REFORMA DA ESCOLA NORMAL EM 1986

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7Logo no primeiro contato dentro da “nova” Escola Normal de Patos de Minas, seja quem for a recepcionista, o visitante logo nota a satisfação em seus olhos. No caso da reportagem de A Debulha, parece que ainda tivemos mais sorte. Ao visitar o recém-reformado prédio da tradicional Escola Estadual “Antônio Dias Maciel” nossa equipe teve por guia a Vice-Diretora do diurno, Marlene Porto. Atenciosa e sorridente, a Vice-Diretora fez questão de mostrar todos os aspectos da reforma efetuada pelo Estado com o acompanhamento da Prefeitura Municipal, através do engenheiro Clever Caixeta, hoje Secretário da Administração de Arlindo Porto.

Como seria uma visita pela Escola Normal hoje? Talvez não seja muito diferente, nos caminhos a percorrer, do que seria a dois anos atrás; mesmo porque o governo estadual não autorizou qualquer mudança na arquitetura da escola visando conservar, na íntegra, o antigo prédio. Todavia, as coisas não podem ser simplificadas nestes termos. Há, agora, uma diferença fundamental: toda a escola – alunos, professores, funcionários, diretores – parece se sentir renovada de espírito. Não é só no aspecto visual do prédio que a Escola Normal hoje se sente reavivada. A própria alegria e interesse, demonstrados pela Vice-Diretora Marlene, em mostrar todas as instalações, já revelam isso.

E, qualquer que fosse o visitante, certamente ele seria levado ao salão nobre da escola, no andar superior, no qual foram realizadas as solenidades de colação de grau da primeira turma de normalistas diplomadas pelo estabelecimento, em 1935. Nos últimos tempos, antes de ser iniciada a reforma, o salão nobre era ocupado pelos mais de 7.000 volumes que fazem parte da biblioteca daquele estabelecimento de ensino. Isso porque não havia um local próprio para o funcionamento da biblioteca. Com a reforma, um anexo foi construído, sem que fosse alterada a estrutura arquitetônica do prédio antigo. Neste anexo, em breve, estará completamente instalada a biblioteca, o que significa dizer que o salão nobre, com capacidade estimada para 200 pessoas, voltará a ser utilizado para os fins para os quais foi construído.

Quem não esconde o sorriso ao falar da Escola Normal nesta fase de pós-reforma é sua Diretora, Laurice Edimeé Pacheco. Aliás, numa conversa rápida pode-se perceber que a atual diretora tem uma ligação histórica com o estabelecimento de ensino que dirige. Três gerações se sua família passaram pela escola. Primeiro foi seu pai, Antônio Pacheco (Barroso), que se formou em 1938, na quarta turma de formandos da Escola Normal. Depois, a própria Laurice concluiu o Curso Normal na escola. E, por último, mais precisamente no ano passado, sua filha, Ângela Pacheco Alves, esteve entre as 160 formandas da Escola Estadual “Professor Antônio Dias Maciel”.

Segundo Laurice Pacheco, a escola realmente está muito animada. “O clima está ótimo. Temos ainda muito o que organizar, mas estamos todos muito felizes com a casa nova”, afirma. Como diretora ela entende que o objetivo maior da Escola Normal é “promover a melhoria do ensino, dentro da realidade de cada turno, pois ministrar aulas simplesmente não é o mais importante”. Quando fala na melhoria do ensino, a diretora deixa explícito que este esforço deve refletir na melhoria, também, da aprendizagem, que seria uma consequência natural. Para ela, as alunas de cada turno têm uma realidade diferente das demais, o que implica num tratamento pedagógico diferenciado para cada uma das realidades.

Laurice Edimeé Pacheco considera de fundamental importância a reforma dos prédios escolares que estejam em mau estado de conservação. “O espírito de uma pessoa que entre numa escola com o aspecto físico como o da Escola Normal hoje é totalmente diferente do espírito de uma pessoa que entra numa escola caindo aos pedaços”, justifica a diretora. Por isso mesmo, Laurice não poupa elogios à classe política patense, principalmente ao Prefeito Arlindo Porto e deputados por Patos, que se empenharam para que a reforma da Escola Normal fosse realizada. “Enquanto a escola estava em decadência física, isso refletia a própria decadência do ensino”, recorda.

Num quadro de professores de 50 profissionais, uma educadora, Janete Ferreira Bispo, passa o dia todo na escola. Ela leciona Didática desde 1984 na Escola Normal e diz que ser professora de um estabelecimento de ensino tradicional, em sua opinião, não é o que dá status a um educador. “Essa questão de status depende da cabeça da pessoa. Eu entendo que o status vem da competência profissional, seja aqui ou em qualquer outro estabelecimento de ensino”. Para Janete, lecionar numa escola como a “Antônio Dias Maciel” traz uma grande responsabilidade para o professor, “porque a gente tem a incumbência de continuar com essa tradição”. Ao mesmo tempo, observa a professora, trabalhar ali lhe dá prazer e alegria.

