IMPONENTE FUGA EM 1926

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TEXTO: JORNAL DE PATOS (1926)

No dia 10 do corrente, às 4 horas da tarde, a nossa Cidade foi sacudida por uma noticia sensacional: os presos da Cadeia local haviam fugido todos! Alarmados com as primeiras informações que individuos apressados nos traziam, dirigimo-nos para a Cadeia afim de saber o que havia de verdadeiro sobre o que se propalava. Lá chegando, fomos informados que o sentenciado Marinho, seu irmão Victor e os filhos de Paulo Damião, Noè e João, depois de pespegarem uma formidavel surra no Sargento, commandante do destacamento, em um soldado que com elle ficara de guarda, fugiram garbosamente, levando alguns fusis que se achavam no Corpo da Guarda.

Este facto vem mostrar a efficiencia de nossas auctoridades e o cuidado que manifestam pela ordem pública de que se dizem emphaticamente, mantenedores.

Até hoje, não sabemos o que fez o Delegado. Só sabemos porque vimos e ouvimos o attestado de inepcia que lhe passou o Cap. Feliciano de Andrade que aqui esteve não em caracter de auctoridade, mas sim como simples visitante, com a tremenda descompustura que passou no Sargento commandante do destacamento, affirmando que se fosse elle capitão o delegado, elle sargento, já estaria no xadrez, porque havia sido conivente com a fuga, e, portanto, o unico responsavel. Ora, o Delegado Villas já havia estado lá na Cadeia e nenhuma observação fizera ao Sargento, o que equivalle a dizer que o Cap. Feliciano achava que o Delegado não agiu como elle Capitão, agiria, caso estivesse no logar dele delegado.

Extranhamos e censuramos a atitude de franca descortezia do Capitão para com o sargento, a quem se dirigiu em linguagem grosseira, porque elle Capitão não é aqui autoridade, não podendo, portanto, fallar nesse caracter ao commandante do destacamento que não está sob suas ordens, mas sim do Delegado que nada lhe disse. E mesmo que fosse o Capitão delegado aqui não lhe competia destractar assim em publico um subordinado, pelo menos é o que mandam a boa educação e a ethica funccional.

Foi um simples gesto de exhibição do ex-delegado militar de Patos, porque elle não envolve nenhum desejo de amparar a ordem publica, pois, o Cap. Feliciano de Andrade exerceu o cargo de delegado desta Comarca durante mais de seis (!!!) annos, não tendo durante a sua gestão um só acto que o possa recomendar à gratidão de nosso povo.

O Delegado Villas segue as mesmas pegadas do Cap. Feliciano: pouco liga as funcções de seu elevado cargo. Vive tão preocupado com outras questões que lhe são affectas pelas circumstancias, que prefere ficar surdo aos reclamos das necessidades publicas desde que assumiu o espinhoso cargo.

Esse energico delegado sò fez duas diligencias importantes, neste Municipio: uma em companhia do Dr. Adelio Maciel, Presidente da Câmara e do Escrivão do 1.º officio, na fazenda dos irmãos-Guimarães, no districto de Sant’Anna, em que se demorou quatro dias; outra, no arraial de Ponte Firme, em companhia do Cel. Farnese Dias Maciel, do dr. Antonio Maciel e dr. Adelio Maciel, em que se demorou outros tantos dias.

O resto não tem importancia. A tentativa de morte da rua Desembargador Frederico, o ferimento do Café Melchiades e o barbaro e covarde assassinato de um soldado em plano arraial de Santa-Rita, tudo isso são cousas de somenos.

Á vista do que fica exposto era natural que o Marinho e seus companheiros quisessem dar um passeio. Foram visitar os muitos colegas que accintosamente, passeiam a sua importancia pelo Municipio sem que as auctoridades delles se apercebam.

Para quem apelar?

N.R. – Vai publicado com atraso por falta de espaço. Embora, já sejam passados muitos dias, desnecessario nos será encarecer a oportunidade desta noticia para a qual chamamos a attenção de nossos leitores.

ATTENÇÃO

Depois de darem um passeio em companhia do Marinho durante alguns dias voltaram, expontaneamente, e entregaram-se á prisão, dois dos foragidos do dia 10, que são Noé e João Damião.

* Fonte: Texto publicado com o título “Imponente Fuga” e subtítulo “Deixaram o Villas e deram às de Villa… Diogo” na edição de 25 de julho de 1926 do Jornal de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Bora21.wordpress.com.

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