MAIOR EXEMPLO DE CARA DE PAU DO PLANETA, O

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Estava eu numa das minhas tradicionais caminhadas de domingo de manhãzinha pela orla da Lagoa Grande quando reparei num bêbado tentando dar alguns passos na Rua Ouro Preto, rente à calçada, sem cair. Pelo visto, o cara devia estar manguaçando a birita desde a quinta-feira passada, tal o estado físico dele e das vestimentas. Literalmente estropiado seria a denominação mais correta. Além do que não dava pra saber se o fulano era branco, amarelo ou negro, tamanha a quantidade de macucos espalhados pelo rosto, braços e pernas. Uma lástima, e isso tudo às oito horas da manhã.

O ébrio dava dois passos, arriava e soltava aos ventos os piores palavrões. Com muito custo se levantava, dava mais dois passos e vapt-vupt, beijava o asfalto. Sei lá de onde ele veio, mas pelos arranhões nos braços a distância percorrida não era pouca. Até que, numa tremenda força de vontade igualzinho candidato em campanha, se agarrou a um dos postes. Nestas alturas do campeonato eu já estava sentado num dos bancos da orla porque não queria perder o final da história. Num instante imaginei que o etílico tivesse dormido agarrado ao poste, pois assim ficou uns dois minutos. Qual nada! Ele estava apenas recuperando o fôlego. Aí então começou o melhor do espetáculo: a drástica tentativa de subir à calçada. Era só largar o poste e o tombo vinha acompanhado daquelas palavras que nem lá no inferno são pronunciadas. Tentou com uma mão segurar o poste e a outra levantar a perna, mas necas. Isso durou uns dez minutos, o cara já estava todo molhado de suor e não conseguia levantar uma das pernas para chegar à calçada, até que dois gaiatos zombaram:

– Aí tonel de pinga, que aço, hêim?

O bêbado firmou o corpo, fez uma cara de brigador tremenda, mais pavorosa do que a do Maguila quando levava um soco, respirou fundo e mandou:

– Ó o pé na cara, hêim!

Vai ser cara de pau lá na casa do chapéu. Os gaiatos seguiram seu rumo dando sonoras gargalhadas. Eu, depois de enxugar os olhos de tanto rir, percebi que, agora sim, ele tinha apagado, pois o vi arriando o corpo devagarzinho até estar confortavelmente aconchegado no leito da calçada. Mas, mesmo assim, não desgrudou do poste. Talvez fosse sonâmbulo e tinha medo de, mesmo dormindo, tentar a proeza não alcançada com os olhos abertos. Só me restou continuar a caminhada e depois voltar pra casa sem saber o final do filme.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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