TEATRO: DO 14 DE JULHO AO TAPA

Postado por e arquivado em ARTES, TEATRO.

O Teatro 14 de julho, criado por Arthur Thomaz de Magalhães no início da década de 1910, seguia agradando os patenses até surgir um desentendimento entre Virgílio Cançado e Deiró Eunápio Borges ao ensaiarem a peça A Culpa dos Pais. Esse desentendimento fez malograr os esforços de muito tempo de todo o grupo de artistas¹. Somente no final de 1916 é que o movimento teatral ressurgiu com a chegada da trupe Gastão, dando aqui vários espetáculos, sem que a História registrasse o local das apresentações. Gastão formou um grupo de amadores com os quais encenou um sem número de pequenas peças, todas acompanhadas pela orquestra do maestro Randolfo Campos.

Em 1918 foi apresentada a comédia A Dona da Casa, com Ângela Mourão figurando no papel principal. Os ensaios estiveram a cargo de Josefina Viveiros e Laura Leite de Sales. Os acompanhamentos musicais foram feitos pelo professor Modesto de Mello Ribeiro. Nesse mesmo ano foi apresentado um dueto pelas então adolescentes Walda Magalhães (D.ª Iaiá) e D.ª Ângela Mourão. Dona Iaiá nesse tempo era a mocinha mais bela e a mais cativante, a mais graciosa e a mais atraente dessas redondezas. Dona Ângela, ainda meninota, era bastante simpática e tinha voz clara e encantadora. As duas apresentaram O Fidalgo e a Camponesa, em forma de diálogo cantado. Dona Iaiá estava deslumbrante, trajava de fidalgo, enquanto Dona Ângela, vestida de Camponesa, mostrava-se encantadora. A letra da composição não morrerá e ficará como testemunha eloquente do que se fez em Patos de Minas nas suas primeiras manifestações rudimentares no gênero teatral:

ELE: Gentil pastora, ouve um estranho, deixa o rebanho, vem me escutar. Pois que perdido há mais de uma hora vago, senhora.

ELA: Senhor, bom dia! Benvindo seja, tranquilo esteja que a vila é perto. Siga esta estrada bem direitinho, não há caminho mais curto e certo.

ELE: Extensas léguas hei caminhado, estou prostrado, não tenho ar. Vê se me indica qualquer um pouso onde o repouso possa encontrar.

ELA: Senhor! Bem vejo que vós sois nobre, meu lar é pobre, vede-o acolá. Com vosso brio, não há perigo, meu triste abrigo não longe está.

ELE: Muito obrigado gentil morena, mas oh! que pena, não posso ir. Tu meiga e bela de encantos cheia, desta aldeia deves fugir.

ELA: Oh! Não que eu tenha vida folgada, sou muito aniada de coração. Meu nome adeja nos sons ardentes, nos versos quentes de uma canção!

ELE: Isto, que vale bela serrana, se uma choupana só tens por lá. Deixa este sítio na soledade, vem à cidade viver! Folgar!

ELA: Eu morreria lá na cidade, só de saudade da gente nossa. A viver rica, mas esquecida, prefiro a vida de minha choça.

ELE: Pois se eu trair-te, nada tu sofres, dar-te-ei meus cofres, juro por Deus. Habite eu pobre numa choupana, tu soberana, dos passos meus.

ELA: Não, não aceito, que vil desdouro, guarde o tesouro, meu bom senhor. Para fazer-se rica princesa, a camponesa não vende amor.

ELE: És muito pobre para amor tamanho, segue o rebanho, mulher grosseira – Oh como é tola, como eu te iludo, não passa tudo de brincadeira!

ELA: Sem vossa pompa, a vós senhores, vendem amores as cortesãs. Esta franqueza das damas nobres, não mancham as pobres das aldeãs!…

Em 1919 foi encenada a peça Tereza ou Judite ensaiada pelas professoras Josefina Viveiros Mourão, Laura Sales e Feliciana Santiago de Mendonça. Logo após apresentou-se a opereta O Cravo e as Rosas, nela trabalhando Santinha Borges. De 1922 a 1925 houve sempre bons espetáculos dirigidos por Dalca Assunção, Olga Barros e Dr. Antônio Dias Maciel. Os cenários de então eram feitos por Alceu Amorim. As principais artistas eram: Ester Borges, Alda de Mendonça, Maria Queiroz e Normanda Maciel. Na mesma década alcançou grande sucesso um drama escrito pelo Dr. Antônio Dias Maciel, e representado por ele, José Duarte Campos, Ester Borges, Iracema Alves e Alceu Amorim. Infelizmente não foi possível conseguir o nome dessa peça.

