SOBREVIVENTES DO LIXO

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Os patenses não precisam ligar a TV para assistir aquelas cenas deprimentes de homens, mulheres e crianças vivendo do lixo que recolhem nas grandes metrópoles.  Este quadro de miséria pode ser visto aqui mesmo, a menos de dois quilômetros da cidade. Basta atravessar a antiga ponte do Rio Paranaíba, pegar a estrada de Boassara e chegar até o famoso Lixão da Prefeitura. O local é um cenário de horror, com pilas de lixo esparramadas para todos os lados, onde, indiferentes aos riscos sanitários, dezenas de famílias trabalham diariamente a cata de latas, arames de cobre, metais, papéis, caixa de papelão e tudo que pode ser vendido para se transformar em orçamento doméstico, inclusive comida. “O melhor dia é terça-feira”, diz Dona Maria Dias, que há quatro anos trabalha com o marido recolhendo lixo para vender e sustentar a família. “Meu esposo é doente e não aguenta mais trabalhar, ele só me ajuda a carregar as coisas mais leves”, esclarece ela, afirmando que o resultado da coleta é uma renda mensal de R$ 18,00. Outros catadores de lixo entrevistados por DIGA, garantem que esta renda pode atingir a faixa de até R$ 36,00, dependendo do volume e da qualidade de material recolhido.

A maioria das pessoas que sobrevivem do Lixão da Prefeitura estão desempregadas e asseguram que não encontram ocupação no mercado de trabalho. Eles passam da faixa de cinquenta anos e muitas vezes reclamam de doenças que exigem tratamento prolongado. Muitos dos frequentadores possuem casa própria em bairros periféricos da cidade. São imóveis humildes e minúsculos, localizados em muitos casos, em terrenos ou lotes irregulares. Para catar o lixo vale tudo, de carrinho de mão à carroça, bicicleta ou até mesmo a própria força física. O material recolhido é absorvido facilmente nos estabelecimentos comerciais que compram e vendem ferros velhos e outros objetos que possam ser reciclados. Quando a reportagem da DIGA chegou ao local, todos ficaram assustados. Alguns não acreditaram se tratar de repórteres receando ser fiscais da Prefeitura Municipal. Eles temem o fim do lixão, o que representaria uma calamidade para seus orçamentos domésticos. Alguns deles são bastante conscientes dos riscos que correm nesta triste profissão. “A gente só cata a nata do lixo e não deixamos as crianças comerem nenhum alimento que encontramos aqui”, frisou a catadora Maria Dias. Ela assegurou que nunca ficou sabendo de alguém que tivesse sido afetado por alguma doença naquele local.

PREOCUPAÇÃO – O Secretário Municipal de Planejamento, engenheiro Marcelo Ferreira Rodrigues se diz preocupado com as pessoas que trabalham no Lixão da Prefeitura. Ele já encaminhou toda a documentação necessária ao Departamento de Obras Especiais do Estado (DEOP) na tentativa de obter financiamento junto ao BDMG para viabilizar um projeto de destinação final do lixo urbano em Patos de Minas. Para quem não sabe, cerca de 70 toneladas de lixo são recolhidas diariamente na cidade e despejadas no depósito da Prefeitura. “Sabemos que isto representa um grave problema de saneamento básico, com prejuízos irreparáveis ao meio ambiente, com a poluição ambiental”, admite o secretário. A idéia é incluir a Prefeitura Municipal de Patos de Minas no Projeto Somma, através do qual, o BDMG irá investir vultuosos recursos na elaboração de programas sanitários em vários municípios mineiros. Segundo o secretário, no caso específico de Patos de Minas, a intenção é definir um projeto de aterro sanitário, aliado a uma usina de beneficiamento, com um processo moderno de reciclagem. Outro agravante observado pelo secretário é o problema de contaminação na área onde o projeto poderá ser desenvolvido. No local onde se encontra o Lixão da Prefeitura existe a nascente do Córrego do Nogueira, com sérias suspeitas de estar contaminado e colocando em risco o leito do Rio Paranaíba. “Vamos analisar profundamente esta questão, porque o resíduo líquido do lixo é altamente tóxico”, confirma Marcelo Rodrigues. Se o projeto comprometer a área neste sentido, outro local deverá ser escolhido para a implantação do sistema. “Ainda não temos uma situação de risco extremo no Lixão, mas isto será observado com muito cuidado”, diz ele. Para desenvolver o projeto de reciclagem e usinagem do lixo, a Prefeitura de Patos de Minas depende de um financiamento em torno de 1,2 milhão de dólares. Com o encaminhamento da documentação, o secretário acredita que a proposta deverá ser viabilizada até meados do próximo ano.

* Fonte e foto: Texto publicado com o subtítulo “Dezenas de pessoas sobrevivem às custas do Lixão da Prefeitura, com rendas inferiores a meio salário mínimo” na edição n.º 1 de 10 de julho de 1994 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

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