DOENÇA PERIODONTAL EM CÃES

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DOENÇA PERIODONTAL EM CÃESA doença periodontal é a doença bucal mais comum em cães e acomete de 85 a 95% dos animais com mais de seis anos de idade. É uma enfermidade perfeitamente evitável. Esta doença é progressiva e envolve duas fases: gengivite (reversível) e periodontite (irreversível, mais muitas vezes controlável). É causada pelo acúmulo de placas nos dentes. A placa é uma membrana lisa, aderente, contaminada com bactérias da saliva e fragmentos. As bactérias e os produtos bacterianos causam inflamação do tecido mole. A placa se mineraliza para formar o cálculo (tártaro ou odontólitos), que migra para o interior do sulco gengival, provocando inflamação adicional, perda do ligamento periodontal, perca óssea e, por fim, perda do dente. O curso dessas doenças é afetado por vários fatores predisponentes e modificadores, incluindo dietas inadequadas, anomalias dentais e periodontais e distúrbios imunológicos. A gravidade está correlacionada com a quantidade de tártaro presente nos dentes, bem como com a idade do animal.

Durante a mastigação, a infecção pode levar ao comprometimento de outros órgãos e à ocorrência de graves distúrbios secundários. Sendo tal processo crônico, lesões contínuas em determinados órgãos poderão acarretar insuficiência de sua função, podendo levar o animal a morte. Esse fenômeno ocorre em particular nos rins (glomerulonefrite), no fígado (hepatite), nas articulações (poliartrite) e no coração (endocardite bacteriana), além de relatos de discoespondilite e meningite. A existência de lesões prévias nesses órgãos aumenta a probabilidade de instalação de microrganismos ou do complexo imune (anacorese). Agentes citotóxicos (endotoxinas), que normalmente são polissacarídeos da parede celular de bactérias Gram-negativas, podem levar à necrose tecidual local e ativar a resposta imunológica.

Em alguns cães podem ocorrer fístulas oronasais. Os sinais mais comumente encontrados são espirros e secreção nasal serosa, mucopurulenta ou sanguinolenta, podendo ser crônicos. Alimento ou saliva que passe através da fístula para o interior da cavidade nasal pode causar rinite e, ocasionalmente, ser expelidos pela narina afetada. Raramente observa-se resolução espontânea da fístula, sendo que, em geral, as mucosas das cavidades oral e nasal se unem ao redor das margens da fístula, o que resultam numa comunicação oronasal permanente. O fechamento cirúrgico da fístula é o tratamento de escolha.

O exame clínico bem realizado permite uma boa avaliação dos tecidos moles lesados, e já quase fecha o diagnóstico da doença periodontal. No entanto, para que seja firmado o diagnóstico, deve-se demonstrar a perda de sustentação do dente. O exame radiográfico completo da boca torna-se obrigatório para os pacientes acometidos, para obter informações sobre as estruturas ósseas e periodontais. Os resultados obtidos pelos exames clínicos e radiográficos são complementares e o diagnóstico exige a realização de ambos. Embora a radiografia forneça dados essenciais para determinação do estado da doença, esse exame diagnóstico tem baixa sensibilidade para avaliar a sua progressão. Esse fato se deve à impossibilidade de se repetir com precisão as posições, as exposições e o tempo de revelação. Assim, qualquer comparação entre duas radiografias diferentes de um mesmo animal torna-se limitada.

A terapia periodontal tem como principal objetivo impedir a progressão da doença. Deve ser instalado um plano terapêutico que envolva o controle diário da placa bacteriana de forma a evitar a recorrência da doença. O tratamento inclui a eliminação de todo tártaro da coroa e raiz, através de raspagem, aplainamento e polimento das superfícies duras, restauração da profundidade gengival o mais próximo do normal, extrações de dentes comprometidos, tratamentos endodônticos reconstrutivos, e acompanhamento por meio de programa preventivo. Caso a moléstia não seja tratada no seu estágio mais incipiente, torna-se praticamente impossível controlá-la. O uso isolado de antibióticos não cura nem controla a periodontite. O uso inadequado desses fármacos promove o aumento da resistência bacteriana, constituindo um problema para a medicina humana e veterinária.

A raspagem do tártaro, antigamente chamada de tartarectomia, é um processo que visa eliminar os depósitos dentários (sobretudo odontólitos) da superfície dos dentes. A remoção dos odontólitos que se encontram acima da linha da gengiva (odontólitos supragengivais) é realizada com instrumentais manuais, como os extratores de odontólitos ou com aparelho de ultrassom dentário. Todo odontólito visível, localizado sobre a superfície dental e eventualmente sobre a gengiva, deve ser removido. Esta raspagem, mesmo quando realizada adequadamente, pode tornar a superfície do dente irregular, facilitando a deposição e retenção da placa bacteriana. Por isso, após a raspagem, o dente deve ser polido de modo a tornar a sua superfície lisa e remover quaisquer manchas ou resíduos de placa. Omitindo essa etapa do tratamento, a readesão da placa bacteriana é muito rápida, dando continuidade ao processo de periodontite. O benefício de qualquer terapia periodontal profissional é temporário se não forem dispensados cuidados buco dentários eficazes. De fato, se não for instituída uma terapia de cuidados depois do tratamento periodontal profissional, a placa bacteriana reinstala-se rapidamente e a doença progride. Na ausência de cuidados domiciliares, em três meses, a gengivite pode ser a mesma do início do tratamento.

