DEIXAREI SAUDADE – 18

Postado por e arquivado em 2016, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

O ser humano tem o seu ciclo de vida e um dia morre, não tem solução. Mas nós, os imóveis, podemos ter vida eterna. Mas pena que somente poucos de nós sobrevivem eternamente. Estamos, sem uma única exceção, embrenhados no turbilhão da especulação imobiliária. Assim, cada imóvel tem uma maneira própria de encarar a velhice. Feliz daquele que envelhece sendo amparado pelos seus proprietários. E triste daqueles, como eu, que depois de uma infinidade de anos de servidão é desleixado para morrer à míngua.

Este lugar em que nasci era uma exuberante mata. Pouco abaixo, o Córrego Limoeiro tinha águas límpidas e cristalinas. Tudo aqui em volta era roça, não existia esta avenida de nome Deputado Binga e nem o Bairro Nossa Senhora de Fátima. Eu vivia feliz em meio à natureza. Mas o tempo é cruel, passou com a velocidade de uma bala de revólver. Fui aos poucos sendo abandonada. Muitos ocuparam o meu ventre, mas jamais tiveram preocupações em me manter, pelo menos, com uma aparência digna. Mas falem o que quiser de mim, não ligo, pois desde que fui construída passei a fazer parte da História de Patos de Minas.

Há pouco mais de quatro anos veio para cá o Sr. José Gonçalves Pinheiro. Já setentão como eu, depois de anos e anos de labuta na roça, aqui passa seus dias ajudando o filho Eurípedes na profissão de carroceiro. Vida dura, muito dura. Para melhorar um pouquinho, vendem esterco de equinos e bovinos. Aí estão os dois ao lado do sobrinho Vinícius no meu antes aconchegante alpendre. Assim a vida se vai, e eu cada dia mais machucada.

Estou nas minhas últimas forças, mal me sustentando em pé. A minha dor aumentou quando recentemente ouvi o meu atual dono dizer ao Sr. José: – Vai ficando aí até eu decidir o que fazer com a casa. Precisa dizer mais alguma coisa sobre meu destino? Se ele não tem a mínima preocupação em me promover uma cirurgia estética é porque meus dias em Patos de Minas estão se encerrando. É neste endereço onde eu humildemente espero o meu fim. Este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade. Com certeza, e assim vou para a eternidade!

dsc03158

* Texto e foto (15/11/2016): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe