CARNAVAL DE 1996: POLÊMICAS E CONTROVÉRSIAS

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

A promoção do Carnaval de Patos de Minas este ano foi marcada por muitas polêmicas e controvérsias, que acabaram mexendo de forma incisiva na essência do evento.  A expectativa era de que, em 1996, o Carnaval superasse a programação do ano passado, que também apresentou muitas falhas. Esta hipótese desabou quando o prefeito Jarbas Cambraia anunciou que a administração municipal não dispunha de recursos para investir nas escolas de samba. Imediatamente, os dirigentes das agremiações carnavalescas botaram a boca no trombone. Os mais radicais chegaram a acusar o prefeito de estar escondendo verbas para a campanha eleitoral, já de olho nas eleições municipais no próximo dia 3 de outubro. Já os carnavalescos mais comedidos ainda tentaram sensibilizar Cambraia para a importância da realização dos desfiles das escolas. O esforço foi em vão. O prefeito alegou deficiência orçamentária e queda na receita do município para manter sua decisão de não liberar os recursos para as escolas, estimados, inicialmente, em cerca de no mínimo 5 mil reais para cada agremiação. Assim, as escolas Muda Brasil, Lagoa Azul, Unidos do Alvorada e Acadêmicos do Samba, não conseguiram viabilizar o desfile. “Isto é o fim das escolas e, consequentemente, a morte do Carnaval de Patos”, indignou-se um carnavalesco desiludido com a possibilidade de haver desfile nos próximos anos.

Para a Comissão Organizadora do Carnaval, formada pelo secretário municipal da Fazenda, Manoel Mendes (Pompéia), a chefe da Divisão de Cultura, Elsa Guedes e a secretária municipal de educação, Marluce Martins, as escolas também contribuíram para o fim do desfile. É que, como nos anos anteriores, as agremiações nada fizeram para arrecadar recursos e ficaram aguardando apenas o dinheiro da Prefeitura para bancar seus desfiles. Em outras palavras, os membros da comissão entendem que as escolas foram vítimas da própria desorganização. Afinal, nos 14 anos de existência do desfile, até hoje nenhuma das agremiações conseguiu ser independente o bastante para caminhar com suas próprias pernas.

O dito pelo o não dito – A maior controvérsia da programação do Carnaval de Patos de Minas foi a tomada de decisão quanto ao local de realização do evento. Numa reunião mantida com a imprensa na sexta-feira, dia 9, a Comissão Organizadora do Carnaval definiu que o mesmo seria realizado no parque de Exposições. O motivo alegado para a mudança do local foi a frágil estrutura notada no centro da cidade, com a falta de sanitários disponíveis para o grande público. “Ao longo dos anos recebemos centenas de reclamações contra os foliões nesse período”, justificou Pompéia. Moradores e comerciantes do centro enfrentam dificuldades para conter os vândalos e foliões que saem em busca de um banheiro. “Eles fazem suas necessidades em qualquer lugar, até mesmo nos quintais de nossas casas”, reclamou um deles. Quando já parecia definida a mudança do Carnaval para o Parque de Exposições, o quadro foi bruscamente revertido. Numa inesperada pirueta, o evento acabou retornando ao seu local de origem, ficando o dito pelo o não dito.

A mudança aconteceu graças a uma indicação aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal na noite de segunda-feira (12). Atendendo reivindicações de elementos do movimento cultural e de antigos membros do extinto Clubinho Carnavalesco, os vereadores encaminharam a indicação para o prefeito Jarbas Cambraia. Na manhã de terça-feira (13), o prefeito decidiu atender os vereadores, mas fez uma ressalva. O trio elétrico não poderá fazer ponto na travessia da Major Gote com Olegário Maciel, como aconteceu nos anos anteriores. Com a recente alteração no trânsito, é inadmissível a hipótese de interditar aquele trecho da rua Olegário Maciel que, hoje, se transformou na principal via de tráfego da área central. Até o início desta semana, ainda se discutia sobre qual o local mais adequado para estacionar o trio elétrico. Um dos pontos indicado pelo prefeito foi a esquina da rua Major Gote com a rua General Osório, em frente a Sociedade Recreativa.

Bafafá na licitação – Outra polêmica que marcou a organização do Carnaval/96 foi a licitação para a escolha do trio elétrico que animará os bailes populares. Aberta a uma semana do Carnaval, a licitação contou com cinco empresas participantes. Antes mesmo da abertura dos envelopes, a empresa Eventos Produções Artísticas impugnou a licitação, alegando que alguns concorrentes estavam inabilitados perante a lei 8.666, que trata das concorrências públicas. A alegação era infundada e o recurso foi retirado. O representante da empresa, Elenísio Barcala, de B.H., fez um grande jogo de cena, provocando o maior bafafá, para mais tarde ser desmascarado. “Ele não tinha sequer autorização para falar em nome da firma que dizia representar”, confirmou o presidente da Comissão de Licitação, Andalécio Silvério de Lima. Com pinta de super produtor, Barcala aportou em Patos de Minas sem ter ao menos dinheiro para voltar para Belo Horizonte. Após a abertura dos envelopes descobriu-se que o seu preço, no total de 52 mil reais, era o mais alto da licitação. A empresa vencedora foi a EMC/2, de propriedade do patense Edson Morais Campos, com o valor de 17 mil reais.

A segunda etapa da concorrência gerou mais dores de cabeça para a Comissão Organizadora do carnaval. No edital publicado pela Prefeitura, ficou definido que a empresa vencedora da licitação só assumiria o serviço após a vistoria dos equipamentos, confirmação dos registros de contratos firmados com os músicos e avaliação do caminhão do trio elétrico. A empresa vencedora pediu prazo para cumprir essas exigências. No sábado, dia 10, Edson Morais assinou declaração afirmando não ter condições de cumprir as exigências do edital., fato confirmado pelos organizadores do evento. A empresa não contava com músicos regulamentados, o equipamento de som também não foi apresentado e o caminhão indicado por Edson Morais era apenas um chassi de uma carreta a espera de reparos na oficina do Trucks Hélio. “Não poderíamos nos arriscar com a hipótese da empresa não conseguir fazer um bom Carnaval”, diz Manoel Mendes. Sua preocupação tem fundamento. Com tantas piruetas no Carnaval/96, a reação do público poderá ser inesperada se o trio elétrico contratado não for satisfatório em termos de som e banda. Na segunda-feira, dia 12, o presidente da Comissão de Licitação, desclassificou a EMC/2 e passou o serviço para a segunda empresa colocada na concorrência, a Planáudio, com o preço de 25 mil reais. Vistoriada pela Comissão organizadora do Carnaval, a Planáudio demonstrou totais condições de realizar o evento.

Na mesma segunda-feira, seu trio elétrico já estava montado, os músicos contratados e devidamente registrados. Com isso, os bailes populares voltam a ser animados por músicos patenses através da Banda Convés, que já estava ensaiando um repertório variado para embalar os foliões.

* Fonte: Texto publicado com o título “Piruetas no Samba” e subtítulo “Polêmicas e controvérsias no Carnaval/96” na edição n.º 16 de janeiro-fevereiro/1996 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

* Foto: Montagem meramente ilustrativa.

Compartilhe