CRIANÇA QUE NASCE DE MÃE TORTA…

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Já faz um bom tempo que um anúncio comercial de uma marca de biscoito perguntava: – Vende muito por que está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho por que vende muito? Até hoje não sei a resposta. Coisa semelhante a esta pergunta está acontecendo com o negócio padaria. Tenho reparado que as padarias estão de roupagem nova para atender mais e mais clientes para o café da manhã ou da tarde. Cabe a pergunta: – As padarias estão se renovando por causa dos clientes do café da manhã ou da tarde ou este pessoal está tomando o café da manhã ou da tarde nas padarias por que elas estão se renovando? Eis a questão!

Depois desta xaropada toda que não acrescenta nada na vida de ninguém estava eu na fila do caixa de uma padaria num dia desses qualquer, que também não importa qual seja. À frente, uma mãe já, digamos assim, como vou dizer para não magoar este sexo tão sensível à idade… é… acho melhor deixar isso pra lá. Portanto, lá estava a mãe já coroa – pronto, saiu sem querer – danando com a filha de pouco mais de 3 anos que teimava em querer um chocolate. A progenitora dizia não com a mão direita repleta de anéis suspeitos quanto à qualidade enquanto no pulso as quarenta e sete pulseiras igualmente de qualidade suspeita balançavam garbosamente, mas a catarrenta insistia.

– Eu quero, eu quero, eu quero…

Até que os sensíveis ouvidos da criança ouviram:

– Tá bom filhinha do meu coração, pode pegar.

A filhinha do coração tentou, tentou, tentou e não conseguiu abrir a embalagem. Mamãe zelosa primeiro ajeitou a vasta cabeleira loira com todas as raízes dos cabelos num preto culposo, gentilmente pegou a embalagem e mostrou à filha como era inteligente e perspicaz, abrindo com rapidez o invólucro. A catarrenta desamuou, comeu o chocolate e sem pestanejar, jogou a embalagem no chão do estabelecimento. A mamãe, que recebeu educação de primeiro time em colégios particulares e formada em Filosofia sem saber o que isso significa, simplesmente sorriu para a filhinha querida e chutou o lixo para debaixo do móvel do caixa. A malfadada cria, que acompanhou atenta o gesto, acabara de receber de quem lhe pariu um ensinamento para a vida.

A dondoca pagou a conta de R$ 5,85 com cartão de crédito, e não de débito, pegou a mão da filhinha e se mandou numa cabine dupla do ano. Os que ficaram na fila, como eu, claro que trocamos olhares e até alguns comentários e, sem pestanejar, pensamos em conjunto: – Criança que nasce de mãe torta

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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