QUE VERGONHA!

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Num sábado à noite desses tantos que já se foram estava eu com uns amigos no Pátio Central Shopping sorvendo uma daquelas torres de chope. No sábado à noite geralmente a movimentação de pessoas na praça de alimentação até que é razoável. Tem gente de todo tipo formando uma miscelânea de gestos e pormenores que, prestando atenção, você sempre capta uma cena inusitada. Numa mesa próxima de nós se encontrava sozinha uma daquelas adolescentes de seus lá 13 e quando muito 15 anos característica da época: encurvada com dedos e olhos na pequena tecnologia digital alheia ao que acontecia à sua volta. E outra característica peculiar a ela: uma saia tão pequena que até o cabelo do relógio aparecia. Sim, a saia era tão curta que na hora imaginei que a menina estivesse usando uma peça da vestimenta daquela boneca famosa, a Barbie. E aí está uma coisa que não entendo em se tratando de mulheres. Estava muito evidente que a saia não dava sossego a quem estava lhe vestindo, pois a cada segundo a mocinha, com uma mão de cada lado, ajeitava-a. Então por que, sendo terrivelmente desconfortável, a mulher usa assim mesmo? Vai entender!

Encostado ao lado do espaço de brinquedos pra as crianças estava um garotão daqueles de manequim 38 usando bermuda número 46. Resultado: é claro que metade da bunda estava à mostra com a cueca vermelha sem cobrir o rego. Na cabeça, o fatídico boné com a pala para trás. E do mesmo jeito que a mocinha, com dedos e olhos na pequena tecnologia digital alheio ao que acontecia à sua volta. Mas, como é de praxe, depois de 10 horas fixas na tela, chega o momento de esticar o pescoço e as costas para, pelo menos, se aperceber onde está. Por uma incrível coincidência, os dois esticaram os olhares ao mesmo tempo. E os olhares se encontraram. Foi hormônio à primeira vista. E como as coisas estão muito mudadas nos dias de hoje, quem primeiro partiu para a caça foi a mocinha, que não tirava os olhos do mancebo, que logo percebeu e retribuiu com um sorriso mais amarelo que jaca madura.

Com a velocidade da luz e um pouquinho mais os hormônios sexuais se postaram em polvorosa e a temperatura corporal de ambos subiu medonhamente, pois na juventude de hoje quem comanda o corpo são os hormônios sexuais, os neurônios que esperem a vez. Os olhos da mocinha vibravam e sabe-se mais o que e o rapagão bombado com sei lá o que, numa pose de conquistador infalível, fez um gesto para a mocinha. Ela, parecendo até que tinha se enfiado num temporal de águas ácidas, porque não aguentava mais aquela distância que os separavam, se levantou bruscamente. Ô drama: a minúscula saia barbiana ficou presa no banco. Já de pé, com a calcinha fio dental mal cobrindo a pinta na virilha direita, ela disparou numa correria desenfreada para dentro de uma loja de departamentos que fica em frente. Azar o nosso, pois já estávamos de saída e não presenciamos o final da comédia. O garotão bombado? Sei lá!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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