FÁBRICA DO QUIABO EM 1994: BODE EXPIATÓRIO OU NÃO?

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A Indústria de Rações Patense, tradicional Fábrica do Quiabo, não quer assumir sozinha a culpa pela poluição atmosférica que periodicamente invade a cidade, causando protestos da população¹. Há muito tempo se questiona qual é a origem do mau cheiro inoportuno que esporadicamente impregna vários bairros de Patos de Minas, atingindo até a área central da cidade. Alvo recente de denúncia da Secretaria Municipal de Planejamento junto à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), a Indústria de Rações Patense contratou a empresa especializada Nicho – Engenheiros & Consultores, de Belo Horizonte, para elaboração do Plano de Controle Ambiental (RCA), com o propósito de diagnosticar os detritos atmosféricos expelidos pela fábrica. “No caso de se comprovar a existência de efluentes poluidores, nós estamos dispostos a responsabilizar-nos pelo ato”, assegurou o gerente administrativo da indústria, José Batista Gomes.

Conforme o gerente, não é justo que a indústria seja transformada no “bode expiatório” de todos os problemas ambientais que surgiram no município nos últimos anos. Ele explicou que o advogado da empresa, Eduardo Furtado, já expôs todas as condições técnicas da indústria para o secretário municipal de Planejamento, Marcelo Ferreira Rodrigues. O projeto inicial de construção da fábrica, que se transferiu do setor urbano para a zona rural, após longas negociações com o poder público municipal, foi aprovado em 1.988 pelo Conselho de Proteção ao Meio Ambiente (Copam). No projeto consta que, por estar instalada na zona rural, a fábrica não precisaria fazer o controle de efluentes atmosféricos, fato que levou o Copam a aprovar imediatamente a planta técnica apresentada pela indústria na ocasião.

Segundo o gerente José Batista, no último dia 23 de julho, a empresa recebeu a visita do representante da Feam, Consuelo Ribeiro Ferreira que, atendendo denúncia da Secretaria Municipal de Planejamento, vistoriou as instalações da fábrica, acompanhada do engenheiro sanitário da Prefeitura. A fiscal da Feam esclareceu que tanto a Indústria de Rações Patense quanto o Lixão da Prefeitura são suspeitos de estarem originando a poluição que perturba a população local. A Feam deu prazo de 60 dias para que a indústria apresente o PCA e o RCA, sob pena de ser notificada por desrespeitar a lei de proteção ambiental.

PROVA – “Estamos cansados de sermos considerados culpados por tudo de fétido que é lançado no ar em Patos de Minas”, desabafou Batista, ao comentar a inspeção da Feam. Ele ressaltou que a indústria agora irá exigir prova científica e material de que os odores que poluem a cidade contém todos os ingredientes físicos e químicos dos produtos industrializados pela fábrica. “A composição de nossos detritos é formada unicamente por cálcio e fósforo. Se houver outros ingredientes e culpa não é nossa”, assegurou ele. O gerente explicou que as denúncias contra a fábrica só podem ser comprovadas mediante coleta do ar, que terá de ser analisada detalhadamente por um laboratório especializado, sério e competente. “Se isto acontecer, nós tomamos todas as providências necessárias para resolver o problema”, garantiu.

A Indústria de Rações Patense quer que todas as cartas sejam colocadas na mesa no que se refere ao rastreamento dos agentes poluidores da cidade. Até o próximo dia 31, o PCA e o RCA encomendados pela empresa deverão ser protocolados junto à Feam, em Belo Horizonte. A fundação terá 90 dias para analisar os relatórios e emitir um parecer sobre o grau de poluição expedida pela fábrica. “Somos bem menores que as multinacionais que atuam no município e representamos apenas um grão de areia em relação às demais empresas que emitem efluentes atmosféricos em Patos de Minas”, concluiu o gerente José Batista Gomes.

POTENCIAL – Fundada no dia 23 de julho de 1.970, a Indústria de Rações Patense completa 24 anos de atividades com admirável potencial de produção, considerando sua estrutura de empresa de médio porte. No total, ela gera 64 empregos diretos e o triplo deste número em mão de obra indireta sustentada por suas atividades. “Recolhemos 120 mil dólares de impostos por ano, incluindo os encargos sociais”, se empolga o gerente da empresa. Ele salienta que a indústria anda rigorosamente em dia com os tributos municipais, estaduais e federais e ressalta a importância econômica e social que a popular Fábrica do Quiabo representa para a comunidade.

A Indústria de Rações Patense, segundo dados do próprio gerente, produz 300 toneladas de farinha de carne, 120 toneladas de farinha de osso e 100 toneladas de gordura industrializada durante os períodos de pico de produção. Seus produtos são consumidos no mercado granjeiro especialmente nas cidades de Pará de Minas, São Sebastião do Oeste, Juiz de fora e vários municípios do Triângulo Mineiro. Vinte por cento de sua produção é exportada para Fortaleza e um significativo volume também é absorvido nas regiões granjeiras do norte de São Paulo. A coleta da matéria prima, osso e sêbo, é feita em 51 cidades nos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Mato Grosso.

* 1: Leia: “Quando a Catinga de Farinha de Ossos Dominava a Cidade”.

* Fonte e foto: Texto publicado com o título “Cartas na Mesa” e subtítulo “Indústria quer esclarecer origem da poluição atmosférica na cidade” na edição n.º 02 de agosto de 1994 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

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