GARZA E RIVIERA

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AUTOR: MANOEL ALMEIDA (2011)

Cinemas foram objeto de culto dos patenses. Os mais assíduos os frequentavam praticamente todos os dias. Também eram ponto de encontro para permuta de gibis e paqueras. No Cine Tupã, nos dias mais concorridos, as crianças chegavam cedo às sessões de Flash Gordon, Tarzan, Zorro, Lassie, e se acomodavam no chão após vender seus lugares a casais de namorados.

O empresário Mário Garcia Roza construiu o Cine Garza (“gar” de Garcia e “za” de Roza) em 1960. Sete anos depois adquiriu o Cine Riviera, o qual passou a integrar a Rede Cineminas, com salas em outras doze praças, como João Pinheiro, Patrocínio, Bom Despacho e Itaúna. Garza e Riviera (nome inspirado na região litoral do Mar Mediterrâneo, no sul da França – país em que seu fundador fora criado, onde se localiza Cannes, cidade do Festival Internacional do Cinema) traziam programações diferenciadas. Este privilegiava filmes de arte, musicais e clássicos. Já as exibições no Garza eram mais populares: Mazzaropi, filmes de ação, faroestes e sagas bíblicas. Durante a Semana Santa o comércio não ficava aberto, e da zona rural vinham caravanas especialmente para assistir à chamada Vida de Cristo. Marcos Garcia ajudava seu pai no Garza desde menino e se lembra de que as paredes ficavam molhadas devido à concentração de fiéis que insistiam em permanecer apinhados no hall e nos corredores, aguardando sua vez. Sessões começavam às nove da manhã e seguiam até meia-noite. As filas se formavam de madrugada e dobravam as esquinas. Algumas senhoras se recusavam a ir embora ao término das sessões. Agarradas aos seus terços, ajoelhavam-se diante das telas em adoração às imagens sobrepostas. Para dar conta da demanda, os atendentes no barzinho se revezavam em várias turmas e simplesmente jogavam o dinheiro atrás do balcão. O piso ficava forrado de notas e moedas, só recolhidas passado o tumulto.

A projeção de um filme, dividido em rolos de seiscentos metros, exigia grande habilidade, concentração e resistência física. O manuseio ininterrupto das películas, afiadas como lâmina, fazia com que a ponta dos dedos dos operadores tivesse aspecto de couro de rinoceronte. Era preciso o uso de dois projetores alternadamente a fim de que o público, bastante exigente, não percebesse os cortes. Nas roletas, agentes das distribuidoras fiscalizavam todas as meias e inteiras entregues ao porteiro, contabilizavam cada centavo e saíam das bilheterias carregando sacos contendo a maior parte da arrecadação. Outras igrejas surgiram e os católicos que mantinham aquela tradição foram desaparecendo. Não mais atingindo as severas metas de público estabelecidas pela indústria, monopólio de judeus, aos poucos todas as unidades da rede foram fechadas. Exceto o Riviera. Na década de 80, seus 1.370 lugares foram reduzidos a 1.100 para ampliação do palco. Progressivamente, sessões de filmes cediam espaço para palestras, shows musicais, peças de teatro, balés e até posse de prefeito. Garcia Roza faleceu no final de 2010, aos 84 anos, sem concretizar o sonho de rever as cortinas do Riviera se abrirem ao som de Rendez-vous 4, com Jean Michel Jarre.

* Fonte: Texto publicado no jornal virtual PatosHoje em 25/01/2011.

* Foto: Elo7.com.br.

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