DEIXAREI SAUDADE – 27

Postado por e arquivado em 2017, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Faz pouco tempo um casal de idosos se postou em frente à minha fachada, no outro lado da rua, a Agenor Maciel entre Teófilo Otoni e Ana de Oliveira. O senhorzinho olhou-me de tudo quanto era jeito. A senhorinha também. Aí ouvi ele dizer: – Olha só, a casa está à venda. Ela perguntou: – Será que vão reformá-la ou derrubá-la para a construção de mais um prédio? Recusei-me a continuar prestando atenção na conversa, pois este tipo de conversa me maltrata, dilacera minhas entranhas. Por quê? Ora bolas, é muita maldade para um imóvel como eu saber que meus dias estão contados. Ou alguém acredita que vou ser reformada? É claro que não! É mais do que evidente que a especulação imobiliária vai erguer aqui no meu espaço mais um bitelo dum prédio. Estou agora numa situação ambígua: alegria e tristeza. A diferença entre minha alegria e tristeza é que a alegria é intensa enquanto a tristeza é profunda. Tive muitas alegrias ao longo da vida com aqueles que me ocuparam. Sou do tempo em que esta rua servia de estacionamento para muitos ônibus, situação que incomodava meus donos, mas não a mim. Ainda sinto o odor refrescante das flores que se vendiam aqui, não faz muitos meses. Mas agora vem a tristeza de saber que muito breve serei um monte de entulho. Da minha realidade nasce esta tristeza. Sei bem o que quero, mas sei também que não posso ter mais esperanças de continuar abrigando almas. A dureza de um momento de tristeza nos transmite lições para a vida inteira, vida minha que se esvai. Tudo na vida tem valor, até o vazio interior que brota no silêncio da tristeza às vésperas da morte. Vou em paz, pois sei que desde o primeiro tijolo assentado passei a fazer parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* Texto e foto (22/04/2017): Eitel Teixeira Dannemann.

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