BOLO GOSMENTO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Todo mundo sabe que qualquer tipo de festa é fator de concorrência entre as famílias mais abastadas da cidade. Fulano que tem uma mansão no Alto Caiçaras promove uma baita festa. Então, o fulano que tem uma mansão no Sobradinho não quer ficar para trás e promove uma festa melhor que a outra. Aí, o que reside no Abílio Caixeta não fica para trás e pimba, festa mais chique ainda. É mais ou menos assim que a banda toca entre eles.

Houve uma festa de aniversário de 5 anos do filho de um rico empresário que mora no centro. A grande residência estava recheada de convidados, com comida e bebida da primeira qualidade. O cenário, que representava o salão do castelo onde morou Branca de Neve depois do beijo salvador, foi elaborado por um entendido importado de Belo Horizonte. Só de garçom tinha uns vinte. Ah, não faltou anões vestindo roupas dos sete anões. Estes foram contratados por aqui mesmo. O bolo era cinematográfico, ocupando uma mesa no meio da imensa sala.

O catarrento aniversariante era daqueles em que não se podia nem encostar as mãos porque invariavelmente sua boca cheia de dentes soltava um palavrão. Obviamente os pais, familiares, amigos e os puxa-sacos tradicionais diziam quase juntos: – Que gracinha! O tempo foi passando e eis o grande momento dos parabéns. Lembra que o cenário era do castelo da Branca de Neve? Pois se tem castelo tem trono. E lá estava o trono, onde foi postado o menino para que ele apagasse as cinco velinhas. Já ia começar as palmas quando foi anunciada a presença de um casal de parentes vindos de Belo Horizonte especialmente para a festa. A família pediu licença e foi receber os recém-chegados. Na sala em volta do bolo ficaram a turba chique e o menino sentado no trono.

Foi questão de um a dois minutos. Apenas alguns cochichos no ar, e o que começou a dominar o ambiente foi o som do garotinho fazendo menção de espirrar. Ele fez que ia e não foi. Fez a segunda e falhou. Mais de 200 olhos apreciavam aquele momento de indecisão. Até que, finalmente, o menino deu um daqueles espirros igualzinho ao esguicho da fonte luminosa da Praça Antônio Dias. O que? Ah, sim, você quer saber qual foi o alvo do espirro. Adivinha! Na mosca: o bolo, que ficou todo melecado, mas parecendo calda de jaca.

Os convidados, todos eles, olhavam uns para os outros sem saber o que fazer. Aliás, não deu tempo para os presentes pensarem no que fazer, pois logo os familiares voltaram, todos cantaram os parabéns, cortaram o bolo, serviram e todo mundo, para não fazer desfeita, teve que comer o indigesto bolo. E a festa varou a madrugada. Isso aconteceu há muitos anos, e até hoje tem gente que não pode nem olhar pra qualquer tipo de bolo porque o vômito é inevitável.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

Compartilhe