SOBRE O CHIQUINHO PEREIRA

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lembrancas-de-laurindoTEXTO: LAURINDO BORGES (1973)

É agradável e útil relembrar as pessoas e acontecimentos dos bons tempos da juventude. No transcorrer dos anos, aos poucos, tudo vai se transformando. A cidade crescendo, se modernizando, progredindo. E nesse crescer e progredir tanta coisa boa desaparece, ou é esquecida.

Já é do passado recantos naturais pitorescos e atrativos, onde, aos Domingos e dias santos, muitas famílias passavam horas agradáveis – Às margens da “Lagoa Grande”, na “Caixa D’Agua”, na floresta da fazenda do Sr. José de Sant’Ana, na “Praia do Chiquinho Pereira”. Principalmente nesta praia do Rio Paranaíba, onde acontecia alegres piqueniques e pescarias. A bela e atraente praia desapareceu. Os tiradores de cascalho iniciaram a devastação. As enchentes levaram o que ficou, em suas águas turbulentas. Para se ir a praia o caminho era dentro das terras pertencentes ao sr. Francisco Pereira da Fonseca. Homem bom, trabalhador, ótimo chefe de família, vulgarmente conhecido como Chiquinho Pereira. E a praia tomou o seu apelido

Os irmãos Pereira da Fonseca vieram da cidade de Claudio para Patos nos meados de 1860/1870. Na mesma época e da mesma cidade vieram membros da família Souza Nascentes. Com o sr. Francisco vieram seus irmãos Gabriel, José, João, Theodosio, Luiza, Eulália e Madalena. O sr. Francisco casou-se com Adelaide Perpétua de Souza. Desse enlace nasceram os filhos: Ernestina (já falecida), Ilídio, José Alfredo (falecido), Maria, Elvira e Francisco. Com a morte de sua esposa Adelaide casou-se em segundas núpcias com Maria Pereira da Rocha. Desse enlace nasceram João (falecido), Alberto, Adelaide, José Pedro, Antônio, Alceu, Luiz, Arlindo, Madalena e Abel (falecido).

Em tempos remotos as terras adjacentes a praia pertenceram a senhores de escravos. O pomar, a casa grande e outras dependências eram cercadas por sólidos muros, construídos com barro e capim. Ainda hoje existem vestígios desses muros. O que resta daqueles tempos, construído sobre o leito do Córrego do Cirino é um Moinho de Fubá. Estamos em animada Festa do Milho. É oportuno lembrar que muito milho foi beneficiado por Chiquinho Pereira e seus filhos. Uma porção de fubá era trocada por milho. Levava-se um litro de milho e recebia-se em troca um litro de fubá. É que o milho beneficiado rende cincoenta por cento, isto é: uma medida de milho beneficiado dá medida e meia de fubá.

Chiquinho Pereira foi também negociante, estabelecido com armazém de sêcos e molhados, na rua Afonso Pena (rua que naquele tempo era conhecida como rua do Chiquinho Pereira)¹. O seu dinamismo foi e está sendo seguido por seus filhos e netos. Ilídio e José Pereira montaram uma oficina para Mecânica, Serralheria e Ferraria; Alfredo (Deca) uma oficina de Carpintaria. Outros filhos e netos perfilam hoje na indústria, no magistério e nas classes liberais.

Transcrevemos abaixo uma carta dirigida ao Sr. Francisco Pereira da Fonseca que atestam a sua operosidade e seu amor ao trabalho.

Ilmo Snr Francisco Pereira da Fonseca

De ordem do Senr. Presidente da Câmara, convido vos para na qualidade de um dos maiores contribuintes de impostos municipais se comparecer na sala das sessões da Câmara Municipal desta Cidade as 11 horas da manhã do dia 31 do corrente mes afim de tomar parte nos trabalhos da Assemblea Municipal que se reuniraa naquelle dia, sob pena de multa da Lei no. 204.

Saude e Fraternidade

Patos, 13 de Janeiro de 1904

O Secretario da Câmara

Antonio Soares Ribeiro

* : Leia “Residência da Família de Chiquinho Pereira e Vovó Nenen” e “Antigo Beco do Chiquinho Pereira”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Quem de Longe…” na edição de 24 de maio de 1973 do Jornal dos Municípios em Revista, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 02/09/2016 com o título “Antiga Ponte do Rio Paranaíba na Década de 1930”.

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