A escovação dos dentes é reconhecida como o meio mais eficaz para remover a placa bacteriana. Devem ser feitos todos os esforços para que os proprietários se comprometam a escovar regularmente os dentes dos seus animais. O sucesso da escovação depende da cooperação do animal e da motivação do proprietário, bem como da sua habilidade técnica. Existem inúmeras escovas de dente para animais, das mais variadas formas e tamanhos, mas não há dados que permitam aconselhar uma escova específica. De um modo geral, uma escova de filamentos de nylon, de textura macia a média e de um tamanho adequado ao animal parece ser a melhor opção. Existem também as dedeiras, que geram opiniões controversas, mas em um estudo realizado a escovação dentária com escova de cerdas de nylon foi capaz de remover 96,95% da placa bacteriana, e a escovação com dedeira foi capaz de remover 81,40% da placa, mostrando assim, um resultado efetivo para os dois métodos.

Importantíssimo, a escovação deve ser realizada unicamente com creme dental próprio para cães. O ponto mais importante é a abrasão provocada pelas cerdas. Existem alguns cremes dentais que recebem soluções de ascorbato de zinco, peroxidase ou enzimas cuja função é inibir a aderência de placa bacteriana ao dente, desestabilizando as suas ligações químicas. Esses produtos são eficazes na prevenção do acúmulo de odontólito, mas não são, por si só, capazes de preveni-los. Logo, são considerados coadjuvantes na profilaxia. O uso de antissépticos, como a clorexidina, deve ser evitado como rotina na escovação, pelo risco de conduzir à seleção de microrganismos resistentes e pelo seu efeito, em longo prazo, de provocar manchas amareladas nos dentes.

A frequência da escovação varia de acordo com alguns fatores como predisposição genética da raça, presença ou não de doença periodontal ativa, adestramento do animal e disponibilidade do proprietário. Animais de pequeno porte, como os toys, devem ter os dentes escovados diariamente, pois apresentam maior acúmulo de placa que animais de grande porte. Os animais de pequeno porte possuem proporcionalmente dentes muito grandes para um suporte ósseo pequeno, o que dificulta a remoção da placa bacteriana pelos processos naturais (mastigação, roer objetos, movimentação dos lábios e língua), pois seus dentes têm menos espaço entre si, característica conhecida como apinhamento. No geral, a escovação dentária três vezes por semana se mostra eficaz e deve começar já nos primeiros meses de vida do animal. Assim pode-se fazer um condicionamento progressivo do animal, até que ele se acostume com a prática.

Vários estudos têm demonstrado que as características físicas do alimento, como textura, tamanho e forma, são significativamente mais importantes no controle da formação de placa e no aparecimento de gengivite do que seu conteúdo nutricional, muito embora a composição da dieta exerça papel fundamental sobre a saúde geral. A textura do alimento afeta diretamente a saúde da cavidade bucal. As duas escolhas básicas são: dura/firme (seca) ou macia (úmida, semi-úmida, restos de comida). Também a forma dos alimentos ou dos grânulos de dietas comerciais tem significância na higidez bucal. Alimentos secos e firmes são melhores para os dentes, pois proporcionam resistência quando mastigados, removendo a placa e exercitando o periodonto. O mesmo pode ser dito dos alimentos de maior volume, pois exigem maior mastigação.

Ossos naturais e cascos de eqüinos ou bovinos são extremamente resistentes e, frequentemente, conduzem à fratura dental e pulpite. Ao longo dos anos também podem desgastar o esmalte e dentina em excesso. Os ossos naturais devem ser substituídos pelos artificiais, mais moles, ou por osso de cauda bovina ou mesmo laringe bovina. Se o proprietário optar ainda por oferecer ossos longos, que sejam oferecidas as articulações ainda com as cartilagens e tendões aderidos ao tecido ósseo, tendo-se muito cuidado com a contaminação desses tecidos, intoxicações e infecções. Dessa forma, o animal tenta desprender o tecido cartilagíneo, raspando os dentes. Após algum tempo, quando as partes moles do osso forem eliminadas, deve-se retirá-lo.

Concluindo, existem várias formas de prevenção da doença periodontal. Dentre elas podem ser citadas a utilização de alimentos, brinquedos e cremes dentais específicos. Todos esses métodos são apenas coadjuvantes à profilaxia, pois a maneira mais eficaz de prevenir a doença periodontal nos cães é a escovação dentária. O tratamento odontológico em cães é muito importante, pois os dentes interferem diretamente na qualidade de vida do animal. A prevenção da placa bacteriana é fundamental para a redução da doença periodontal e para manter os dentes dos animais durante toda a sua vida. Qualquer cão desenvolve a doença periodontal com maior ou menor severidade, e é importante ressaltar que a periodontite é uma doença recorrente e sem cura definitiva.

* Fonte: Doença Periodontal em Cães: Revisão de Literatura (2009), de Valérya Regis Silva. Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), como requisito parcial para obtenção do titulo de Especialista em Clínica Médica em Pequenos Animais. Orientadora: Profa. Msc. Valéria Teixeira.

* Foto: Dicasboaspracachorro.com.br.

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