DSC02800 - CópiaSobre a reforma feita recentemente (em 1986), Janete Ferreira Bispo tem uma posição parecida com a da Diretora Laurice Edimeé (foto ao lado). “Todos a receberam com alegria e, por incrível que pareça, estão empenhados não só em conservar a escola, mas também em enfeitar o prédio”, comenta com um sorriso largo. Segundo ela, “a situação de termos ficado em prédios separados serviu para nos mostrar a importância de estarmos juntos”. A professora Janete Ferreira se refere, é claro, à luta da Escola Normal para funcionar no ano passado, quando o prédio da Avenida Getúlio Vargas se encontrava em reforma. Em 1986, o pré-escolar funcionou na UEP, enquanto as outras turmas foram divididas entre o Colégio Alto Paranaíba (diurno) e a Escola Estadual “Professor Modesto”.

Fundada no governo de Olegário Maciel, em 1932, com certeza um dos anos mais difíceis vividos pela Escola Normal foi o de 1986. Segundo informações da diretora, Laurice Edimeé, no ano passado a administração, secretaria, material de cantina e de limpeza, sala dos professores, orientação e supervisão da escola estiveram agrupadas em uma única sala no Alto Paranaíba. Todavia, a contribuição daquele estabelecimento de ensino para com a Escola Normal foi tão grande que Laurice diz ter muito a agradecer ao Diretor Artur Humberto Rocha Magalhães pelo apoio e pela paciência que dispensou a todos os alunos, diretores e funcionários da escola.

Outra pessoa que, segundo Laurice Edimeé, teve uma sensibilidade muito grande foi o então Presidente da UEP, Paulo Álvares Babilônia. A União dos Estudantes Patenses cedeu o espaço físico de sua biblioteca, em 1986, para que lá funcionasse, de manhã e à tarde, o pré-escolar da “Antônio Dias Maciel”. Além disso, a UEP ainda colocou à disposição da Escola Normal sua sala de reuniões, onde foram ministradas aulas para uma turma da escola, antes instalada no refeitório da Escola “Professor Modesto”, e cedeu também uma pequena sala que serviu para guardar merenda escolar, material de cantina e acabou se tornando a “sala dos professores que ali lecionavam”.

“A UEP realmente demonstrou interesse pela classe estudantil, que estava vivendo um drama naquela época. Não sabemos nem como agradecer ao Paulo Babilônia e à UEP pelo que fizeram pela nossa escola no ano passado”, comenta a Diretora da Escola Normal. A situação esteve tão grave em 1986 que a diretora da escola foi obrigada a diminuir quatro turmas – 2 de 1.º e 2 de 2.º grau – por falta de espaço físico que as abrigasse. Ainda assim, as turmas ficaram cheias. “Foi um ano difícil porque ficamos todos separados”, afirma Helena Maria de Jesus, funcionária da Escola Normal há exatos 20 anos. Segundo ela, em termos de trabalho, o ano passado foi normal, apesar de ter de andar mais para ir até o Colégio Alto Paranaíba.

“Não é só agora, mas durante todo o tempo a escola, as alunas estão felizes”. Com esta frase, Helena Maria de Jesus (a Dona Helena) revela o carinho que possui pela Escola Normal. Ela tem 54 anos de idade, 25 deles dedicados ao trabalho de limpeza em estabelecimentos de ensino. Antes de ir para a Escola Normal, Dona Helena trabalhou por 5 anos no então Grupo “Professor Modesto”. Em 1967 ela foi para o estabelecimento que aprendeu a amar, de onde, segundo ela, não tem nenhuma vontade de sair, “porque eu gosto muito daqui”. Sua simplicidade, porém, não a impede de entender que também o seu trabalho “é importante para a formação das pessoas”.

Sobre a reforma, ela entende que agora o serviço ficou mais fácil, pois como está “facilita mais a conservação da limpeza”. Dona Helena ganha hoje o equivalente a um salário mínimo e trabalha 6 horas por dia, apenas em um período, o diurno. Quando começou a trabalhar na Escola Normal, contudo, só existiam duas funcionárias para realizar todo o trabalho de limpeza, o que dificultava bastante as tarefas. Seu salário, segundo a própria Dona Helena, só melhorou de uns quatro anos para cá. Na realidade, pela maneira como fala da escola, é fácil adivinhar que Dona Helena acabará se aposentando como funcionária da Escola Normal. Mesmo porque, segundo ela, “o pessoal daqui é todo muito unido”.

A bem da verdade, uma simples visita ao mais tradicional estabelecimento de ensino de Patos de Minas pode se tornar, hoje, depois da reforma, uma grande viagem. Uma viagem que pode ser feita não só dentro do espaço físico que compreende a escola, mas também, e principalmente, nos arquivos que a secretária Neuza Luiza Ribeiro traz sempre orgulhosamente em ordem. Depois de ganhar armários novos para a secretaria, Neuza Ribeiro diz estar muito contente. Nos arquivos, redigidos em livros de registros, cadernos de atas, e diversos outros documentos, grande parte deles já bastante amarelados pelo tempo, estão os 55 anos da Escola Normal de Patos de Minas. A viagem pode ser feita pelos anos e pelos nomes das pessoas importantes que já passaram por aquele casa de ensino. Já que a viagem é muito grande para ser contada aqui, A Debulha sugere que cada patense procure fazê-la, indo à escola. A passagem é de graça.

* Fonte e foto 2: Texto publicado com o título “Prédio e Espírito Novos” e subtítulo “Numa simples visita à Escola Normal, é fácil notar a felicidade de todos pela reforma efetuada naquele estabelecimento de ensino” na edição n.º 157 de 28 de fevereiro de 1987 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto 1: Wikimapia.org.

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