QUANDO O “BREJO” ERA PROBLEMA

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Nos idos tempos, Patos de Minas era uma cidade de clima acentuadamente úmido em virtude da grande lagoa existente na cidade, que inclusive gerou o nome por causa da grande quantidade de palmípedes selvagens nela existentes. Esta lagoa ia desde os fundos do HNSF até as imediações da Cadeia, sendo o Bairro Rosário (antigo Bairro da Lagoa) ligado à cidade pela ponte da Cadeia, senão os habitantes teriam que dar a volta pela Rua Major Jerônimo para atingir o centro¹. A umidade proporcionada pela lagoa provocava na época do frio uma intensa cerração que cobria quase toda a cidade. Com o tempo, a especulação imobiliária foi diminuindo o espelho d’água da lagoa até que ela secou, restando um brejo, estágio pelo qual está passando atualmente a Lagoa do Patão. O brejo foi diminuído com a construção do campo do Mamoré, restando uma pequena via fluvial abastecida pelos heroicos olhos d’água remanescentes, naturalmente batizada de Córrego do Mamoré.

Além do campo do Mamoré, foram construídos ao redor da extinta lagoa o Mercado Municipal e o Hospital Nossa Senhora de Fátima. O Córrego se transformou numa verdadeira via de acesso ao esgoto e dejetos produzidos por aqueles estabelecimentos e pelas casas no seu entorno, tornando-se fétido e insalubre, propiciando o surgimento de problemas de saúde à população. Em março de 1961, o Jornal dos Municípios noticiou um caso de Tifo originário do fatídico brejo:

Apareceu o primeiro caso de tifo na cidade. O fóco, segundo apuramos é oriundo dos esgotos do “Brejo”.

Com efeito, o grave problema, por nós apontado em diversas notas, neste jornal, ainda está desafiando a “boa vontade” de nossas autoridades sanitárias e municipais. Não existe captação no “brejo” e, as fezes e sugidades, que vêm do mercado, da Casa de Saúde N. S. de Fátima e residências visinhas, infestam o “córrego”, provocando o fóco, de tifo.

O mau cheiro ocasionado pela paralização de água e entulhos está pondo em perigo a saúde dos moradores, ribeirinhos ao “córrego”, motivo pelo qual as famílias estão apreensivas, ante o aparecimento do primeiro caso de tifo.

O menor que foi atacado de febre tifóide é filho do Sr. Pedro da Silva Vida que, ao constatar a moléstia, procurou as autoridades sanitárias e municipais, no sentido de comunicar o fato e pedir providências urgentes.

Como se sabe, a febre tífica, vulgarmente chamada de “Tifo”, é doença infecto-contagiosa de evolução aguda, causada por um germe específico, o bacilo de Eberth. O doente é o principal fator de disseminação do mal.

MÔSCAS

As môscas podem transportar, das dejeções e secreções dos doentes para os alimentos e objetos, o germe da febre tífica. Por isso é preciso destruí-las ou, pelo menos, impedir seu contacto com alimentos, vasilhame e outros objetos de uso doméstico. No combate à febre tífica, o extermínio das môscas é medida particularmente útil.

APÊLO

“Jornal dos Municípios”, interpretando à apreensão da população patense, faz um veemente apêlo às autoridades sanitárias e municipais, no sentido de se tomarem medidas urgentes e enérgicas para se debelar, logo no início, este perigoso foco de febre tifóide. O Serviço de Endemias Rurais poderá tomar a si a incumbência de debelar o foco de môscas que aos milhões, proliferam, ali mesmo, nos fundos da casa de Saúde N. S. de Fátima. O perigo é iminente. Providências devem ser tomadas.

Há de se atentar para a informação de que foi o 1.º caso de Tifo da cidade. Óbvio que não foi o 1.º caso, pois em priscas eras o patense já conhecia a doença. Quem sabe o jornal queria se referir ao 1.º caso proporcionado pelo brejo insalubre. A situação só começou a ser solucionada a partir de 1977. O córrego foi canalizado em seu trajeto original, começando pela Rua Maestro Randolfo. Após cruzar a Avenida Paracatu, encontra-se com o Córrego da Cadeia, desce pela atual Avenida Padre Almir Neves de Medeiros, indo encerrar o percurso no Rio Paranaíba, no Bairro Copacabana.

* 1: Leia “Lagoa do Sítio Os Patos”, “Panorâmica na Década de 1940 com a Antiga Matriz, a Cadeia, a Igreja do Rosário e a Lagoa dos Patos” e “Panorâmica na Década de 1940 com a Lagoa dos Patos”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Texto publicado com o título “Caso de Tifo na Cidade” e subtítulo “Em estado grave um menor – Providências pedidas” na edição de 26 de março de 1961 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em tamanho original em 04/12/2013 com o título “Panorâmica do Final da Década de 1950 – 2”. Em destaques o campo do Mamoré e a Rua Major Gote.

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