PINDAÍBAS: ADVERSIDADES EM 1995

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Localizado a 36 quilômetros da sede do município, Pindaíbas ganhou nos últimos anos a fama de ser um dos distritos mais problemáticos para os prefeitos que já administraram Patos de Minas. Lugar de espírito contraditório, o povoado diverge até do significado de seu próprio nome, por não refletir literalmente a essência da palavra “pindaíbas” no contexto sócio-econômico de sua população. “Aqui não existe só gente rica, mas também não somos miseráveis”, contesta um morador do povoado. O distrito desfruta de uma infra-estrutura razoável, com sistema de abastecimento d’água, eletrificação e telefonia. Possui um bom prédio escolar, Posto de Saúde, Posto Policial e Salão Comunitário. Tem ainda ruas asfaltadas, quadra poliesportiva e outros equipamentos urbanos, que normalmente não são encontrados na maioria das localidades rurais. Nem por isso, sua população resigna-se à condição passiva de acomodar-se diante dos problemas que, apesar de tudo, ainda enfrenta.

Eleito presidente do Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Pindaíbas em dezembro do ano passado, Antônio Soares Filho desfia um rosário de deficiências que aflige os moradores do povoado. Ele cobra, por exemplo, um melhor funcionamento do Posto de Saúde. Diz que o local fica o tempo todo fechado e teme que possa ser desativado por falta de atendente. “Não há medicamentos nem para dor de barriga”, lamenta. As condições de moradia é outra preocupação do presidente, que já providenciou a inclusão do distrito num programa de reforma e ampliação de imóveis visando beneficiar quarenta famílias de baixa renda. “Esperamos que o Estado participe com 50%, a Prefeitura com 30% e a comunidade com 20% dos recursos previstos para esta obra social”, esclarece. No setor de eletrificação, sua expectativa é obter a instalação de sete postes objetivando levar energia elétrica a 10 casas que ainda não contam com este benefício no povoado.

O abastecimento d’água também é precário em Pindaíbas. Funciona com um reservatório de 48 mil litros e supre 250 moradias através de ligações oficiais. “Deve haver mais de 130 cavaletes clandestinos”, imagina Soares. Com relação ao problema de telefonia, a esperança é quanto a melhoria do sistema. “Aqui todo mundo escuta as ligações de todo mundo”, critica o presidente do Conselho. O empresário Olegário Caetano Porto, que tem fazenda próximo ao povoado, e o ex-vereador Abílio Costa, doaram um terreno para a construção de uma nova subestação. A CTBC aguarda apenas a regulamentação da área para iniciar a obra, implantar uma sistema via rádio, melhorar a qualidade do serviço e ampliar o número de aparelhos que, hoje, é de 28 telefones instalados no distrito.

SOLUÇÃO – Assim que assumiu a direção da entidade, o novo presidente do Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Pindaíbas procurou solucionar o mais grave problema que aflige aquela comunidade. No final do ano passado foi suspenso o policiamento que ali existia. A segurança ficava a cargo de um cabo e dois soldados, que acabaram sendo recolhidos pelo comando do 15.º BPM, por falta de moradia para os policiais. “Há doze anos havia uma promessa de se construir as casas para os elementos do destacamento”, lembra Soares. Além do próprio povoado, o policiamento abrangia também o distrito de Areado e inúmeras localidades adjacentes.

Graças ao apoio do deputado Hely Tarquínio, que doou R$ 3 mil, e a iniciativa da própria comunidade, duas casas foram construídas para abrigar os policiais, que deverão retornar brevemente ao distrito. Desta forma, encontrou-se a solução para falta de segurança que abateu-se sobre o povoado após a retirada do policiamento. “Agora não teremos mais problemas de arruaças, brigas e confusões”, alegra-se o presidente do Conselho.

MERENDA – Fundada em 1965, a Escola Estadual Professor José Paulo de Amorim¹, funciona atualmente num excelente prédio, inaugurado em 1983. Suas sete salas de aula são ocupadas por cerca de 120 alunos do primário, 270 do ginasial e 45 do colegial. O educandário conta com um quadro aproximado de 30 professores. Os que não residem no povoado bancam sozinhos as despesas com transporte, hospedagem e alimentação. Isto dificulta muito a manutenção do quadro, principalmente, na área dos que lecionam para os alunos do 2.º grau. “Sempre temos falta de professores nesta área”, diz a secretária da escola, Maria de Fátima Mota.

Outro sério problema enfrentado pela escola é a falta de merenda escolar. Por pertencer ao Estado, a instituição não vem recebendo regularmente o suprimento da merenda. A justificativa é de que Pindaíbas está fora da rota de distribuição da merenda. A própria direção da escola tem de se encarregar do transporte do suprimento. O presidente do Conselho Comunitário estranha este fato, pois a merenda é entregue normalmente em outras escolas da região. Mesmo diante das adversidades, a qualidade do ensino da Escola Estadual José Paulo de Amorim é considerada excelente. “Vários de meus alunos já passaram no vestibular”, atesta um de seus professores.

