 1915, autoriza o Agente Executivo  a entrar em acordo com o Governo do Estado sobre o empréstimo. Diz o art. 2.º: “Para esse fim poderá o Agente Executivo, em nome do Município, rescindir, modificar no todo ou em parte o referido contrato, destinando-o a qualquer dos fins para que foi o mesmo contraído, conforme a lei n.º 157, de 29 de setembro de 1913”. A lei n.º 247, de 04 de junho de 1920, autoriza o acordo com o Governo do Estado para a amortização da “dívida” contraída para com este em “26 de dezembro de 1913”. Quer dizer, a lei autorizou o Município a pegar emprestado dinheiro ao Governo em 29 de setembro de 1913 e o dinheiro foi liberado em 26 de dezembro do mesmo ano. Em 29 de novembro de 1921, o art. 1.º da lei 254 diz o seguinte: “É o Agente Executivo autorizado a renovar o contrato de 26 de dezembro de 1913, para o fim de elevar até 350:000$000 o empréstimo contraído com o Estado de Minas naquela data”. Mais interessante ainda é a lei n.º 260, de 11 de maio de 1922. Ela autoriza o Agente Executivo a despender ao serviço de iluminação elétrica, a partir do empréstimo contraído para o serviço de esgôtos na cidade, podendo para isso modificar o contrato de 02 de janeiro de 1922 com o Governo do Estado. Não há lei correspondente a esta data.

* Edição do texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fontes: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.

* Foto 1: Go.olx.com, meramente ilustrativa de um rego d’água.

* Foto 2: Mulher.uol.com.br, meramente ilustrativa.

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