SANTANA DE PATOS: ADVERSIDADES EM 1995

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Terra de quatro ex-prefeitos e inúmeros vereadores que já passaram pela Câmara Municipal de Patos de Minas Santana de Patos é o mais antigo distrito do município. Situado a 36 quilômetros da cidade, sua história se confunde com a própria história de Patos de Minas, desde os primórdios da criação do arraial de Santo Antônio dos Patos. “Aqui nasceram Vicente Mandu, Genésio Garcia, Pedro Pereira dos Santos e Antônio do Valle”, lembra o presidente do Conselho Comunitário de Santana, Valmir Guimarães. Nas últimas eleições municipais [1992], o ex-vereador Abílio Gomes (PMDB), que possui fazenda naquela região, foi o mais votado no distrito, onde recebeu 286 votos, mas não foi reeleito. Hoje [1995], Santana recebe assistência legislativa dos vereadores Valter Carneiro (PL) e Vicente Caixeta (PMDB), líder do prefeito na Câmara. “Eles tentam fazer alguma coisa, mas nem sempre é possível”, diz Valmir. Segundo ele, Santana é vítima de ciúmes porque os líderes de outras localidades rurais acham que o distrito é muito privilegiado pela Administração Municipal. “Quem me falou isso foi o próprio Jarbas Cambraia”, revela.

Quem sabe contar as coisas de Santana de Patos é o comerciante Leonel Simão Vieira, o popular Godó. Ele possui um bar há 21 anos na praça principal do povoado. Acredita que a igreja do distrito deve ter sido construída há cerca de 180 anos. “Esta praça aqui já foi cemitério”, recorda apontando os antigos muros de pedra que existem no local. Na igreja, há missa quinzenalmente, com cultos celebrados pelo Padre Israel, da paróquia de Guimarânia. Quatro festas são promovidas todos os anos em Santana. No mês de janeiro tem a festa de São Sebastião, em maio, a Festa do Divino, em julho a festa da Padroeira, Nossa Senhora de Santana e, em outubro, se comemora o dia de Nossa Senhora do Rosário, com apresentação de grupos de moçambiques.

Outra pessoa que vive os acontecimentos de Santana é o também comerciante, João Batista Simão, conhecido como Tito. Ele já participou do Conselho Comunitário do distrito e diz que ainda falta muita coisa para melhorar as condições de vida da população do povoado. “Nossa escola só conta com o primário e ginasial”, reclama. Tito acha que, apesar de possuir uma boa estrutura urbana, Santana ainda carece de mais assistência das autoridades, principalmente, no que se refere à falta de saneamento básico.

TRABALHO E PRODUTIVIDADE – Cercada por magníficas propriedades rurais, a exemplo dos demais distritos, Santana tem sua base econômica nas atividades agrícolas e produção da pecuária leiteira. Nos arredores do distrito estão concentrados grandes produtores rurais como o empresário Hélio Amorim, o fazendeiro Cláudio Carvalho, filho do ex-presidente do Sindicato Rural José Ribeiro de Carvalho e algumas importantes empresas ruralistas. O técnico agrícola Geraldo Eustáquio Bernardes, que administra as fazendas de Cláudio Carvalho, entende que a região é altamente produtiva. No total, ele cuida de 11 propriedades que, somadas, compreendem uma área de 4.100 hectares.

Segundo o administrador, essas propriedades investem essencialmente na produção de soja e milho. “Geramos cerca de 150 empregos diretos e indiretos, contratando trabalhadores em Patos de Minas, Santana e Vieiras”, ressalta. Este ano, a produção foi dividida em 3.400 hectares de soja e o restante em milho. O técnico agrícola garante que todos os trabalhadores são legalizados, com registro em carteira e recolhimento de obrigações sociais. “Os tratoristas recebem na faixa de 2 a 3 salários mínimos e os demais são mensalistas, retirando entre 1 e meio e dois salários”, afirma. Além da produção agrícola, Santana prima também pela produção leiteira. Das ordenhas de Hélio Amorim, saem boa parte do leite que é industrializado pelo Laticínio Nevada.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES – “O paraíso não é aqui”, alerta o presidente do Conselho Comunitário de Santana, Valmir Guimarães. Segundo ele, o distrito enfrenta sérios problemas nas áreas de saúde, telefonia, segurança e, acima de tudo, no setor de saneamento básico. Apenas suas ruas centrais são asfaltadas. As demais vivem cheias de buracos e carecem de urgente estruturação urbana. “Só sintonizamos a TV Globo e, mesmo assim, ela costuma apresentar problemas de retransmissão”, observa, cobrando a instalação de uma torre para captação de novos canais no povoado. Santana de Patos conta com cerca de 250 casas e nem todas são servidas pelos sistemas de distribuição de água. A rede de esgoto também é deficiente e uma grande parte do perímetro urbano não dispõe deste equipamento. “Muitas famílias ainda dependem de fossas”, diz Valmir.