PASSADO – Durante a década de 70 Pindaíbas experimentou um período de intensa efervescência econômica. Quem relata este passado é João Duca Ribeiro, antigo morador do lugar. Ele lembra que na época o povoado contava com lojas, comércios movimentados e duas farmácias. Tinha também um moinho para fabricação de fubá, beneficiadora de arroz e uma indústria de beneficiamento e ensacamento de feijão. “Era um tempo de grande movimento”, recorda. João Duca lembra que muitos comerciantes da cidade faziam negócios em Pindaíbas. “Os caminhões saiam daqui carregados de mantimentos”, diz ele. A compra e venda de gado também era outra atividade bastante comum naqueles tempos. “O povo comprava e vendia de tudo em Pindaíbas”, rememora João Duca.

O próprio João Duca tem uma explicação para a trágica mudança da economia local. “Foi tudo por causa da política”, acusa. Até a última legislação, Pindaíbas contava com um representante na Câmara Municipal. Era o ex-vereador Abílio Costa, do PFL. Ele perdeu a eleição de 1992 e o povoado não conseguiu eleger outro. Naquele pleito mais de trinta candidatos a vereador tiveram votos no povoado. Hoje, o representante de Pindaíbas na Câmara é o vereador Hilário André Oliveira (PMDB). Ele obteve em torno de 130 votos no distrito, mas não tem conseguido muitas coisas para o povoado. “Tivemos cinco candidatos daqui e isto atrapalhou tudo”, lembra João Duca. Há agora um movimento do próprio Conselho Comunitário no sentido de mobilizar os eleitores para votar em apenas um nome na próxima eleição, com o objetivo de garantir a vaga de um representante de Pindaíbas na Câmara Municipal. “Um não pode querer puxar o tapete do outro”, alerta João Duca.

INTERESSE – Para o ex-presidente do Conselho Comunitário de Pindaíbas, Adélio Almerio Soares, faltou empenho da própria população para que a comunidade obtivesse mais benefícios durante os quatro anos em que ele dirigiu a entidade. “Construímos o novo Posto de Saúde, ganhamos rede de esgoto e urbanizamos a praça, mas poderíamos ter feito mais coisas”, admite. Adélio diz que muitas obras reivindicadas não foram concretizadas, como é o caso dos passeios e meios fios da praça, saneamento e asfaltamento de ruas periféricas. “Acho que faltou mais interesse do povo”, resigna-se. Ele reclama também da má vontade dos próprios interessados na viabilização do Projeto Mutirão, que através da Cemig solucionaria o problema de eletrificação para as famílias pobres do povoado. “A comunidade não teve interesse nem no programa de inseminação artificial, que vingou em outras localidades”, lamenta.

O ex-presidente do Conselho viabilizou alguns programas muito importantes. Implantou o programa de apicultura e cursos de fabricação de doces caseiros. Também viabilizou a montagem de uma padaria comunitária. Foram instalados forno, cilindro e todo o equipamento complementar. A unidade funcionou com a participação de oito sócios, mas acabou sendo desativada por falta de empenho dos envolvidos no projeto. Com um certo resquício de mágoa, Adélio Soares garante que fez de tudo para contribuir com o desenvolvimento da comunidade. Ele acha que foi uma boa experiência dirigir o Conselho Comunitário de Pindaíbas. Mas diz que não tem mais vontade de voltar o ocupar o cargo. “Só se mudar muita coisa”, responde quando indagado sobre esta possibilidade.

O SANTEIRO – Uma boa atração para quem vai à Pindaíbas é visitar a casa de Sebastião Fernandes Santiago². Depois de se aposentar em 1976 ele acabou virando escultor e passou a ser conhecido no povoado como “Tião Santeiro”. Começou esculpindo miniaturas de carros de boi e, depois, especializou-se em produzir imagens sacras. Sebastião só trabalha por encomenda e já tem peças espalhadas em várias cidades do país. Foi ele quem esculpiu a imagem do grande Cristo crucificado da Igreja do Rosário. Gastou quase três meses entalhando a peça, que tem 2,10 m de altura. Também é dele a imagem de Cristo exposta na Igreja de São Geraldo. Fica orgulhoso quando fala de um dos seus mais importantes trabalhos. É a imagem de uma santa que acabou sendo levada para a China pela família que encomendou-lhe a peça.

A arte de Tião Santeiro já está passando de pai para filho. Seu caçula Heli, de 15 anos, segue os passos do pai, dominando o formão com surpreendente habilidade. O mais velho, Heleno, de 18 anos, já domina a técnica com a mesma maestria produzindo miniaturas de carros de boi. Um detalhe interessante: as peças são trabalhadas em cedro obtido na própria região de Pindaíbas.

* 1: Leia “Escola Municipal José Paulo de Amorim” e “José Paulo de Amorim”.

* 2: Leia “Antiga Residência do Escultor Sebastião Santeiro”, “Sebastião Fernandes Santiago, o Sebastião Santeiro” e “Sebastião Fernandes Santiago (Sebastião Santeiro) Deixa Saudades”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Terra do Contra” e subtítulo “Distrito não reflete o significado do nome” na edição n.º 08 de abril/1995 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

* Foto: De Eitel Teixeira Dannemann, publicada em 11/08/2016 com o título “Antiga Residência do Escultor Sebastião Santeiro”.

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