BOTEQUEIRO ESPERTO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Estávamos tomando umas geladinhas num boteco ali perto do campo da URT. Conversa vai, conversa vem, reparamos num bêbado dormindo numa mesa próxima. Apesar da zoeira no local, o sujeito estava literalmente apagado, com a cabeça apoiada sobre a mesa e os dois braços pendentes. Mas logo percebemos que ainda havia nele uma réstia de lucidez, pois, quando o botequeiro o cutucou, o quase morto deu uma remexida, custou a firmar o pescoço na tentativa de segurar a cabeça, tremeu pra leste, oeste, sul e norte, acabando por voltar à sua posição preferida, que era dormitar sobre o tampo da mesa. Nosso papo foi rolando até que um amigo reparou numa singularidade.

– Uai, que negócio esquisito. De tempos em tempos o botequeiro acorda o cara, ele inicialmente se assusta e age como estivesse se afogando. Depois se recupera, volta à sua posição normal na mesa e o botequeiro o deixa lá. Assim já vi umas quatro vezes.

Por causa disso resolvemos perguntar por que raios aquilo estava acontecendo.

– Ei, não me leve a mal, mas por que você a todo momento acorda o bêbado, ele custa a lhe responder, você o deixa lá e não o manda embora?

Com a maior cara de pau o botequeiro nos disse:

– Eh, eh, eh, nada não gente. É que o cara, além de não incomodar ninguém, toda vez que eu o acordo ele paga a conta.

Foi a nossa vez de pagar a conta e nos mandar daquele boteco. Nunca mais voltamos lá!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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