Servida pelas empresas São Cristóvão e Gontijo, Santana de Patos conta com quatro horários de ônibus para a sede do município. Na segunda-feira sempre tem reforço, mas durante a semana muitos passageiros viajam em pé. Além disso, os moradores cobram a criação de mais um horário no período da manhã, já que só contam com ônibus às 9 horas com destino a Patos de Minas. O sistema de segurança é feito por dois soldados e um cabo. O posto policial ganhou uma viatura, mas o veículo precisa ser reformado e se encontra no 15.º BPM a espera de conserto. O prédio da Escola Estadual Juca Mandu possui oito salas de aula e 10 professores, além da diretora Marli Alves. Ele abriga 150 alunos do primário e ginasial. Os estudantes do segundo grau são transportados pela Kombi do Conselho Comunitário para a escola de Guimarânia. A frequência de médicos no Posto de Saúde é mensal. Falta atendimento odontológico. “Também falta medicamentos e não temos nem material para curativos”, lamenta Valmir, lembrando que Santana não possui farmácia.

CENTRO COMUNITÁRIO – Já com seu mandato vencido, Valmir Guimarães não tem mais esperança de ver concretizado em sua gestão uma das mais importantes obras que ele considera para Santana de Patos. É a construção do Centro Comunitário. “Temos o terreno, areia, pedra, alguns tijolos, ferragens e cimento”, diz. “Só falta recursos para iniciarmos a obra”, complementa, desolado. O terreno fica na praça central do povoado e é dotado de toda infra-estrutura urbana. A idéia, é de que o centro seja construído para que possa abrigar também uma creche. Muitas mulheres trabalham na lavoura e precisam ter onde deixar seus filhos. “É inconcebível a gente não ter uma creche”, lamenta outro membro do Conselho.

A falta de alunos para a instalação do segundo grau em Santana de Patos é imputada principalmente a precariedade da ponte de madeira que liga o distrito à localidade de Campo Alegre, no município de Lagoa Formosa. “De lá, poderiam vir os estudantes que faltam para completar o número de alunos necessários à implantação do curso”, ressalta Valmir. Aliás, a tal ponte, dificulta até o transporte de trabalhadores que atuam nas lavouras de Santana. Nela só se pode passar a pé, porque sua estrutura não sustenta nem o peso de um automóvel. Por causo disso, é necessário dar uma imensa volta para completar o percurso. Este fato representa ainda um sério obstáculo ao escoamento da produção agrícola da outra margem do Rio Paranaíba.

No setor de habitação, o problema enfrentado por Santana de Patos é semelhante ao de outras localidades rurais do município de Patos de Minas. Duas fazendas impedem a expansão do perímetro urbano do distrito. Não há terrenos de domínio público para que o povoado seja enquadrado nos programas de habitação popular desenvolvidos pelo estado. “Existem recursos previstos nos orçamentos do Estado e do Município, mas acho difícil que eles sejam liberados”, diz Valmir, salientando que a construção de pelo menos 30 casas populares remediaria o problema da habitação no distrito.

CABO ELEITORAL – Existe um homem em Santana de Patos que é tido como uma das mais polêmicas figuras políticas do lugar. Seu nome é Orestes Noronha e ele chegou ao povoado em 1972 com fama de ser muito bravo. Orestes é dono de uma cerâmica que funciona no distrito, gerando cerca de 15 empregos. “Fabricamos cerca de 4.000 tijolos da melhor qualidade por mês”, ressalta ele, que possui também uma pequena serraria no fundo se sua casa. Como fundador do Conselho Comunitário, Orestes conhece a fundo os problemas de Santana. “Temos muito para melhorar mais o povoado”, salienta. “Não conheço Jarbas Cambraia, mas ele está nos causando uma má impressão”, cobra Orestes se referindo ao atual prefeito.

Na sua opinião, uma das prioridades do distrito é a ampliação do sistema de abastecimento de água. “Tem casa que só recebe água duas horas por dia”, critica. A complementação asfáltica no perímetro urbano do distrito é outra cobrança de Orestes. “Vejam só a buraqueira que existe na mina rua e nas ruas vizinhas”, aponta. “Aqui, quando chove, não passa nem trator”, exagera.

Sô Orestes foi candidato a vereador pelo PT em 1982 e perdeu, apesar de ter sido o mais votado em Santana. Transpira seu espírito de oposição, mas diz que está sempre aberto ao diálogo. Seu maior feito foi fundar, organizar e legalizar o Conselho Comunitário, cujo primeiro presidente foi seu filho. Nas eleições de 1986 apoiou o ex-vereador Romero Santos como candidato a deputado estadual. Naquela oportunidade, Romero foi o candidato mais votado em Santana, ganhando de Bernardo Rubinger, Elmiro Nascimento e Hely Tarquínio. Tido como um forte cabo eleitoral, ele não quer mais saber de militância ativa na política. Nem por isso deixa de agir como um líder a serviço da comunidade, sempre procurando soluções para os problemas de Santana.

* Fonte e foto: Texto publicado com o título “O Paraíso não é aqui” e subtítulo “Santana é vítima de ciúmes dos outros distritos” na edição de fevereiro-março/1995 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

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