VÔMITOS NA AULA DE ANATOMIA

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Foi no curso de Medicina numa faculdade patense, início do ano passado. Na primeira aula da matéria Introdução a Anatomia de Mamíferos, toda a turma estava reunida em volta de uma mesa com um cadáver estirado em cima. Um cheiro medonho de formol exalava para todos os lados, e aquilo entrava pelas narinas dos alunos queimando até os cabelos das ventas. A mulherada toda e quase todos os rapazes já estavam com vômitos, exceto quatro mancebos metidos a corajosos e se fingindo de valentões. E o professor manjando, só de olho neles. Aí ele, o professor, falou:

– Muito bem, muito bem, todos prestando atenção. Eu sei que este primeiro contato com um cadáver conservado no formol não é muito agradável. Reparei que a grande maioria da turma sentiu aversão pela peça. Não se preocupem, pois isso é perfeitamente normal. Mas não deixei de reparar nestes quatro rapazes aqui. Parabéns a vocês pela força de vontade em querer encarar a situação. Turma, estes rapazes estão dando a vocês uma grande demonstração de afinidade com a matéria. Depois dessa demonstração de atitude, vou mostrar agora que eles estão certos em não ter nojo deste cadáver.

O professor, para mostrar a todos que não precisavam ter nojo do cadáver, passou o dedo sobre a peça e imediatamente o levou até a boca e lambeu. Foi vômito pra tudo quanto era lado. Mas os quatro rapazes ficaram lá prendendo a vontade de vomitar bem em frente à mesa. E o professor só manjando. Depois que a coisa se acalmou, todos se reuniram novamente em torno da mesa e o mestre continuou a aula.

– Estão calmos agora? Pessoal, não se envergonhem por isso. Confesso a vocês que passei pelo mesmo problema. Depois a gente se acostuma e tudo fica fácil. Quero aproveitar a oportunidade que estes quatro alunos me ofereceram ao demonstrarem coragem para pedir-lhes que repita o meu gesto.

Os quatro jovens tremeram, mas não tiveram como escapulir. Totalmente constrangidos e com nojo, foram obrigados a fingir de durões e a correr cada um o dedo em toda a extensão do cadáver e passar na boca. Foi de espantar criancinha que não tem medo de bicho-papão a cara medonha dos sujeitos. E a mulherada toda danando a vomitar de novo. Quando a situação se acalmou novamente, o professor voltou a falar.

– Pois bem, turma, viram só a gana destes alunos? Saibam que é preciso ter muita coragem para fazer o que estes quatro rapazes fizeram. Para falar a verdade eu nunca consegui fazer o que eles fizeram.

Quando o professor falou que nunca tinha feito o que os quatro alunos fizeram, eles se olharam e um foi logo perguntando:

– Como o senhor nunca fez isso? Todos aqui o viram passar o dedo no cadáver e depois na boca.

– Bem, eu disse que vocês não precisavam ter nojo da peça. É realmente verdade. Aí passei um dedo no cadáver e, como não sou trouxa, passei outro dedo na boca.

Ao ouvirem a verdade, a mais pura verdade, os quatro durões arregalaram os olhos e danaram a vomitar. Foi uma gozeira só e todos os outros sensíveis colegas saíram da aula com a alma lavada.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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