FESTA QUE JÁ FOI DO POVO, A

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Antigamente, quando a Festa do Milho ainda era bem desfrutada pela população, os organizadores programavam atividades que desenfurnavam famílias inteiras de suas casas e as colocavam nas ruas da cidade com o olhar pregado lá em cima, atrás das piruetas da Esquadrilha da Fumaça. Depois, o povaréu acompanhava as rodas de violeiros, assistia os shows realizados em praça pública, participava dos torneios, festivais e outras atrações que davam aquele tchan à nossa comemoração maior e, no finalzinho da festança, se aglomerava ao longo da Getúlio Vargas e apreciava o desfile das escolas, do Tiro de Guerra, da rainha e princesas em seus lindos carros alegóricos imaginados e feitos pelos artistas da terra. A festa do mês de maio era do povo, porque foi o trabalho dele que deu origem a ela.

Mas tudo mudou, e agora a festa pertence ao Sindicato Rural. Daí, dela só participa quem tem dinheiro. O ingresso na base de dez pratas por cabeça, cinco pratas para guardar o possante no estacionamento, bebida e comida caras sob a alegação de que o aluguel do metro quadrado de chão onde se colocou a barraca é muito alto. Moral da história: o chefe de família levou sua mulher e três filhos ao parque de exposições, ficou por lá pouco mais de uma hora e, mesmo com toda a economia nas despesas, foi embora “mordido” porque havia gasto quase setenta reais. Não voltou uma segunda vez. Enquanto isso, o presidente da entidade afirma que o parque possui hoje uma estrutura invejável, mercê de uma contribuição incansável para a construção e progresso da cidade e seu povo.

Não é bem assim. Quem contribui, na verdade, é só o povo. Primeiro, com a festa, doada ao sindicato por obra e graça não se sabe de quem. Depois, através das verbas municipais. Só este ano, a Prefeitura colaborou com 70 mil reais dos impostos pagos pelos cidadãos. E finalmente, na bilheteria, na hora de entrar, pois sem dinheiro o José dos Anzóis Carapuça não participa de coisa nenhuma, por mais que tenha vontade. Nas quase duas horas que ficou no parque de exposições, o chefe de família aí de cima gastou muito mais dinheiro do que com o pagamento anual da taxa de esgotos de sua casa. Mas, nesse caso, não existia nenhum defensor do povo de plantão…

* Fonte: Texto de Fernando Kitzinger Dannemann publicado com o título “Cadê os Defensores do Povo?” na edição n.º 78 de 20 de março de 1998 do jornal O Tablóide, do arquivo do missivista.

* Foto: Cartaz oficial da Fenamilho de 1998, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

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