CATARATA EM CÃES

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Catarata é uma opacidade na lente. A lente normal é completamente transparente e enfoca a imagem na retina por um processo de acomodação. A lente é isolada dentro de uma cápsula, mas se essa cápsula se altera, o corpo do animal entra em contato com as proteínas da lente e começa a atacá-las, produzindo uma inflamação muito dolorosa. A lente então se torna opaca, impedindo a visão. Essa opacidade pode ocupar uma pequena área da lente ou pode afetar a lente inteira. É uma anormalidade que merece atenção, pois pode levar a consequências sérias e até à perda do globo ocular.

É comum as pessoas pensarem que cataratas são normais em animais velhos. Esta é uma ideia errada, apesar de ser normal um cachorro idoso com lentes que parecem conter uma espécie de nuvem de cor azulada, similar ao aspecto da catarata. Na realidade, isso é um processo diferente da catarata. A lente do olho é formada por tecido fibroso, que com a idade se torna mais denso, um processo normal que dá uma aparência opaca à lente, mas que não causa perda de visão ou nenhum tipo de inflamação. Esse processo é conhecido como esclerose lenticular, e essa condição permite que o animal enxergue através da lente. Um exame oftálmico veterinário cuidadoso pode diferenciar a esclerose lenticular da catarata.

As cataratas em cães merecem atenção veterinária. Primeiro, porque se a área da lente tomada pela catarata é extensa, o animal ficará cego. O mesmo processo que iniciou a catarata em um olho pode iniciar também no outro olho, comprometendo completamente a visão do animal. Cataratas pequenas, que não afetam a visão, provavelmente podem ser simplesmente monitoradas periodicamente e não requerem tratamento especial, mas uma catarata mais extensa pode progredir rapidamente a complicações sérias.

Cataratas podem deslocar-se (luxação da lente), ou seja, a lente pode flutuar dentro do olho e parar em um local onde a drenagem natural dos líquidos do olho será bloqueada. Se a drenagem do líquido intraocular for obstruída, a pressão interna do globo ocular aumenta e inicia-se o processo de glaucoma, uma condição dolorosa que pode levar à perda do globo ocular. A luxação da lente é considerada uma emergência ocular e deve ser atendida o quanto antes. As cataratas, depois de um tempo, também podem começar a dissolver, causando uma inflamação intensa chamada uveíte. Esta é extremamente dolorosa e também pode levar ao glaucoma.

Cataratas podem ser causadas por diversos fatores, entre eles a diabetes. Quando o açúcar do sangue sobe descontroladamente, o açúcar presente no fluído intraocular também se eleva. Esse excesso de glicose é absorvido pela lente e transformado em sorbitol, que por sua vez puxa fluído para dentro da lente, causando a catarata. Outras causas de cataratas em cães podem ser congênitas (ou seja, o animal nasce com a anormalidade), genética (cataratas hereditárias, a causa mais comum), cataratas geradas por trauma, deficiências dietéticas, choques elétricos ou por toxinas.

Como qualquer opacidade na lente é considerada catarata, os aspectos variam desde uma opacidade do tamanho de uma cabeça de alfinete até uma lente completamente opaca. Em certos casos, cataratas congênitas são estáticas, ou sejam, não desenvolvem e podem ser tratadas com medicamentos ao invés de cirurgia (com exceções determinadas pelo médico veterinário). Existem testes de DNA para identificar se o cachorro possui o gene de catarata hereditária, e esses testes estão tornando-se cada vez mais populares na identificação de animais portadores. Criadores de cães de raça devem utilizar esses testes de DNA e esterilizar os animais portadores para que o gene não seja passado para os filhotes.

O tratamento das cataratas é cirúrgico e consiste da retirada da lente ou da emulsificação (dissolução física) da mesma. Após a remoção da lente por um dos dois métodos, uma lente artificial (prótese) é implantada. Estes tratamentos são bastante caros e invasivos, portanto, somente se considera a cirurgia em casos onde se pode recuperar a visão ou eliminar a dor do animal. De uma forma geral, a cirurgia é mais bem sucedida se a inflamação do olho for resolvida antes do procedimento, portanto uma série de medicamentos tópicos serão prescritos no período pré-operatório, e a frequência de aplicação é bastante alta.

Se as cataratas não estão causando inflamação, dor e glaucoma, uma alternativa razoável é monitorar. O cão estará cego, mas, contanto que não esteja sofrendo de dor, a qualidade de vida pode ser igual a de um animal com visão perfeita, pois os cães tem outros sentidos bem desenvolvidos e se adaptam à cegueira com facilidade. É importante não mudar a disposição dos móveis na casa, pois o cachorro aprende a se locomover naquele ambiente e conhece todos os locais. Alguns cães se tornam muito ansiosos e, às vezes, agressivos quando estão cegos. A decisão de fazer a cirurgia depende de muitos fatores e da decisão pessoal de cada dono. Se você acha que não vale a pena (ou simplesmente não pode) fazer a cirurgia, consulte o seu veterinário e faça suas consultas periódicas para manter o olho do seu cãozinho o mais confortável possível.

* Fonte e foto: Texto de Dra. Paula Ferreira – Ferreira Animal Hospital, publicado em Gazetanews.com (16/01/2014).

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