BAIRRISMO NO IX FEPAMI

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“Eu também não gostei do resultado”, confessou-me um dos jurados do IX Festival Patense de Músicas Inéditas (FEPAMI), evento promovido pela União dos Estudantes Patenses (UEP), que teve sua finalíssima realizada na noite do dia 4 deste mês nas instalações do Projeto SACI em Patos de Minas. A música “Raça”, de Hipólito Ivo e Wilmar Monteiro, foi a grande vendedora do festival, merecidamente, não sendo pois o motivo dos descontentamento meu, do jovem jurado da declaração acima e de inúmeras pessoas que acompanharam a festa de encerramento do FEPAMI/88.

A grande injustiça foi cometida com os participantes de outros centros – Calvino Vieira Júnior, de Uberlândia e Grupo Arco Íris, de Anápolis –, responsáveis por trabalhos musicais de excelente qualidade, que não tiveram o devido reconhecimento no cômpoto geral das notas, de 5 a 10, dadas por 7 jurados. Não pretendo aqui questionar a vitória de “Raça”, uma bela canção, de tema atual e muito bem interpretada pelo Padre Cleudesson Martins. Mas é preciso ressaltar que “Doce Estrela Verde”, de Calvino Júnior, interpretada pelo próprio autor, merecia melhor “sorte” no IX FEPAMI, que teve músicas de ótimo nível em sua finalíssima.

Não falo em nome de minha opinião apenas. Colhi impressões de inúmeras pessoas que presenciaram as apresentações do último dia 4 no Projeto SACI. O resultado como um todo – não exatamente o anúncio da vencedora – causou grande decepção. “Doce Estrela Verde”, que encantou a tanta gente, não agradou a uma boa parte do júri, e nem mesmo somou pontos para se colocar entre as três melhores canções do IX FEPAMI. Foi “agraciada” com o prêmio de “Canção Popular”. Como o corpo de jurados era constituído de pessoas capazes, fica uma pergunta: Se fosse de um patense, “Doce Estrela Verde” ainda assim não estaria entre as três melhores?

Assino o artigo e arrisco-me a responder a pergunta. A música do uberlandense Calvino estaria sim entre as três melhores do IX FEPAMI, caso ele fosse patense. O corpo de jurados foi bairrista e nós, daqui de Patos, precisamos admitir isso. É lógico que um ou outro componente do júri, mais esclarecido e menos bairrista, cumpriu sua função de julgar com imparcialidade. Refiro-me, por exemplo, ao jurado da declaração que inicia este artigo, do qual não cito o nome para preservá-lo dos aborrecimentos de praxe. Estes eu os quero para mim, pois sou eu quem tomo a liberdade de criticar o bairrismo, por considerá-lo retrógrado e, por isso mesmo, imbecil.

Quero isentar a UEP pelo ocorrido, pois, ainda que os jurados tenham sido escolhidos pelos organizadores do FEPAMI, é impossível prever o seu comportamento e o júri seria desnecessário caso tal diagnóstico pudesse ser feito com antecedência. Mas uma crítica no sentido construtivo deve ser feita. O corpo de jurados do IX FEPAMI foi constituído em sua maioria – 5 contra 2 – por pessoas de faixa etária avançada, e mais: dos 7 jurados, apenas 1 não era diretamente ligado a Patos de Minas, o cantor e compositor Gil Baian, de Brasília. Não quero defender um júri composto por pessoas inexperientes, mas entendo que é preciso ter mais “sangue novo” julgando as músicas de um festival promovido pela entidade máter dos estudantes patenses, que são jovens em sua totalidade.

JÚRI E RESULTADO

Corpo de Jurados: Carlinhos Santana, Gil Baian, Heli Ferreira dos Santos, José A. de Almeida Lamarca, Leolino Ermínio dos Santos, Osmar Eustáquio da Silva, Rubens Andrade Costa.

Resultado: 1.º Lugar – Raça, de Hipólito Ivo e Wilmar Monteiro; 2.º Lugar – Sem Rumo, de Civuca Costa e Wilmar Monteiro; 3.º Lugar – Essa Lembrança, de Waldir Carvalho; Melhor Letra – Raça; Melhor Arranjo – Raça; Melhor Intérprete – Padre Cleudesson Martins pela interpretação de Raça; Canção Popular – Doce Estrela Verde, de Calvino Júnior.

* Fonte: Texto de Dércio Rodrigues publicado com o título “Terá Sido Bairrismo?” e subtítulo “A música ‘Raça’ foi a vencedora do IX FEPAMI, que teve canções de ótimo nível em sua finalíssima” na edição n.º 193 de 15 de setembro de 1988 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Esmeraldanoticias.com.br, meramente ilustrativa.

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