Foram importantes também os dramas da vida de santos apresentados pelos meninos que estudavam internos em outras localidades, como João Eunápio, Alceu Amorim, Prof. José Secundino e Vicente Borges. Dentre as peças levadas ao palco na época cumpre citar as seguintes: São Venâncio, São Vito, Santo Aleixo, Ester e São Pancrácio. Na peça Ester, o Prof. Secundino fez papel de vilão. Era o poderoso Amã, que acabou morrendo enforcado. Posteriormente a União dos Moços Católicos levou outros gêneros à cena, nos quais desempenharam papel Alexandre Dias Maciel, Otávio Borges e Antenor de Casuca. Ainda na década de 1920 visitaram Patos de Minas Los Carolinos e a artista Conceição Lemos. Em 1920 e 1921 foi representada a peça Flores de Sombra, escrita por Cláudio de Souza, membro da Academia Brasileira de Letras. Nela trabalharam como artistas principais: Sisenando Borges, José Gonçalves de Amorim e Maria Maroquina Borges.

Em 1935 Dr. Antônio Dias Maciel escreveu e dirigiu um pequeno drama intitulado Bebi para Esquecer. A peça compõe-se apenas de um ato e sete cenas. Nela só figuram três personagens: Flávio, de 38 anos, Dilke, sua filha de 14, e Mauro, irmão de Dilke, de 11. Desempenharam esses papéis, respectivamente: Randolfo Borges Mundim, D.ª Benvinda e D.ª Ada Magalhães. Esta última formou-se com a primeira turma de professorandas da Escola Normal Oficial. Eram 9 alunas mestras e D.ª Ada foi a primeira a receber o diploma no dia da formatura. Na peça escrita pelo Dr. Antônio Dias Maciel, os méritos não pertencem propriamente ao texto, ao drama em si, que é pobre e contraditoriamente desenvolvido. Os méritos estão em que o Dr. Antônio Maciel venceu as condições culturais do seu meio e conseguiu publicar um folhetozinho com uma peça teatral. O assunto do pequeno drama se desenvolve em torno de uma família cuja mãe falecera por desgosto pelo comportamento inveterado do marido à bebida alcoólica. No trabalho, não se fica sabendo bem se o viúvo bebia para esquecer ou para ter diante de si a imagem da esposa. Os filhos, aproveitando-se da ausência do pai, também se embebedam para poderem esquecer a imagem querida da mãe. Desperta a atenção na peça o fato de a menina discutir métodos de ensino com o pai, inclusive falar do centro de interesse belga Decroly. O drama tem intuito moralizante. Ao final Flávio retoma o bom caminho e diz: “Oh! Deus de toda grandeza! Transforma todas as minhas fraquezas em forças vivas para as minhas atividades futuras. Que meus lábios, que pronunciam neste instante o Teu nome, não se envenenem mais com bebidas alcoólicas”.

Mais ou menos em 1936 levou-se à cena a opereta infantil O Sonho de Terezinha. Os papéis foram representados por Marta Alves de Oliveira, Rachel Borges de Queiroz e Palmira Borges. Em 1942 o Prof. Aguinaldo Alves de Magalhães dirige Onde está o Sujeito?, uma espécie de revista. Nos papéis trabalharam Amália Ferreira Maciel Santana e Carmen Lúcia Magalhães (Miúça). Várias representações cênicas de caráter religioso aconteceram na Igreja do Rosário, durante as comemorações da Festa de São João.

Dando um salto no tempo, durante a VII Semana dos Estudantes, realizada em 1967, duas peças foram representadas. Uma pela CEDAE – Centro de Estudos e Debates e Ação Educativa que fez representar Crime Sem Sangue. Outro grupo de jovens encenou Quem Casa quer Casa, de Martins pena, o criador da nossa Comédia de Costumes. No ano de 1968, nossa cidade tornou-se palco teatral para o TEB – Teatro Estudantil Brasiliense, com a peça Então, Doutor.

Um grupo liderado por Vicente Nepomuceno estava ensaiando a peça Os Transviados, de Amaral Gurgel, para apresentação no dia 12 de outubro de 1968. Durante os ensaios surgiu a ideia da fundação de um grêmio teatral em Patos de Minas, com o objetivo de incentivo do teatro e cultura em nosso meio. E, animados, diante do êxito da apresentação, Vicente Nepomuceno, Sebastião Pereira, Gui Dias Maciel, Mafalda Nepomuceno, Eduardo Queiroz Ribeiro, Antônio Porfírio, Elismar Campos, Geraldo Humberto de Araújo Caixeta, Hilário Fernandes e Rafael Borges de Andrade, fundaram o TAPA – Teatro Amador Patense.

Apesar de a entidade ainda não estar organizada, continuam com as suas apresentações teatrais, e, no dia 13 de novembro de 1968, levam à cena Testemunha de Acusação, de Ágata Christie, com amplo sucesso, havendo reprise no Cine Riviera, com a casa completamente lotada. Em 8 de fevereiro de 1969 é apresentado Pigmaleoa, de Millôr Fernandes. Em princípios de 1970, O Embarque de Noé, de Maria Clara Machado. O TAPA considera-se oficialmente fundado na sua reunião de 21 de junho de 1969, quando se elegeu a sua primeira diretoria. Sebastião Pereira foi seu primeiro diretor e a direção artística coube a Vicente Nepomuceno.

* 1: Leia “14 de Julho: O 1.º Teatro e Sua Efêmera Existência”.

* Fonte: Texto de Altamir Pereira da Fonseca.

* Foto: Artesanosdelcarnaval.com, meramente ilustrativa.

Compartilhe