QUANDO A BAIXA AUTOESTIMA EXTRAPOLA O INDIVÍDUO E AFETA A COMUNIDADE

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2017)

De acordo com os entendidos no assunto, a Baixa Autoestima é uma característica comum das pessoas que se sentem inadequadas consigo mesmas, com os outros, e com a vida em geral, revelando uma ausência de maturidade emocional. Definição básica, essencial, e não precisa mais do que isso para qualquer indivíduo da comunidade perceber que, assim como em qualquer lugar do planeta Terra, Patos de Minas está povoada de centenas de seres humanos com Baixa Autoestima.

É o caso do Fulano. Este cidadão, ainda em tenra idade, descobriu que os semelhantes de sua espécie pouco lhe reparavam, exceção aos familiares e amigos. Quando ainda no ensino fundamental, foi um enorme desconforto para o corpo docente e os colegas, pois se não aprontasse alguma arte passava despercebido. Na adolescência, contribuiu deveras para clarear precocemente os fios de cabelos de seus pais, tamanha a rebeldia e a necessidade de fazer-se presente aos olhos dos conterrâneos. Não há comprovação oficial quanto ao motivo que caracterizou o comportamento antissocial do mequetrefe, isto é, se foi falta de berço ou degeneração neurológica natural de nascença. Fato é que o sujeito alçou à condição de adulto com o popular estigma de mala.

Enorme felicidade teve o Fulano quando adquiriu uma moto 125 cilindradas, de carenagem vermelha e roxa com os aros das rodas em berrante cor dourada. A alegria durou pouco, pois logo percebeu que ninguém lhe reparava em suas rodagens pelas nossas ruas enrugadas. Sem pestanejar, deu um pontapé na motinha e adquiriu uma daquelas possantes 1000 cilindradas. Em aparte, é conveniente salientar que as montadoras de motos investem milhões de dinheiro para produzir veículos cada vez mais silenciosos, por mais possantes que sejam. Voltando lá para o Fulano, a estreia com sua possante máquina silenciosa em toda a extensão da Rua Major Gote foi um fiasco. Quanta tristeza, ninguém reparou nele e na sua vibrante e calada máquina.

Mas o Fulano é assaz observador do cotidiano trânsito patense. Perspicaz, encontrou logo a saída para seu drama e chutou o balde. Não pensou nem meia vez para modificar o escapamento. Glória, mil vezes glória! A partir desta ação de gênio antissocial, tornou-se um indivíduo conhecidíssimo em Patos de Minas. Quando ele para nos semáforos fazendo um ensurdecedor vrum-vrum, quando acelera a 100 por hora em pleno centro do Cidade com um estrondo que incomoda até os hóspedes do Cemitério Santa Cruz, quando, todas as noites, com seus congêneres bestiais ultrapassa os 200 km/h na Avenida Marabá,  assim o Fulano se realiza estupidamente todos os dias. E quando o Fulano deposita a fétida cabeça no travesseiro, ele suspira de felicidade e dorme o sono da fama. Enquanto isso, todos os normais da comunidade torcem para que ele seja abduzido e depositado no Congresso Nacional!

A Baixa Autoestima é também característica enraizada no Beltrano. Cabe ao Beltrano toda a gama de desqualificações psicológicas inerentes ao Fulano. Só que a Baixa Autoestima do Beltrano não tem nada a ver com moto. O prazer dele, para a nossa desgraça, é o som automotivo de trincar concreto. Seja camionete, rebaixada ou não, seja qualquer tipo de veículo, recente ou do século passado, o som aterrorizante das piores partituras musicais do Universo que extrapola de seus interiores não perdoa nenhum tímpano, exceção o dele, que extasiado por ser observado chega conscientemente a extravasar sua plenitude: – Estão me vendo? E quando o Beltrano deposita a fétida cabeça no travesseiro, ele suspira de felicidade e dorme o sono da fama. Enquanto isso, todos os normais da comunidade torcem para que ele seja abduzido e depositado no Congresso Nacional!

Avante Patos de Minas, quem sabe, um dia, haverá um poder público de coragem e determinação que terá como leme os nossos Códigos, e assim, através de nossos Códigos elevados à categoria de Lei Suprema a ser cumprida, e ainda com a contribuição dos cidadãos que não concordam com esta esbórnia e reclamando ao bispo, estaremos livres destes malas.

* Foto: Luisgomesrn.com.

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